segunda-feira, junho 30, 2014

A História do Galo que comia águias

Para quem pensava que a França apenas tinha brilhado na fase de grupos devido à fraca oposição que teve pela frente, os gauleses deram uma forte resposta esta tarde. É certo que a Nigéria não deixa de ser, também ela, uma equipa acessível, mas os bleus foram convincentes.

O início da partida parecia querer mostrar que as Super Águias poderiam parar a França, mas essa imagem durou pouco. Após um golo anulado a Emenike, a Nigéria perdeu totalmente o controlo da partida. A França acordou com o susto? Ou os nigerianos foram defender o golo que não contou??

A querer voar só com uma asa, o galo só conseguiu impor-se em definitivo no segundo tempo, com a saída de Giroud e entrada de Griezmann. Até então, 90% dos ataques aconteciam em exclusivo pela direita, dado que Benzema caía sempre para o meio e Evra não subia dado o pouco apoio que tinha a defender. Era mesmo Blaise Matuidi quem compensava à esquerda quase transformando o 4-3-3 num 4-4-2.

Com as duas asas em pleno funcionamento, com a entrada do avançado da Real Sociedad, os gauleses não mais largaram o controlo e as oportunidades foram quase consecutivas na última meia hora. Enyama e a barra (num remate portentoso do meio da rua de Cabaye) foram adiando o inevitável.

Mas fazendo jus ao ditado, no melhor pano caiu a nódoa. E que nódoa. Saída mal calculada de Enyama a um canto de Valbuena na esquerda, com o toque na bola do guardião a ir parar à cabeça de Pogba que atirou para a baliza deserta, ele que na primeira parte ia marcando um golo de levantar o estádio, negado por Enyama.

Estava quebrado o feitiço que parecia proteger a Nigéria, com pouco mais de dez minutos para jogar. Se antes ainda conseguiram obrigar Lloris a aplicar-se a fundo nalguns momentos, já não houve fôlego final para isso e seria mesmo a França a matar a partida. Valbuena novamente a assistir, mas apesar de Griezmann falhar na bola, esta foi bater no central Yobo e terminou no fundo das redes da sua equipa.

Com um meio-campo que é a sua maior força, tal o pulmão de Cabaye, Pogba e Matuidi, a formação gaulesa parece de novo pronta para grandes voos. E o mais difícil teste está já aí, contando que a Alemanha baterá daqui a pouco, com maior ou menor dificuldade, o derradeiro representante do continente africano, a Argélia.

O herói provável


Keylor Navas. Decorem este nome dado que, de acordo com a Comunicação Social portuguesa e espanhola, está entre FC Porto e SL Benfica. Mas não é esse o motivo que dá destaque a Navas, pois nomes para possíveis transferências são aos pontapés no defeso. O guardião da Costa Rica foi mais uma vez o herói da inacreditável história dos Ticos, que atingem pela primeira vez os quartos-de-final de um Mundial.

O jogo não foi especialmente interessante, mas isso não é grande surpresa. Duas equipas cuja principal característica é o contra-ataque, dando a iniciativa ao adversário, não faziam prever um grande espetáculo. Teoricamente eram duas das equipas mais fracas e apesar de tudo, pela semelhança de estilo passivo de jogo, nenhuma das duas terá ficado especialmente satisfeita por ter a outra pela frente.

As oportunidades foram quase nulas no primeiro tempo, apenas um lance muito perigoso da Grécia, por Salpingidis, onde Navas surgiu pela primeira vez em grande evitando o golo. Mas logo a abrir a segunda metade, Bryan Ruiz inaugurou o marcador, num pontapé de fora da área, com um efeito extraordinário do esquerdino, dado que apesar da pouca força do remate, a forma enrolada como deu efeito à bola, sempre a fugir a Karnezis, fez com que o grego nem esboçasse qualquer reação.

O mais difícil estava feito, dado que o jogo parecia destinado a um nulo. A Costa Rica ficava no seu habitat, enquanto a Grécia estava obrigada a sair do seu. Porém, poucos minutos depois, o defesa Óscar Garcia, da Costa Rica, viu o segundo amarelo (isto depois de um penalty por mão de Torosidis não ter sido assinalado, o que mataria o jogo em caso de conversão dos costariquenhos) e Fernando Santos arriscou tudo em busca do empate, com Gekas e Mitroglou na frente de ataque.

E o assalto foi forte, mas apenas nos descontos a formação helénica chegaria finalmente ao empate, de forma justa, com o defesa Sokratis, numa recarga após defesa de Navas, a fazer o golo, apesar de ter falhado o remate, o que acabou por ser a sorte dos gregos pois com o pontapé a ir contra o chão, a bola passou por cima do guardião dos Ticos, que já se preparava para defender também a recarga.

O prolongamento teve menos oportunidades, apesar da Costa Rica ter voltado a demonstrar algum atrevimento, sem grandes efeitos práticos. A Grécia procurou acabar com o jogo antes das grandes penalidades e esteve à beira de o conseguir ao minuto 120, com Mitroglou a elevar novamente Navas ao papel de herói, evitando o golo do ponta-de-lança grego numa arrojada saída, onde ofereceu o corpo à bola.

A decisão teve mesmo de passar pelas grandes penalidades e claro está, não é difícil adivinhar quem foi o protagonista. Keylor Navas, pois claro. O guarda-redes do Levante defendeu o único penalty que não terminou no fundo das redes, numa estirada decidida, fazendo de Gekas o ator principal da tragédia grega.

A bela história dos Ticos continua no Brasil e a desgraça europeia também. E será precisamente frente à única equipa do Velho Continente qualificada para os quartos-de-final (se bem que França, Alemanha e Bélgica ainda se poderão juntar à Holanda), até agora, que a Costa Rica lutará pelo lugar nos 4 melhores do mundo. A equipa parece esgotada e para lá dos seus limites, mas por certo tudo fará para vender cara uma previsível derrota frente aos holandeses.

domingo, junho 29, 2014

Laranja suada

Praticamente todos os jogos disputados às 13h no Brasil (17h em Portugal Continental) foram os mais fracos deste Mundial. Muito calor, pouca rapidez e até os inovadores "Cooling Breaks", não vá alguém chegar ao limite da desidratação. Este jogo não foi diferente. Lento, previsível e com muito poucos motivos de interesse. Uma ponta final até à última gota de suor levou a Holanda para os oitavos-de-final, quando poucos já esperariam o volte-face. Mas ninguém pode negar que o México pôs-se a jeito do ácido sabor da laranja.

As oportunidades foram poucas em todo o jogo, pelo menos até ao tento inaugural (e que golo!) de Giovani dos Santos, no início do segundo tempo. O México teve o domínio consentido do jogo (esta Holanda parecia não saber assumir um jogo até que se viu obrigada a tal) em todo o primeiro tempo mas apenas incomodou com alguns remates de fora da área e uma oportunidade de Gio dos Santos que o guardião holandês respondeu à altura.

A Holanda voltava ao seu estilo mais cínico, um catenaccio do centro da Europa, mas que parece um predador à espera do primeiro deslize da sua presa. E foi assim que criou o único lance de perigo, num mau passe dos mexicanos que deixou Robben com apenas dois dos três centrais contrários pela frente. O avançado holandês apenas foi travado em falta, mas o árbitro português Pedro Proença mandou jogar... compensaria os europeus à beira do fim.

Apenas após o golo dos aztecas, a laranja mecânica se viu obrigada a fazer pela vida. E a questão que ficou é porque não assume assim as partidas. É que teve várias oportunidades consecutivas, que adivinhavam o empate a qualquer momento. Isto se na baliza do México não estivesse uma das figuras deste Mundial, Guillermo Ochoa, uma autêntica parede que travou tudo o que era possível e impossível. Com reflexos felinos, fez desesperar a mancha laranja que ocupava boa parte do estádio de Fortaleza. Apenas não conseguiu parar o golo de Sneijder, a três minutos do fim, quando já ninguém parecia acreditar numa alteração no marcador. Um remate de primeira, de ressaca num canto, indicava que o prolongamento seria inevitável. E seria, não fosse o erro grave de Pedro Proença (terá queimado aqui a esperança de chegar à final do Mundial, que tanto ambicionava?). Robben volta a cair na área, com 4 minutos de tempo de compensação jogado, mas desta vez sem falta. Uma mão lavou a outra e Huntelaar não despediçou a oportunidade e consumou a cambalhota.

A postura mexicana após o seu golo acabou por tornar justo este desfecho, apesar do prolongamento se adequar na perfeição (o jogo é que provavelmente seria penoso dado o cansaço e calor abrasador). Esta tendência de muitas equipas de desistirem de jogar após estarem em vantagem é difícil de compreender. Com praticamente todo o segundo tempo por jogar, os mexicanos refugiaram-se no seu último reduto, contrariando o ADN da equipa. O castigo foi muito duro mas para se defender um resultado é fundamental ser-se forte a defender e como se viu não é essa a maior força dos americanos. Não fosse Ochoa e a reviravolta teria acontecido mais cedo.

A Holanda continua a demonstrar que apesar do seu valor, é ainda muito verde, com vários jogadores inexperientes em termos internacionais. Estiveram quase fora do Mundial, mas com o vencedor do Costa Rica-Grécia, surgem como o mais forte candidato a atingir as meias do torneio dado o presumível desequilíbrio com o seu potencial adversário. Isto a menos que a Costa Rica siga em frente e continue a ser o cangalheiro dos gigantes europeus.

sábado, junho 28, 2014

Crença férrea na Nossa Sra. do Caravaggio

A capacidade de inventar de Luís Filipe Scolari quase é merecedora de um prémio Nobel. Os equívocos são tantos que é difícil saber por onde começar. Depois de passar toda a fase inicial com o erro Paulinho como motor (gripado) do jogo da canarinha, que obrigava Neymar a vir construir ao grande círculo, rendeu-se à boa meia-hora de Fernandinho frente aos Camarões e finalmente deu a titularidade ao médio do City. Parecia que o laboratório de erros do Filipão tinha chegado ao fim... puro engano.

Mudou o sistema para um 4-4-2 e continuou a insistir na mais ridícula opção de todas, Hulk sobre o lado esquerdo. Provavelmente o selecionador brasileiro é o único homem do futebol que desconhece que o ex-portista é incrível à direita e incrivelmente mau à esquerda. Torna-se previsível, puxa a bola sempre para a linha, onde não tem capacidade de remate nem de cruzamento. E à direita, o ala??? Óscar, que perde toda a sua capacidade criativa encostado a uma linha. Com estas invenções, obviamente o Brasil teve muitas dificuldades. Apesar de no início até ter sido mais perigoso, com Neymar como homem mais adiantado e Fred perdido dentro do campo, num posicionamento difícil sequer de entender. A estrela da canarinha surgiu algumas vezes nas costas do trio de centrais chileno e esteve perto do golo por mais do que uma ocasião.

Golo que não tardaria a chegar. Um autogolo de Jara, na sequência de uma bola parada, após desvio de Thiago Silva ao primeiro poste. Um golo quando o Brasil tinha ligeiro ascendente, mas que foi o pior que poderia acontecer à formação da casa.

Num jogo que pouca qualidade tinha, com faltas em catadupa (quase não houve um minuto seguido de jogo na primeira meia hora), o Brasil veio para trás e ofereceu o resto do jogo aos chilenos, que em um quarto de hora empataram, obviamente pelo seu génio, Alexis Sanchez, num golo de bom recorte técnico. E daqui para a frente o domínio chileno foi absoluto, com o Brasil atrás da linha da bola quase todo o segundo tempo. Mas isso não significa que o perigo tenha rondado a baliza de Júlio César. As oportunidades foram poucas e o grande bruá foi o golo anulado a Hulk, por dominar a bola com a mão antes de a introduzir no fundo das redes de Cláudio Bravo.

Seguiu-se mais meia hora de jogo pouco interessante, onde todos pareciam esperar pelos penalties, que chegariam, não sei antes a Nossa Senhora do Caravaggio ter voltado a proteger o mais criativo de todos aqueles que pisaram o relvado (neste caso, fora das quatro linhas). Remate do ex-Sporting Pinilla, que havia entrado no final do segundo tempo, e a bola a bater com estrondo na barra de Júlio César, com poucos segundos a distar do minuto 120. O estádio gelou mas estava visto que a santinha preferida de Scolari não lhe vira as costas. E seria novamente o ferro a salvar a canarinha. Depois de dois penalties falhados para cada lado, Jara, o homem que fez o golo do Brasil, voltou a provocar a festa da nação brasileira, ao atirar ao poste esquerdo da baliza de Júlio César.

O Brasil segue para os Quartos, mas continua a mostrar muito pouco para quem sonha com o troféu. Por muita fé que o povo tenha (e se tem), não há santa que valhe tanto... O Chile sai de cabeça erguida e com a certeza de que foi uma das melhores equipas deste Mundial. Fez um pouquinho mais por merecer a sorte que lhe virou as costas no momento da decisão, apesar de acabar por ser justo a decisão pela lotaria, dado que nenhuma das equipas mereceu claramente seguir em frente.