segunda-feira, julho 11, 2016

O Herói Inesperado


Se alguém dissesse há um mês atrás que Portugal ia ser campeão europeu com um golo de Éder, 99% iria achar que era uma piada. Eu incluído. Mas o patinho feio da seleção nacional virou o herói de milhões de portugueses espalhados pelo mundo, no dia mais glorioso da história do futebol português.

Agora vale zero comentar se somos justos campeões. Dizer que empatamos 6 dos 7 jogos do Euro 2016. Que o futebol apresentado foi pobre a nível exibicional. O que conta são os títulos e este é de PORTUGAL!!!!

O jogo não foi diferente de todos os outros que Portugal disputou após a fase de grupos. O onze foi o mesmo, o sistema tático idem, a estratégia de jogo também. Mas um revés inesperado pôs um país em sobressalto. Cristiano Ronaldo, capitão da seleção e o seu grande ícone caiu no relvado do Stade de France pouco passava dos 10 minutos. Tentou continuar em campo de todas as maneiras. Saiu em lágrimas e voltou com o joelho ligado, mas pouco depois sairia mesmo. Novamente em lágrimas. Chorava o melhor do mundo e choravam milhões por esse mundo fora emocionados com momento tão amargo de CR7 que parecia colocar ainda mais em causa as aspirações lusas, que entrou no jogo com menor favoritismo.

Talvez este tenha sido o toca a reunir da equipa. Fernando Santos optou por fazer entrar Quaresma e mudou o sistema de jogo. Renato Sanches juntou-se a Adrien à frente de William Carvalho e Quaresma e João Mário ficaram nas alas com Nani na frente.

A verdade é que a França dominou boa parte da partida, dispôs de várias ocasiões para marcar, mas Rui Patrício foi simplesmente um gigante. Uma verdadeira parede. O guardião das chaves do templo, naquela que foi, sem dúvida, a mais fantástica exibição da sua carreira.

Portugal não teve muitas ocasiões na primeira metade, mas no segundo tempo conseguiu dividir bem melhor a partida. Foi também perigoso nalgumas ocasiões e cresceu muito com a entrada de Éder. O patinho feio da equipa foi fundamental para a mudança do estilo de jogo, funcionando na perfeição como target player, recebendo as bolas longas, prendendo os centrais e obrigando-os a recorrer a faltas para o parar.

João Mário foi muito importante também nesta segunda metade, com um jogo em crescendo, bem mais próximo do seu real valor que teimou em não demonstrar ao longo do torneio.

Do lado francês, com a mudança tática após a lesão de Ronaldo, perdeu-se a sensação de domínio físico da partida. Naqueles primeiros minutos, o meio-campo luso parecia dominado e sem força para travar Matuidi, Pogba e em especial Sissoko, o médio do Newcastle, que encheu o campo. Correu de forma imparável até bem dentro do prolongamento. Força, capacidade técnica e velocidade. Um trio de qualidades que foram o principal quebra-cabeças da bem organizada equipa portuguesa.

Griezmann esteve em bom plano também, sempre oportuno e a obrigar Patrício a um punhado de grandes intervenções.

E quando o prolongamento parecia certo, veio a grande oportunidade do jogo, Gignac, o avançado francês que optou há pouco mais de um ano pelo exótico campeonato mexicano, que havia substituído Giroud, conseguiu trabalhar muito bem na área, deixar Pepe (hoje homem do jogo, quando não o foi, mas sim Patrício, mas que já merecia essa distinção em duas partidas) no relvado e atirar de pé direito, enrolado, um remate que terminou no poste da baliza lusa.

Os deuses estavam do lado luso, claramente, para nossa alegria. Aquele lance teria morto a partida pois não havia tempo de reação. Felizmente o poste não o permitiu e milhões de portugueses respiraram fundo de alívio.

Empate, mais um para Portugal no final dos 90 minutos, um resultado que se aceitava, apesar de a França ter feito mais até ali para merecer o título.

Porém, isso mudou no prolongamento. Aí sim Portugal foi melhor, a entrada de Éder que tinha dado uma boa ponta final a Portugal no tempo regulamentar, manteve-se como o factor de mudança do rumo do jogo. E seria já no segundo tempo do prolongamento que Portugal teria a sua grande oportunidade, num livre de Raphael Guerreiro (porquê um Euro inteiro a ver Ronaldo marcar todos os livres sem qualquer eficácia quando temos exímio marcador no lateral esquerdo) que beijou a barra de Lloris que bem se esticou para evitar o golo luso. É certo que o lance é originário numa mão de Éder que o árbitro inglês Clatenburg (fantástica arbitragem à exceção deste lance) achou ser de um defesa gaulês.

Não entrou ali, entrou pouco depois, num remate forte e rasteiro do meio da rua de Éder, depois de deixar Koscielny no relvado graças ao seu maior poderia físico. O conto de fadas tornava-se realidade. Num ano onde o Leicester foi o maior conto de fadas das últimas décadas do futebol moderno, Éder juntou-se a esse mesmo conto. Criticado pela maioria (eu incluo-me no lote), o avançado que joga precisamente em França, no Lille, foi o verdadeiro herói desta história.

Não só mudou o jogo e foi decisivo para que Portugal conseguisse finalmente jogar mais próximo da baliza de Lloris, como marcou ainda o golo que deu o primeiro título da história ao futebol português numa grande competição de seniores.

A França já não conseguiu reagir senão com o coração e a entrada de Martial nada alterou num jogo onde Portugal já dominava e era mais perigoso.

12 anos depois Portugal põe fim a uma amargura que perdurou desde o Euro-2004. Não ganhamos a jogar igual à Grécia, mas também não ficamos longe disso. O mérito deve ser todo de uma só pessoa: FERNANDO SANTOS.

O técnico português é o grande obreiro desta vitória histórica. Não concordo com a maioria das suas opções, nem com o estilo monótono de jogo, mas montou uma equipa com uma alma e coesão fantásticas. E assim se ganham grandes competições. Não foi possível fazê-lo a jogar bonito, mas isso pouco importa. Soube criar uma equipa que não perde (assim é desde que está à frente dos destinos da Seleção em jogos oficiais há já dois anos) e isso é meio caminho andado para se ganhar.

Ganhamos um jogo no tempo regulamentar em todo o Euro 2016. Mas em compensação não perdemos nenhum. Agora é valorizar o que se quer. Para a história fica a Taça e o título de Campeões da Europa. Daqui a 10, 20 ou 30 anos ninguém se vai lembrar se a equipa apresentava um futebol chato e monocórdico, vamos é lembrar que Portugal foi campeão europeu no dia 10 de julho de 2016 pela primeira vez na sua história.

Com as gerações que estão na calha, acho que Portugal pode voltar a sonhar com momentos como este. Pessoalmente, espero que se repitam várias vezes, mas se possível não só ganhando como maravilhando o mundo. Terá ainda mais sabor!

quinta-feira, julho 07, 2016

O fim da era Pep Guardiola


O caro leitor deve estar a pensar o que é que terei bebido ao jantar. Guardiola? Mas o treinador espanhol nunca foi seleccionador! O que tem ele a ver para esta história. Garanto que o jantar foi regado com água. E que não é um erro chamar o técnico espanhol para esta crónica ao jogo que colocou a França na final do Euro 2016.

Certamente não serei o único que fez a ligação que vou explicar a seguir, mas sinceramente nunca li nenhum texto ou ouvi nenhum comentador na rádio ou TV a constatar o que me parece quase óbvio. Desde que Pep Guardiola surgiu como técnico principal do Barcelona, que os países onde treina são campeões da Europa ou do Mundo. Em 2008 tomou conta do clube da Cidade Condal, ano em que a Espanha conquistou o Europeu de futebol. Aí não lhe pode ser atribuído mérito, mas daí para a frente...

Fez do Barça a melhor equipa do mundo e foram os culés a base de sucesso da Espanha que conquistou o Mundial 2010, pela primeira vez na sua história, e fez o bis no Europeu em 2012. Guardiola viajou então para a Alemanha, onde assumiu o Bayern de Munique. E com o seu estilo peculiar de montar equipas, recriou os bávaros, já numa senda imparável de vitórias. O tiki-taka fez escola na Alemanha, ainda que de forma adaptada face ao modelo original, e passou a ser a base da seleção alemã. E com ele veio o título mundial em 2014.

Agora sim chegou ao fim essa ligação íntima entre os campeões do mundo e europa e os países onde Guardiola está. E parece-me que dificilmente isso voltará a acontecer no futuro próximo, porque nem a Inglaterra parece ter qualidade para esses voos, nem o City será a base da seleção inglesa pois tem praticamente só estrangeiros no onze titular.

Depois desta longa introdução, o jogo que apurou o país organizador para a final. A França voltará a cruzar-se com Portugal, aquela que é a besta negra da nossa história. E no jogo jogado, o desfecho nem é especialmente justo. A Alemanha dominou o jogo de início ao fim, teve as melhores oportunidades, e foram uma mão cheia delas. Mas tenho a ideia que podiam ainda estar lá a esta hora que a bola não entrava.

Ora Lloris, com magníficas intervenções, ora o poste, ora a falta de pontaria germânica, é certo é que a bola nunca entrou. Deschamps montou uma equipa com um sistema mais atrevido do que seria suposto, abdicando do trinco Kanté, mas a opção revelou-se um erro. Porque a França jogou com as linhas super baixas, a defender nos últimos trinta metros e sem capacidade de pressionar a construção. Com Kanté, Pogba e/ou Matuidi estariam mais livres para sair ao portador da bola. Isso não aconteceu e foram várias as falhas defensivas gaulesas.

Com um futebol apoiado, de grande qualidade na construção, os campões do mundo conseguiam encontrar espaços entre linhas e iam desconstruindo a defesa contrária mas não conseguiam refletir no marcador essa supremacia.

E quando tudo parecia ir empatado para o intervalo, um erro de Schweinsteiger, ao atacar uma bola num canto de braço levantado, fez penalty que Antoine Griezmann não perdoou. Estava desfeito o nulo e logo pela equipa que menos tinha feito por isso. Porém é preciso ressalvar que apesar de ter feito muito menos para isso, a França não deixou de dispor de duas ou três oportunidades para marcar antes do penalty.

Na segunda parte o jogo mudou um pouco a sua cara. A Alemanha passou a ter ainda mais dificuldades para criar jogo ofensivo, porque as linhas francesas baixaram ainda mais. O espaço no último reduto alemão aumentou e a França passou a ser bem mais perigosa no contra-golpe. E quando a Alemanha tudo fazia para tentar a igualdade, a equipa da casa fez o segundo. Um erro duplo de Kimmich, o jovem jogador polivalente do Bayern, perdeu uma bola infantil na área ao querer sair a jogar e depois foi literalmente comido por Pogba por ter ido à queima à finta do médio francês. Pogba centrou depois para a área e Neuer juntou-se ao momento de asneira e não sacodiu a bola e deixou-a à mercê de Griezmann que não desperdiçou com um toque por baixo do gigante germânico.

Aquele que muito provavelmente será eleito o melhor jogador e marcador do Euro-2016, o irrequieto avançado do Atlético de Madrid, foi mais uma vez decisivo. O segundo golo matou praticamente as aspirações dos campeões do mundo, que tiveram ainda 20 minutos de grande pressão e onde conseguiram criar mais um grande número de ocasiões que nunca entraram nas redes do capitão francês.

A França é o segundo finalista do Euro 2016, mesmo tendo adulterado hoje a sua estratégia habitual. Uma abordagem inteligente? Penso que sim, não é erro nenhum reconhecer a superioridade adversária. A Alemanha é sem dúvida (ou era) a melhor equipa deste torneio e demonstrou-o em praticamente todos os jogos. A França tem estado praticamente irrepreensível, apesar de algum sofrimento nalgumas partidas. É das equipas com um futebol mais entusiasmante, tanto a nível coletivo como individual, mas hoje vestiu a pele de cordeiro, um pouco à imagem do que Portugal fez em todo o Euro 2016.

Adivinhar o que se vai passar no próximo Domingo é uma tarefa para o Bruxo de Fafe ou um qualquer Zandinga. Uma coisa é certa, Portugal não irá mudar o seu sistema pois foi completamente congruente em todos os jogos. Não será na final que isso será alterado. Já a França, irá voltar ao estilo mais dominador e ofensivo, ou numa final adotará o estilo desta noite, mais calculista e expectante? Para Portugal, apesar do histórico assustador contra os gauleses, a França parece mais acessível. A sua defesa não é um bloco de grande qualidade, em especial no centro, onde existe sempre alguma vulnerabilidade. Esperemos que Kanté volte a ficar no banco, porque aí Portugal poderá ter a mesma supremacia que teve hoje a Alemanha. Mas em termos físicos, aí sim aquele meio-campo de enorme dimensão dificilmente será parado. A supremacia numérica deverá ser o antídoto a Pogba, Sisshoko e Matuidi.

Ronaldo Vs Griezmann será o duelo da noite. Tal como o foi na última final da Liga dos Campeões há pouco mais de um mês. Ronaldo entra em campo a ganhar 1-0. Esperemos que aumente a vantagem no domingo, rumo a mais uma Bola de Ouro.

A tática do adormecimento para a vitória


E ao sexto jogo.... FINALMENTE a Vitória! E Portugal está na final do Europeu, 12 anos depois, pela segunda vez na história. O que vai ficar para a história é que Portugal chegou à final, com mais ou menos vitórias, com piores ou melhores exibições.

Depois de cinco empates, Portugal conseguiu finalmente vencer um jogo e logo aquele que lhe permite atingir o jogo decisivo do Europeu de Futebol. A partida, como a maioria deste Europeu, não foi especialmente espetacular. Portugal não fugiu ao habitual figurino, com uma equipa que procura o erro adversário, de forma paciente, sem nunca se desorganizar muito mas também sem a loucura desenfreada pelo golo.

Tem de ser dado mérito a Fernando Santos pela coesão e união que este equipa apresenta. Existe um coletivo muito sólido, uma equipa construída detrás para a frente, que tem sempre como preocupação não perder o posicionamento, nem o controlo dos espaços e do adversário. Um controlo menos habitual do que é normal quando vemos que Portugal é, teoricamente, superior em qualidade individual a todos os adversários que teve pela frente ao longo de toda esta campanha.

O País de Gales teve mais posse de bola, mais passes completos e teve quase sempre ligeira supremacia no que é o controlo da bola. Porém, esse é o veneno que Portugal prefere dar aos seus adversários. Tentar que a equipa contrária assuma o jogo, tente subir mais as suas linhas e assim permitir que os perigosos contra-ataques possam aniquilar os adversários.

A verdade é que também os adversários acabam por optar por fugir a esse risco, o que tem dado origem a vários jogos algo monótonos e com poucas oportunidades de golo. A partida de hoje não mudou a este nível. Os primeiros 45 minutos foram entediantes. Duas equipas à espera do erro adversário, que nunca chegou, o que levou a que a bola raramente se aproximasse das balizas. Portugal optou por como que anestesiar o adversário, para o deixar vulnerável para matar a partida na segunda metade.

Parecia que iríamos ter mais um jogo de empatas, mas finalmente Portugal acabou por ter um pouco da estrelinha que lhe faltou na Fase de Grupos, em especial com Islândia e Áustria, onde a bola parecia não entrar. Hoje entrou praticamente à primeira oportunidade, num canto curto, com um fantástico cruzamento de Raphael Guerreiro e uma ainda mais espetacular elevação de Cristiano Ronaldo, como se tivesses asas, a subir ao 5º andar e a atirar de cabeça para o fundo das redes galesas.

Estava feito o que teoricamente seria o mais difícil e Portugal estava na frente do marcador, algo que tem sido raro em todo o Europeu. Ainda a tentarem recompor-se do golo sofrido, os galeses acabaram por permitir o que Portugal tanto procura, contra-golpes rápidos. Assim surgiu o segundo golo. Com Ronaldo a atirar de fora da área e Nani a desviar para o segundo.

Daí para a frente, Portugal entregou em definitivo o jogo aos galeses, sem nunca tirar os olhos da baliza contrária no contra-ataque. E até poderia ter aumentando o score, não fosse a perdida de João Mário na cara do guardião contrário, numa recarga a forte remate de fora da área de Nani.

O País de Gales nunca demonstrou capacidade para dar à volta ao texto. Privados de Aaron Ramsey, jogador fundamental na manobra ofensiva da equipa, por castigo, passou a ser Bale contra o Mundo. O astro do Real Madrid tentou de todas as formas fazer que a sua equipa reentrasse no jogo. Batendo livres frontais, cruzando livres laterais para a área, ou em duas bombas do meio da rua, uma delas para a defesa da noite de Rui Patrício.

Ficou claro que a caminhada de Gales ia ficar por aqui, o que já foi um tremendo feito para uma equipa que nunca tinha estado num Europeu na sua história.

Em termos individuais é difícil ter grandes destaques na seleção das quinas. Mais uma vez foi o coletivo que mostrou ser a grande arma da equipa. Essa solidariedade pode significar campeonatos, mesmo que a nota artística esteja muito longe de satisfazer mesmo o menos exigente dos adeptos. Todos acabaram por ser competentes nas suas funções, sem que ninguém brilhasse a grande altura. Ronaldo, pelo golo e assistência (se bem que não voluntária pois rematou à baliza) e Danilo, que regressou à equipa e aproveitou o castigo de William Carvalho para deixar uma boa dor de cabeça a Fernando Santos para a grande final do próximo domingo.

E será em Paris, no Stade St. Denis, que Portugal terá pela frente, pela primeira vez neste Euro, um verdadeiro adversário. Uma equipa de top mundial, longe de Islândias, Hungrias, Áustrias, Croácias, Polónias ou País de Gales. Talvez tenhamos uma grande surpresa e contra uma equipa de top mundial, a exibição seja mais entusiasmante. Sinceramente, não acredito. As finais são para ganhar e no próximo jogo sim, a exibição é completamente acessória. O importante é mesmo a vitória.

O histórico com Alemanha e França e francamente negativo para as cores nacionais, mas quando Portugal e uma destas duas nações entrar em campo, nada disso vai interessar. E mais do que em qualquer jogo deste Europeu, o estilo de jogo luso e a sua estratégia poderá ser a mais adequada para uma vitória num jogo como costumam ser as finais, menos exuberantes e mais calculistas.

terça-feira, julho 05, 2016

O "Messi" sérvio para abrilhantar a Liga Portuguesa


Uma pausa no Euro-2016 para regressar aos comentários sobre a realidade nacional e neste caso à mais sonante contratação deste defeso em Portugal até ao momento. Foi hoje finalmente anunciado o fim de uma novela que levou quase dois anos, de avanços e recuos, que acabou em casamento, ao melhor estilo de uma qualquer trama mexicana ou venezuelana.

Esquecendo essa parte do interesse que levou tanto tempo a concretizar-se, mas que já é anunciado como certo em Inglaterra (na revista Four Four Two) ou na Turquia (em resultado de interesse de clubes turcos que desistiram por saberem que tudo estava certo entre jogador e clube da Luz há vários meses), a chegada de Andrija Zivkovic é uma excelente notícia para a Liga Portuguesa que terá no jovem sérvio uma das suas maiores estrelas.

Zivkovic é um verdadeiro prodígio do futebol mundial, considerado dos mais promissores do Velho Continente, e que é o mais jovem jogador sérvio de sempre a jogar pela Seleção A do seu país, com apenas 17 anos, depois de já ter jogado dois Europeus Sub-17. Viria ainda a ser campeão do mundo no ano passado, na Nova Zelândia, no Mundial Sub-20, onde marcou dois golos, um dos quais eleito o melhor da competição.

A sua perfomance no Mundial levou os melhores clubes do mundo a seguirem atentamente a sua carreira, assim como revistas de renome mundial, como a Four Four Two (ver artigo aqui) que o apelidou do "Messi" sérvio.

E na verdade, o jovem sérvio tem um toque de bola semelhante ao mago argentino, mas deixemos as comparações por aí porque Messi só há um! Zivkovic é um extremo que prefere jogar na direita para poder fazer os movimentos onde mais pode desequilibrar, movimentos interiores, da ala para o centro, onde pode usar o seu forte pontapé de pé esquerdo, que lhe pode valer muitos golos, ou assistências decisivas.

A sua capacidade técnica e de decisão no último terço de terreno são fundamentais para uma equipa com as ambições dos tricampeões nacionais. A isso acrescenta algo que o Benfica tem sentido falta há já bastante tempo, uma tremenda qualidade na cobrança de bolas paradas. Quer em cantos ou livres laterais cruzando para a área (tantos cantos mal batidos pelos encarnados na última temporada), quer em livres diretos, onde tem grande qualidade de execução, algo que os encarnados já têm em Talisca, mas que é praticamente a única grande qualidade do médio brasileiro, cada vez menos utilizado na Luz e que parece estar à beira de ser vendido.

Dificilmente Zivkovic não pegará de estaca no onze da Luz logo no arranque da temporada. Apesar de ter nove extremos no plantel, o sérvio é de longe o melhor. Confirmando os seus atributos, dificilmente permanecerá em Portugal por mais do que uma época, rumo ao estrelato do futebol mundial.

Um talento a não perder de vista nos relvados nacionais em 2016/2017.

domingo, julho 03, 2016

Os franceses que não gostavam de contos de fadas


Terminou o conto de fadas deste Euro-2016. E terminou de forma contundente, ainda que nem os pesados números da derrota islandesa tenha feito os seus fantásticos adeptos diminuir o apoio. E compreende-se, têm claros motivos para orgulharem-se da magnífica caminhada da sua seleção até aos quartos-de-final da prova, caindo apenas aos pés de um dos favoritos. Provavelmente o maior de todos, a par da Alemanha.

E se se falou de final antecipada entre Espanha e Itália e agora entre Alemanha e Itália, acrescento que a verdadeira final antecipada será o confronto das meias entre os organizadores do torneio e os campeões do mundo. Quer o destino que se enfrentem antes do jogo decisivo, com a certeza que quem levar a melhor chegará ao Stade de France com 90% do favoritismo... Contudo, é preciso confirmá-lo na hora da verdade que os jogos e os torneios não se vencem sentado no cadeirão.

Precisamente isso foi o que a França evitou hoje. Não assumiu qualquer pose aristocrática frente aos inesgotáveis islandeses e mostrou que nem todos os contos de fadas terminam de forma feliz. A eficácia dos Bleus foi decisiva na partida. À primeira clara oportunidade, Giroud abriu o marcador. Passados alguns minutos, Pogba subiu ao quinto andar na sequência de um canto, qual Michael Jordan, e cabeceou para o segundo. A Islândia ainda respondeu e esteve perto de reduzir, mas à beira do intervalo, os homens de Deschamps mataram em definitivo a partida. Primeiro por Payet, a mais cintilante estrela dos gauleses neste Europeu, num remate de fora da área rasteiro e colocado, e logo de seguida Antoine Griezmann, agora melhor marcador isolado do torneio, com quatro golos, que isolado fez um chapéu de fino recorte técnico, aumentando para 4-0 o marcador no descanso.

A história do jogo terminou, mas é justa uma palavra para a Islândia que, nem com uma pesada goleada ao intervalo, se entregou ao seu destino. Foi sempre em busca da baliza contrária, de forma mais afoita que habitualmente, mostrando que a abnegação é um valor central na mentalidade do seu povo. E com justiça marcou por duas vezes no segundo tempo, e até podia tê-lo feito em mais uma ou outra situação, uma delas onde Lloris, o guarda-redes e capitão dos franceses, fez uma fantástica defesa.

A França limitou-se a gerir a equipa e o resultado, mas ainda marcou mais uma vez, com Giroud a bisar e também ele a ficar no top-5 dos melhores marcadores do Euro-2016, que é maioritariamente ocupado por jogadores da França, sendo completado por Payet, também com três golos, assim como Bale e Morata.

Termina assim um lindo sonho nórdico, mas mantém-se o francês, de mais uma vez levar a melhor num grande torneio organizado na sua pátria. Quinta-feira saber-se-à quem será o vencedor da final antecipada, que ficará com todo o favoritismo para o jogo decisivo daqui a uma semana. Prognósticos, como dizia o outro, só no final do jogo! Mas se há equipa que possa parar a Alemanha é a França, quanto a mim, de longe as duas melhores do Campeonato da Europa.

sábado, julho 02, 2016

O lobo alemão vestiu pele de cordeiro para matar o borrego

"Se não os consegues vencer, junta-te a eles". Esta foi a máxima utilizada pelos campeões do mundo para conseguirem finalmente eliminar a besta negra. Joachim Low é o São Jorge da Alemanha. Depois de ter posto fim à besta negra Brasil no último Mundial, e logo com um histórico 7-1, agora foi a vez de pôr fim à maldição italiana, apesar de só o ter conseguido no desempate por grandes penalidades.

Para muitos, esta era a final antecipada do Euro 2016. Mas no jogo jogado não o foi. Não seria expectável outra coisa. De um lado uma Itália que tem sido fiel ao estilo cínico de jogar, que só tinha sofrido um golo e no jogo frente à Irlanda, em que jogou quase só com suplentes, e do outro a Mannschaft, campeã do mundo, que não tinha sofrido um único golo ainda neste Euro 2016 e que tirando o último jogo com a Eslováquia, não havia mostrado o seu melhor futebol.

Era previsível que o jogo tivesse poucos golos. Ou nenhum. E a estratégia alemã ainda mais o indiciou. Low optou por mudar a cara da campeã do mundo, com uma estratégia bem mais conservadora do que é habitual. Depois de ver a forma como a Itália bateu a Bélgica e a Espanha, o técnico alemão, famoso por comportamentos pouco higiénicos, preferiu que a poderosa Alemanha vesti-se uma pele alternativa. O sistema tático foi quase igual ao italiano, ainda que os três centrais só passassem a ser assumidos no segundo tempo.

O primeiro teve poucos motivos de interesse, com apenas nos cinco minutos finais a surgir uma oportunidade de golo para os italianos, num remate de Sturaro desviado por um defesa alemão quando a bola ia a caminho do fundo das redes de Neuer.

E como fechou a primeira parte, abriu a segunda, mas desta feita com Muller à beira do golo, mas um defesa italiano desviou a bola no último segundo. Num jogo tão tático e com duas equipas tão encaixadas, estes lances foram uma espécie de um oásis no deserto.

Dez minutos depois, chegava o golo que quebrou o ferrolho da partida. Gomez fugiu da zona do ponta-de-lança, fez um passe genial que rasgou uma defesa italiana que não se desposiciona mais do que uma ou outra vez por jogo, Hector centrou e um desvio em Bonucci permitiu a Ozil fuzilar Buffon.

O golo alemão desnorteou os italianos, que pela primeira vez neste Europeu tremeram seriamente. A Alemanha quase marcava o segundo poucos minutos depois e pensou-se que uma Itália obrigada a ir atrás do prejuízo seria incapaz de reentrar na partida. Puro engano! Pellè esteve à beira do empate três minutos antes do disparate de Boateng, que fez penalty por mão na bola e permitiu a Bonucci empatar o encontro.

A Itália retomou a confiança e ainda fez a Alemanha tremer em duas ocasiões mas a verdade é que pouco há a destacar em todo o prolongamento, com ambas as equipas a voltarem ao estilo cauteloso que pautou grande parte do jogo.

Só mesmo os penalties poderiam resolver este jogo tão equilibrado e com poucos momentos de emoção. E foi nas grandes penalidades que se assistiu ao melhor da partida. Com vários jogadores a falharem, trocas de vantagem e a decisão a chegar apenas ao 18º penalty, com Jonas Hector a faturar, depois de Darmian ter permitido ao gigante Neuer brilhar.

Quem vencesse hoje dava um importante passo para a vitória no Europeu porque deixava para trás um dos grandes favoritos da competição. A Alemanha é sem dúvida o grande favorito e parece que apenas a França poderá travar os campeões do mundo de imitarem o que a Espanha fez há seis anos, quando juntou o Mundial ao Europeu. Os germânicos poderão repetir o feito, mas ao contrário, pois neste caso o Europeu viria depois do Europeu.

sexta-feira, julho 01, 2016

A culpa é das estrelas


Só pode estar escrito nas estrelas que Portugal vai chegar à final deste Europeu. Só falta ser contra a Islândia para que o título deste texto faça perfeito sentido. Pergunta o leitor, mas o que tem isto a ver com a crónica da vitória do País de Gales sobre a Bélgica? Tem muito! Porque daqui saiu o adversário de Portugal nas meias-finais do Euro, E ao sexto jogo em França, Portugal volta a não ter um único adversário de top mundial! Se isto não é um desejo dos deuses, é uma coincidência de que não há memória.

Ontem escrevi depois do jogo que tinham acabado as facilidades para Portugal e que nas meias e, eventualmente, na final, já não haveria passadeiras vermelhas pela frente. Isto apesar de com equipas de nível médio-baixo, com exceção da Croácia, não vencemos um único jogo. Honestamente, nunca me passou pela cabeça que a Bélgica não estivesse nas meias-finais.

E agora sim chegamos ao jogo e talvez ao encontro que foi a maior surpresa do Euro até ao momento, mais ainda, na minha opinião, do que a vitória da Islândia sobre a Inglaterra, pois os britânicos não impressionam ninguém. E o mérito deste resultado deve ser tripartido. Primeiro, pelo País de Gales, e ao seu técnico Chris Coleman. Os galeses têm uma alma tremenda. Não desistem e não se abatem pelas contrariedades. E Coleman é um excelente técnico, com bastante experiência da Premier League e que soube contrariar a Bélgica, uma das melhores seleções do mundo da atualidade, pela terceira vez em dois anos! Em segundo lugar, o mérito é também do árbitro da partida, o eslovénio Damir Skomina, que conseguiu nos últimos 10 minutos fazer vista grossa a uma falta claríssima à entrada da área galesa, que daria expulsão a Ben Davies por segundo amarelo. Na jogada seguinte, penalty sobre Nainggolan que Skomina mandou seguir novamente...

Por fim, o maior mérito, ou neste caso demérito, para o resultado final é de Marc Wilmots. Não percebo como é possível que os responsáveis federativos dos belgas mantenham Wilmots como técnico, já depois da campanha miserável no Brasil 2014. Não sei quem foi o visionário que achou que um técnico que tem no currículo uma passagem de oito jogos no Schalke 04 com uma vitória e depois no colosso St.Truiden, com 22 jogos e 2 vitórias, era o homem ideal para conduzir a melhor geração da história do futebol belga.

O técnico dos Diabos Vermelhos fez três substituições que aniquilaram a equipa que até tinha entrado fortíssima na partida, marcando num grande golo de Naingollan de fora da área, depois de outras oportunidades desperdiçadas. O golo foi o pior que podia acontecer, pois a equipa recuou (não sei se por indicações do seu técnico) e ficou a ver a raça galesa tomar conta do encontro até ao golo do capitão Ashley Williams, na sequência de canto.

Não satisfeito, Wilmots faz a substituição que decide o jogo ao intervalo. Tira Ferreira Carrasco para colocar Fellaini, a tentativa de contrariar o domínio central de Gales na zona nevrálgica do terreno, que resultou, isso sim, na perda de velocidade e profundidade dos belgas. E depois, já a perder depois do excelente golo de Robson-Kanu, num lance que deixou os adeptos da Bélgica a chorar por Vermaelen (castigo) e Vertonghen (lesionado), colocou Mertens e tirou Jordan Lukaku.

Até poderia resultar, mas colocou Mertens a jogar à esquerda com Hazard e na direita estava... o relvado! Porque De Bruyne andou sempre mais no meio, e ninguém abria na ala direita a dar apoio a Meunier, o lateral que ainda tentava sozinho desequilibrar nesse flanco. Um tremendo equívoca tático que matou em definitivo os diabos vermelhos, para além dos erros já mencionados de Skomina.

E no momento do assalto final, troca de pontas-de-lança, colocando Batshuayi, um homem mais móvel, para o lugar de Lukaku, o carro de assalto que poderia com Fellaini, ganhar bolas na área.

São tantos erros num só jogo de um treinador que é impossível justificar tanta incompetência junta. Mas disso não teve culpa a seleção Galesa, e em cima dos 90, Vokes, num cabeceamento digna dos melhores goleadores, acabou com o jogo, em mais um lance onde a defesa belga, claramente o setor menos talentoso de uma equipa recheada de estrelas voltou a claudicar, mas agora de forma mais compreensível dado todo o desequilíbrio causado pelas substituições e pela postura desesperada de quem procura evitar a eliminação.

Com isto, está garantida a primeira grande seleção surpresa entre os quatro finalistas. Agora só falta a Islândia eliminar a França e o choque ser ainda maior. E de repente Portugal passa a ser o favorito a estar na final do Euro-2016. O que para uma equipa que não venceu um jogo ainda em todo o Europeu e tem um estilo de jogo absolutamente entediante é uma surpresa. Com a benesse de ver o segundo melhor jogador de Gales, Aaron Ramsey, falhar a partida decisiva por ter levado amarelo. Só falta mesmo Bale lesionar-se para a Culpa ser em definitivo das Estrelas.

A lotaria dos empates


Já se torna difícil escrever sobre os jogos da Seleção Nacional neste Euro 2016. Ao quinto jogo, o quinto empate! É obra! Portugal faz pouco para vencer os jogos, mas também não deixa que os seus adversários levem a melhor. Hoje entrou a perder, com o golo do inevitável Lewandowski aos 2 minutos, e foi obrigado a procurar contraria a desvantagem, assumindo as despesas do jogo, algo que a equipa não aprecia tanto no sistema que tem adoptado.

Fernando Santos montou um meio-campo com quatro médios centro de raiz, com João Mário a jogar mais sobre a ala, assim como Nani, com o trio central a ser composto por William, Renato e Adrien. Com o golo polaco, num erro de Cedric, que tirando essa falha esteve em bom plano, Portugal procurou o empate, mas sem grandes ocasiões de golo. Porém, seria mais uma vez o jovem Renato Sanches a mexer com a partida, depois de já antes ter tido a melhor iniciativa, num lance pela esquerda em que o último passe, de João Mário, não saiu como pretendido. O "selvagem", como Rui Vitória o apelidou, teve um verdadeiro momento de inspiração, numa bomba de pé esquerdo, de fora da área, que sofreu um pequeno desvio em Krychowiak, só parando no fundo das redes polacas.

Estava feito o empate, ainda antes do intervalo, e Portugal pôde enfim respirar melhor, baixando os níveis de ansiedade da equipa. A verdade é que daí para a frente, o jogo manteve o ritmo, muita expectativa, ligeiro domínio luso, mas acima de tudo duas equipas expectantes, mais interessadas em não sofrer do que em marcar.

O que parece incompreensível foi a opção no segundo tempo, que se manteve até final do jogo, de colocar Renato Sanches sobre uma ala. O jovem jogador estava a ser, mais uma vez, o homem em destaque da equipa, com os seus arranques em transporte de bola, que permitem à equipa dar alguns esticões e ter outro dinamismo na construção. Nani foi mais para junto de Ronaldo, que voltou a ser uma sombra do que é habitual, e Portugal perdeu essa espontaneidade na construção.

As opções a partir do banco nunca mexerem com a estrutura tática, apenas dando maior frescura física, mas sem trazer nada de novo ao jogo. Do lado polaco a situação foi idêntica, pelo que o jogo se arrastou durante longos 120 minutos, em mais uma partida super desinteressante para os espectadores.

Verdade seja dita, o empate é o resultado justo para o que se passou nos 120 minutos de jogo, onde nenhuma das equipas merecia vencer. Fala-se que os penalties são uma lotaria e questiona-se que é uma forma injusta de decidir uma partida. Hoje dificilmente encontro outra forma de decidir este jogo de empatas. É que também os polacos já tinham dois empates em quatro jogos, nada que se compare ao pleno luso.

Da marca dos penalties, Portugal esteve perfeito, com os cinco jogadores chamados ao momento da verdade a não tremerem, e com Rui Patrício a ser o homem decisivo, com uma grande estirada a defender o quarto penalty polaco, batido por Kuba, e Quaresma a marcar o último de Portugal, apurando a turma das quinas para as meias.

Renato Sanches foi mais uma vez eleito pela UEFA como o melhor em campo, pela segunda vez consecutiva, mas Pepe também merecia a distinção, como no encontro anterior com a Croácia. O luso-brasileiro tem sido um pilar da defesa, com cortes decisivos e com uma alma inesgotável. E ficam por aqui os destaques individuais, tudo o resto foram exibições ao nível do jogo, baixo... muito baixo...

Portugal nem vence e muito menos convence. Mas está nas meias-finais. E isso é que vai ficar para a história! Agora, partindo do princípio que a Bélgica vence Gales esta sexta, a malha vai apertar e tanto a meia-final como a final, se lá chegarmos, vão ter um nível de dificuldade muito superior ao de qualquer jogo que Portugal disputou neste Euro. E se até agora não convenceu, é difícil acreditar que será nos jogos com as melhores equipas do Europeu que a equipa se irá transfigurar para melhor... Mas no futebol tudo é possível e a esperança de uma nação é capaz de milagres! Quarta-feira há mais para Portugal! Algo que só mais três equipas poderão dizer.