sábado, junho 23, 2018

MUNDIAL À LUPA: O gigante com pés de barro sabe escrever poesia


Como Gary Lineker diz, o futebol é um jogo de 11 contra 11 e no fim vence a Alemanha. Esta noite na Rússia acabou a ser um jogo de 11 contra 10 e no fim ganhou a Alemanha. Mas só mesmo ao soar do gongo e depois de muita insistência, quando parecia que os Deuses tinham virado em definitivo as costas aos campeões do mundo.

Tal como havia revelado na estreia frente ao México, a Mannschaft revela uma preocupante fragilidade na transição defensiva. Ora por perdas de bola infantis, como um passe errado de Kroos que esteve na origem de um golo de se lhe tirar o chapéu a Toivonen, ora por lentidão extrema na reação à perda, onde os adversários facilmente se vêem em situações de superioridade numérica ou mesmo isolados frente a Neuer, como aconteceu bem cedo no jogo, onde Berg, na cara do guardião alemão, foi empurrado por Boateng, sem que tenha conseguido marcar golo e com a complacência do árbitro e do VAR, num lance em que o central alemão poderia ter sido expulso.

Estas foram apenas duas situações, mas outras houve em que os suecos estiveram perto do golo precisamente em rápidas transições que puseram a nú as debilidades do gigante alemão que tem pés de barro na Rússia.

O quarteto da frente não recupera e o pendor ofensivo dos laterais expõe ainda mais o duplo pivot, hoje com Kroos e Rudy primeiro, e depois Gundongan devido ao nariz partido de Rudy, que não consegue suster os ataques adversários.

Ofensivamente a Alemanha tem muita bola, circula-a muito, mas tem dificuldades em criar situações de golo claras, surgindo a sua maioria em bolas despejadas na área ou lances de insistência pelo meio que por vezes acabam em carambolas que caprichosamente não entram.

Só mesmo quando Low percebeu que com Werner na frente não consegue marcar, colocando o gigante Mário Gomez no eixo, libertando o avançado do RB Leipzig para uma ala ao intervalo, a Alemanha conseguiu ser mais incisiva. E três minutos depois chegava ao golo por Reus.

Todo o segundo tempo foi um sufoco para os suecos, já sem capacidade para sair a jogar, apesar das tentativas do seu técnico nesse sentido, fazendo as três substituições na procura de ganhar velocidade e frescura na frente, para nunca tirar por completo os olhos da baliza de Neuer.



A Alemanha nunca abrandou esse pendor ofensivo e Low arriscou tudo, mesmo já reduzido a 10 por expulsão justa mas tardia de Boateng, tirando Hector e colocando Brandt. Só dois defesas e sete jogadores do meio-campo para a frente em busca do golo que permitisse aos campeões em título continuar a depender apenas de si.

Quando já parecia impossível que o golo alemão chegasse, depois de Brandt já ter acertado no poste num forte tiro à entrada da área ou de um grande cabeceamento de Gomez que Olsen salvou com a defesa da noite, Tony Kroos redimiu-se do erro que deu origem ao golo dos nórdicos e num livre lateral superiormente marcado, com pouco ângulo, fez o tento da vitória que já parecia uma miragem. Justiça poética! Pelo resultado e pelo golo de um dos melhores médios do mundo e que será sem dúvida um dos melhores golos deste Mundial.

Man of the Match: Tony Kroos (Marco Reus para a FIFA)

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