sábado, junho 30, 2018

MUNDIAL À LUPA: Cavani levou Portugal a dar voltas no carrossel


Acabou o sonho luso! Fernando Santos montou uma equipa para jogar em transições rápidas, com Guedes de novo a titular e a novidade Ricardo no lado direito, que poderia dar outra velocidade nesse processo. O problema é que a igualdade no marcador durou apenas, por duas vezes, sete minutos. Tanto no 1-0 como no 2-1. Ou seja, a estratégia montada praticamente não teve hipótese de ser aplicada.

Curiosamente, os dois golos de Cavani surgiram no espaço do lateral direito que trocou há dias o Porto pelo Leicester. No primeiro deu espaço a Suarez para receber e a colocar na área, no segundo voltou a marcar à distância, neste caso Cavani, que rematou de primeira para um golo de bandeira, mas neste caso com a atenuante da perda de bola de Pepe em zona proibida.

Praticamente sempre em desvantagem, Portugal teve enorme dificuldade em saber o que fazer à bola. Ao longo de todos os jogos da fase de grupos, muito se questionou a falta de posse de bola da equipa portuguesa. Quando finalmente a teve, parecia já desabituada do processo de construção.

Constantes lateralizações, um futebol com um ritmo muito lento, sem soluções para fazer face ao fortíssimo bloco baixo dos sul-americanos cuja defesa é sem dúvida o seu ponto forte.

A única boa notícia foi mesmo o aparecimento de Bernardo Silva, até aqui sem conseguir somar a sua qualidade ao jogo português, o canhoto do City fez um jogo fantástico, apenas superado por Cavani entre todos os que pisaram o estádio em Sochi. Se já tinha estado bem na direita, foi no centro que o seu melhor futebol apareceu. Sempre com uma condução vertical, a procurar dar soluções de frente para o jogo, rejeitando as lateralizações habituais de William e João Mário, que com Bernardo passaram a formar o triângulo da zona nevrálgica do terreno, com Guedes a cair mais na ala e Quaresma já no lugar de Adrien.

Este sistema foi aposta já depois do 2-1, onde Cavani aproveitou um erro de Pepe, que em sete minutos passou de salvador da pátria, com um golo de cabeça no coração da área uruguaia que finalmente pôs fim à inviolabilidade das redes de Muslera, a vilão, ao perder de forma infantil uma bola na defesa que originou o melhor golo da noite.

Tudo voltava à realidade anterior, onde o Uruguai se sente em casa e Portugal completamente fora do seu habitat. Mais largura, contínua falta de presença na área, que Fernando Santos tentou compensar com André Silva por Guedes, mas que não gerou resultados. Ora porque o futebol da turma das quinas foi lento e previsível, com até os centros a demorarem muitas vezes tempo a mais para serem tirados, ora porque a dupla Godin-Gimenez é das melhores deste Mundial.

Tardiamente Manuel Fernandes chegou ao jogo, com apenas cinco minutos de tempo útil no relógio. O médio do Lokomotiv mostrou em cinco minutos que poderia ter dado muito mais a esta partida que o que William e João Mário ofereceram. Procurou construir, sem se esconder e, acima de tudo, visar a baliza de Muslera sempre que possível. Já não teve muito tempo mas ainda teve na mira o golo por duas vezes com a sua meia distância.



Já nada mais havia a fazer. Houve coração mas não a clarividência necessária. Nem dentro do campo e muito menos fora dele. Não se pode dizer que a queda de Portugal surpreenda. O percurso até aos oitavos foi muito sinuoso e pouco convicente. Como o havio sido em França. Mas passados dois anos os astros mudaram de posição.

Seguiu em frente a equipa que, fiel às suas ideias, mostrou o talento e consistência que um candidato ao título tem de ter. E não caiam na ilusão que Portugal dominou de fio a pavio. Simplesmente a vantagem no marcador em quase todo o jogo permitiu a Tabarez colocar a sua equipa no seu habital natural e quando um jogo é levado para lá pelo Uruguai, dificilmente não são eles a levar a melhor.

Portugal nao pode continuar a montar a sua equipa nos ombros de Ronaldo. Um futebol sem objetividade, sem rapidez, e sempre a contar que o melhor do mundo resolva com os seus golos. O centro da defesa será o grande desafio da renovação que terá de vir, onde também o génio de Quaresma deve ter conhecido a última trivela frente ao Irão.

Man of the Match: Edison Cavani

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