domingo, junho 26, 2016

O galo preguiçoso


A França está nos quartos-de-final do Euro 2016, que se realiza no seu país, mas para lá chegar não se livrou de um valente susto. A Irlanda, à procura da vingança dos gauleses depois da célebre e polémica mão de Thierry Henry, no playoff de apuramento para o Mundial da África do Sul 2010, que deixou os irlandeses de fora de forma escandalosa, entrou a ganhar no jogo em Lyon. Um penalty convertido por Brady ao primeiro minuto de jogo, surpreendeu tudo e todos.

A Irlanda nem nos seus melhores sonhos poderia ter um arranque mais favorável e os franceses acusaram em demasia o golo. Ao longo de todo o primeiro tempo, as dificuldades de construção foram gritantes, tendo sido mesmo os irlandeses a conseguir uma ou outra oportunidade de golo.

Ao intervalo, Deschamps deixou Kanté no balneário e arriscou na entrada de Coman, até porque o trinco do Leicester já estava amarelado. E surgiu uma França completamente transfigurada. À imagem do que aconteceu em todos os jogos deste Euro, onde os primeiros 45 minutos foram sempre desperdiçados pela equipa da casa.

Foram só precisos menos de 20 minutos para a cambalhota, graças a uma tremenda asfixia dos gauleses ao seu adversário, que já nem da intermediária quase conseguia passar. Com Matuidi e Pogba a construir desde atrás e Griezmann mais central, atrás de Giroud, começaram a surgir mas espaços, mais combinações e a equipa conseguiu jogar pelas laterais, algo que não tinha alcançado na primeira metade.

Em três minutos, Griezmann bisou, mostrando porque é um dos melhores jogadores da Liga Espanhola. Pouco depois, expulsou o central irlandês que o derrubou quando seguia isolado para a baliza à entrada da área. O jogo morreu aí. Houve tempo para Gignac, que entrou a substituir Giroud, atirar uma bomba à barra, mas os franceses nunca conseguiram matar completamente a partida, pois faltou o golo da tranquilidade. Isto apesar dos irlandeses não voltarem a conseguir pôr a defesa francesa em sentido, ela que tinha tremido tanto até ao empate, em especial Adil Rami, que teve um jogo para esquecer.

Com a passagem da França, poderemos ter um histórico França-Inglaterra nos quartos. É preciso é que a surpreendente Islândia o permita... Quanto à França. soma dois títulos em quatro organizações de grandes torneios (um europeu e um mundial em duas organizações de cada um), pelo que chegou a hora de desequilibrar os pratos da balança. A seu favor?

sábado, junho 25, 2016

O elixir da juventude


Foi o jogo da paciência. E também o jogo do tédio. A emoção de quem sofre num jogo destes até pode nem sentir o aborrecimento, mas na verdade, a tática levou a melhor sobre o espetáculo nesta partida. Muito medo de perder, levou o jogo a arrastar-se até quase aos penalties. Mas antes o jogo já tinha mudado, graças ao elixir da juventude de Renato Sanches, que trouxe a sua alegria e dinâmica à partida, e mudou a face do jogo, e especialmente o seu ritmo. Man of the match para a UEFA, com apenas 18 anos.

Fernando Santos optou por um novo meio-campo, com o trio do Sporting, tantas vezes exigido nas redes sociais nos últimos dias por ser o meio-campo que teria mais automatismos e que poderia permitir um jogo mais desenvolto à equipa. Serviu isso sim para um tampão ao meio-campo croata, onde estavam os dois melhores da equipa contrária, Modric e Rakitic.

Verdade seja dita, a tática resultou em termos defensivos. Portugal conseguiu travar a equipa croata, que apesar do domínio em termos de posse, foi totalmente inofensiva em termos ofensivos. O problema é que a equipa das quinas também não existia em termos ofensivos. Cristiano Ronaldo foi uma espécie de ilha no meio de um oceano. Não viu a bola em quase todo o jogo, nem sequer conseguiu fazer um remate, senão mesmo o que resultou na vitória de Portugal, cuja defesa de Subasic deixou Quaresma a menos de um metro do golo da vitória.

Com a partida complemente equilibrada, sem qualquer motivo de interesse, Fernando Santos foi o único que procurou desbloquear a partida. Se há dias o critiquei, pela falta de ambição final com os húngaros, agora é preciso ressalvar que apesar do excesso de respeito na construção da equipa, recíproca do lado dos croatas, soube mexer e ao contrário do técnico rival, fê-lo bem cedo na segunda metade e sempre tentando esticar mais a equipa no terreno para ficar mais próxima da baliza contrária.

E foi a primeira substituição que mexeu mesmo com a partida. Renato Sanches entrou aos 49' (não se percebeu muito bem porque não entrou logo ao intervalo pois nada de relevante aconteceu nos 4' minutos iniciais do segundo tempo) e Portugal transfigurou-se para melhor. A intensidade subiu, assim como a ousadia, o jovem médio que vai vestir a camisola do Bayern de Munique, não tem medo de errar, de arriscar, mesmo que falhe mais do que outros, precisamente por arriscar mais que os seus colegas.

Adicionalmente, foi um poço de força, deixando muitas vezes os croatas no relvado em duelos divididos. Tal como contra a Hungria, a entrada de Renato soltou João Mário que, apesar de não ter atingido o brilhantismo da partida anterior, conseguiu alguns dos seus melhores momentos nesta etapa complementar, uma delas na melhor jogada de Portugal até ao golo, numa combinação de Renato e João Mário, com o jovem formado na Luz a falhar a finalização.

O jogo foi naturalmente a prolongamento, depois da quase ausência de oportunidades em toda a partida. No prolongamento, especialmente na segunda parte, o jogo teve o seu melhor período, especialmente porque a Croácia e o seu treinador decidiram finalmente arriscar. A entrada da Marko Pjaca deu outros argumentos no último terço dos terrenos aos homens dos balcãs e os calafrios surgiram em alguns momentos na área de Portugal, onde emergiu Pepe como o último bastião da equipa, com cortes fantásticos que salvaram Portugal de ficar em desvantagem.

E quando tudo parecia que ia terminar nos penalties, a Croácia tem o seu maior momento de perigo no jogo, com um remate ao poste, lance cuja sequência deu origem ao golo de Portugal. Quaresma fez um corte na direita da defesa lusa, Ronaldo libertou de imediato em Renato Sanches e aí foi o Puto. Galgou mais de 60 metros com a bola nos pés, sem grandes linhas de passe, esperou até ao último momento para soltar em Nani já dentro da área, que colocou a bola no poste contrário (passe intencional ou remato falhado?), onde Cristiano Ronaldo, na cara de Subasic, atirou para grande defesa do guardião do Mónaco, sobrando a bola para Ricardo Quaresma, que de cabeça a um metro da baliza deserta, só teve de encostar para a glória lusitana.

Os croatas ainda tentaram nos 2 minutos que restavam, mais os dois de compensação, empatar por todos os meios, com o central Vida a quase conseguí-lo num remate que passou a milímetros do poste esquerdo de Rui Patrício já batido.

Aquando do jogo da Áustria, falei de uma tremenda injustiça, mas ressalvei que a justiça não existe no futebol. Existem sim golos e vitórias. Hoje podemos usar esse argumento na perfeição. Os croatas fizeram um pouco mais que Portugal para vencer, ainda que muito pouco, mas quando finalmente deram tudo para ganhar perto do fim, acabaram por perder, ironicamente depois do remate ao poste.

Foi o jogo do excesso de respeito, que apenas a juventude de um jogador selvagem de 18 anos pôs fim. Portugal voltou a não brilhar, nem a entusiasmar, somou o quarto empate em 90 minutos em outros tantos jogos, mas mal ou bem está já nos quartos. A equipa parece não ter identidade e é construída, jogo a jogo em função do adversário que está pela frente. É questionável a opção? É! Mas o que importa no final é vencer, nem que seja empatando todos os jogos como disse Fernando Santos, e neste momento Portugal já está entre os 8 melhores da Europa.

Agora vem a Polónia, que parece claramente ao alcance de Portugal, mas todos os adversários do grupo F onde Portugal jogou na fase inicial do Euro 2016 e a equipa das quinas não venceu um só jogo...

A fechar, em termos individuais, tirando Pepe e Renato, é difícil destacar individualmente muitos mais. José Fonte e Cedric foram competentes em termos defensivos, mas no caso do lateral, não existiu em termos ofensivos, o que explica a opção por Vieirinha de F.Santos, dado que é bem menos acutilante a este nível que o lateral do Wolfsburg. No meio-campo William voltou a não comprometer, mas também não entusiasmou particularmente e Adrien cumpriu na perfeição como tampão a Modric, mas foi inexistente em termos de construção. João Mário voltou a baixar o nível exibicional e André Gomes parece claramente limitado em termos físicos, pelo que não se entende a insistência na titularidade. Foi o melhor na estreia, dos melhores no segundo jogo mas estes dois últimos, depois de problemas físicos, parecem mostrar que não podem continuar se está com claras limitações. O ataque não existiu, mas aí Nani e especialmente o capitão Cristiano Ronaldo são mais vítimas que culpados pois praticamente não tiveram jogo.

quarta-feira, junho 22, 2016

Ode à bravura


O nome de Portugal faz parte da história do mundo. Porque durante anos o dominámos. Éramos os mais destemidos. Os mais aventureiros. Os mais corajosos. Íamos mais longe que os outros. E não olhávamos para trás. Porque assim são os líderes. Assim são os bravos. Aqueles que vencem!

Fernando Santos devia olhar para a história de Portugal quando se senta no banco de suplentes da Seleção de todos nós. Se os seus antepassados tivessem a sua bravura e a sua coragem, nunca teríamos dobrado o Cabo da Boa Esperança. Nem chegado à Índia. Ou descoberto o Brasil. Tínhamos ficado ali pelo norte de África. Voltávamos para trás e já estava bom. Até porque o objetivo era descobrir qualquer coisa, não interessava o quê...

Aquilo que se passou hoje nos últimos 10/15 minutos da partida foi mais vergonhoso que qualquer prestação de Portugal numa fase final de um Europeu ou Mundial de que me lembro. Portugal fez parte daquele que era provavelmente o mais fraco grupo da história dos Europeus de Futebol. E não venceu um jogo. Passou a jogar como um qualquer Arrentela nos minutos finais, a não procurar a vitória, satisfeito com um empate a 3 bolas contra uma equipa fraca do Velho Continente, arriscando ficar no 2º lugar que a deixava na pior metade da tabela dos oitavos, sem sequer procurar fugir aos tubarões.

Justificou Fernando Santos que o que interessava era passar. Pobre argumento de um treinador cuja carreira é marcada por um deserto de títulos, onde se salva um título de campeão no FC Porto, duas Supertaças e duas Taças de Portugal numa altura onde o difícil era perder títulos no clube que dominava o panorama do futebol português. Algo que o Engenheiro do penta conseguiu em dois anos seguidos!

Simpatizo muito com a figura simpática de Fernando Santos. Parece-me boa pessoa, de enorme respeito e educação e isso nos dias que correm é de valorizar. Até porque outros há, muito competentes, mas cuja educação e respeito são bola. Porém, o Engenheiro é curto para estas andanças e hoje isso foi gritante.

Preparou uma equipa na fase final de preparação em 4-4-2, mas ao fim de um empate contra a Islândia mudou para o 4-3-3 frente à Áustria. Nesse segundo jogo fez uma excelente exibição apenas penalizada pela ineficácia. A equipa funcionou mas a bola não entrou. Nem sequer de penalti. Vai daí e muda para o 4-4-2 novamente frente à Hungria, a dar ideia de uma equipa completamente à deriva em termos estratégicos.

O jogo de hoje foi uma anarquia tática, mas espetacular em termos de golos e emotividade. Só que isso é bom para os espectadores, não para quem gere a equipa. Apareceu Cristiano Ronaldo, com dois belos golos, especialmente o primeiro, mas organização não houve. Houve falhas constantes em termos defensivos. Isto frente a uma Hungria que se deu ao luxo de poupar quatro titulares!!

A defesa pareceu um queijo suíço, cheio de buracos, com os sectores super longe uns dos outros. Fernando Santos insistiu num Moutinho que é uma sombra do passado recente e só ao intervalo, finalmente, lançou Renato Sanches que rapidamente justificou a aposta, dando profundidade e progressão à equipa, de forma rápida e acutilante. Entrada que permitiu soltar João Mário para os melhores 45 minutos no Euro 2016. O médio do Sporting esteve em grande nível quando se soltou com Renato a seu lado. Depois da saída de André Gomes ainda cresceu mais pois começou a fazer os movimentos interiores habituais em Alvalade e onde se sente mais confortável.

João Mário acabou por ser o maior destaque da equipa atrás de Ronaldo, que com dois golos e uma assistência foi sem dúvida a figura da partida. Quaresma entrou bem no jogo e Nani com mais um golo esteve nalguns dos melhores momentos da equipa. De resto, pouco há a destacar. Vieirinha e Eliseu foram dois passadores nas laterais, os centrais acabaram por ser vítimas de toda a desorganização defensiva da equipa e William Carvalho fez lembrar Danilo no jogo de estreia, numa exibição muito fraca, depois de excelente prestação no jogo anterior. De Moutinho já falamos acima e André Gomes, que tem estado em plano de destaque, pareceu não estar no seu melhor, talvez fruto da lesão que o deixou em dúvida até à hora do jogo. Hoje esteve completamente desastrado e a ver pelo seu nível exibicional, devia ter ficado no banco.

Mal ou bem, Portugal seguiu em frente, num grupo fraquíssimo e sem vencer um jogo. Agora a competição volta a partir do zero, mas sem margem de erro. Agora é o mata-mata e se o nível for o mostrado até agora, nem estando no lado "bom" do quadro dos oitavos a esperança é grande. Pela frente está a Croácia, que tem sido um dos destaques deste Euro. A tarefa não é fácil, mas entre Croácia e Bélgica, pessoalmente acho preferível os croatas pois os belgas têm um potencial imenso, mesmo não tendo provado de forma inequívoca todo o seu valor na fase de grupos. Muito por culpa do seu fraco treinador, na minha opinião.

Sábado à noite tiram-se as teimas. Ou o sonho (ainda há sonho?) vira pesadelo ou caso sigamos em frente, poderemos estar logo com um pé nas meias pois o adversário seguinte sai de um Suíça-Polónia, onde ambas as equipas não metem medo a ninguém. Mas também alguém diria que não venceríamos um jogo deste grupo e passaríamos entre os melhores terceiros??

terça-feira, junho 21, 2016

Fórmula Anti-Tédio


Durante muitos anos considerei a seleção espanhola a melhor do mundo. Também não era difícil, com um bicampeonato europeu, com um título mundial pelo meio, sequência nunca antes alcançada por nenhuma equipa do Velho Continente. A evolução do futebol espanhol fez-me vaticinar, ainda antes de 2008, que pouco faltaria para dominarem o mundial.

Porém, esse domínio acabou no Brasil, no Mundial de 2014, e a derrota de hoje contra a Croácia, que poupou alguns titulares, contra uma Espanha sem poupanças, pôs fim a um ciclo de 12 anos sem perder em Europeus. Tinha acontecido pela última vez em 2004, contra Portugal, no Estádio de Alvalade, onde um golo de Nuno Gomes deixou nuestros hermanos fora do Euro 2004. 12 anos depois voltaram a sentir o amargo sabor da derrota.

E justa. Muito justa. Porque o Tiki-Taka espanhol, outrora fabuloso, tornou-se num enorme bocejo, onde na maior parte das vezes falta objetividade. A equipa até nem é assim tão diferente da dos tempos de glória, apenas a idade já pesa em vários elementos-chave, onde falta um que foi fundamental nesse trajeto, o capitão Xavi.

A Croácia soube esperar sempre, ter paciência de chinês, ao ver os espanhóis trocarem a bola, como se num qualquer meinho, até à exaustão. O segredo foi tentar recuperações de bola decisivas, que permitissem transições rápidas. E no aproveitar do erro contrário esteve o ganho.

A Espanha entrou quase a ganhar, numa fantástica jogada de David Silva, concluída por Morata, após remate decisivo de Fabregas, que o avançado da Juventus confirmou sobre a linha. Num erro defensivo, Rakitic quase empatou, num extraordinário chapéu que bateu na barra e no poste. O golo surgiria sobre o intervalo, com Kalinic de calcanhar a concluir com classe o centro da esquerda de Perisic.

E seria exatamente Perisic, o extremo do Inter de Milão, jogar de enorme valor, a decidir a partida, perto do fim, num lance onde De Gea não ficou isento de culpas. Já depois de Sérgio Ramos (o jogador com melhor imprensa do mundo!) falhar um penalty que, na minha opinião não o foi, mas que Subasic defendeu.

Curioso que tendo em conta as novas regras implementadas antes do Euro, o árbitro Bjorn Kjuipers, conseguiu errar a triplicar. O penalty parece provocado após o defesa croata sofrer um ligeiro empurrão de um espanhol, caindo sobre Silva. E depois, não só Subasic sai uns bons 2 metros da baliza para defender o remate do defesa do Real Madrid, algo que não é permitido, como o defesa espanhol faz uma paradinha, que não é permitida... Foi um momento de asneira completa do árbitro, depois de já ter errado minutos antes, ao não marcar um penalty sobre o jovem talento da Croácia, Marko Pjaca, que tem vindo a ser associado ao Benfica, e que seria certamente um valor acrescentado para a nossa Liga caso tais boatos se confirmassem.

A Croácia venceu e garantiu o primeiro lugar do Grupo, onde a Turquia, com a vitória de hoje sobre a Rep.Checa, ficou no 3º lugar, atrás da Espanha, podendo ainda sonhar com um lugar entre os 4 melhores terceiros.

A nível de curiosidade, e um dia antes do encerrar da fase de grupos, Portugal está a um empate de se apurar para os oitavos, podendo assim nem precisar de ganhar um jogo para seguir em frente. Uma coisa é certa, é fundamental que a seleção portuguesa fique em 1º ou 3º do grupo, porque se for segundo vai para a metade do quadro dos oitavos onde estão Alemanha, Espanha, Itália, França e Inglaterra!! É verdade, destes todos crónicos candidatos, apenas um poderá chegar à final.

Em termos dos quatro melhores terceiros, a Irlanda do Norte e a Eslováquia já estão nos oitavos, com Turquia e Albânia a aguardar o que acontece amanhã nos grupo E e F. Os turcos estão à frente dos albaneses nessa corrida. Amanhã se verá quem vai avançar para a fase seguinte, esperando, obviamente, que Portugal figure entre os 16 que se mantêm em prova.

sábado, junho 18, 2016

O Fado Lusitano ou o Dilema chamado CR7


Definitivamente somos o país do fado. É a bola que vai ao lado. O remate que bate no adversário e não entra. O pontapé que termina nas mãos do guarda-redes contrário. Os postes que desviam as bolas para fora. Tudo acontece. A culpa é sempre do Fado. Do destino. Do azar.

Dois jogos, dois empates, contra duas equipas que são muito inferiores a Portugal. E se no primeiro a exibição, apesar de ser suficiente para uma vitória, deixou algum amargo de boca a 11 milhões de portugueses, no jogo desta noite com a Áustria, a seleção das Quinas fez mais do que suficiente para vencer e de forma confortável.

Não há muito a apontar à equipa de Fernando Santos, nem às opções do Engenheiro. Mudou um pouco o sistema, que como aqui escrevi no jogo inaugural já tinha sido muitas vezes um 4-3-3 devido ao posicionamento interior de André Gomes em vários momentos da partida. Desta vez foi assumidamente um 4-3-3, com Quaresma e Nani mais abertos e Ronaldo no meio, apesar de muitas vezes o extremo do Fenerbahce aparecer como segundo avançado na área.

E Portugal conseguiu sempre dominar o jogo, ter mais posse, mais remates, mais ocasiões de golo... foi mais equipa em tudo. Notou-se alguma ansiedade em determinados momentos, mas não foi esse o motivo do insucesso. Pessoalmente, não considero que haja outro motivo que não a da ineficácia.

Que outras opções poderia ter tomado Fernando Santos? Sinceramente, não vejo que nenhum jogador ou opção tática fosse favorecer a vitória lusa. Faltou que a bola entrasse. Quando se criam tantas ocasiões de golo, a questão é exclusivamente a capacidade de a colocar dentro das redes contrárias. Nem de penalti!

Aí entra a eterna questão desta seleção desde 2010, com o fim da geração de ouro e de Luís Figo. A partir daí, esta passou a ser a equipa de Cristiano Ronaldo e isso serve para o bom e para o mau... Quando o astro madeirense está no seu melhor, tudo parece um conto de fadas. Assim foi no último europeu, onde tudo dependia dele. Ele marcava os golos todos e a falta de qualidade do resto da equipa nem era motivo de discussão, porque o melhor do mundo resolvia.

Porém, quando chega às fases finais longe do seu melhor, como parece ser agora o caso, tudo se complica. Porque só ele parece capaz de colocar a bola na baliza. Hoje não foi diferente, a grande maioria das ocasiões vieram dos seus pés ou cabeça. Nani também atirou ao poste e falhou um golo isolado, mas tudo o resto foi Ronaldo.

Os colegas olham para ele na esperança que saque um coelho da cartola. Ora a finalizar no coração da área, ora num remate poderoso de fora da área. Tudo está dependente dele e isso limita as ambições de qualquer equipa. Dificilmente um campeão da europa o é só porque tem um jogador do outro mundo.

Mas a dependência é tal que chegamos ao ridículo de ver Ronaldo marcar os livres todos (às vezes acerta e faz golos do outro mundo, mas qual a sua taxa de eficácia no total de livres batidos?), os penaltis (que ainda esta época falhou vários em Madrid)... Só não marca os pontapés de baliza porque não são ocasiões de golo, senão também seria ele. Cabe, na minha opinião, ao seleccionador tentar minimizar essa dependência, dando espaço a outros, como Raphael Guerreiro, que é superior nas bolas paradas, tanto nos livres diretos como nos penaltis ao madeirense.

Isso ajudaria não só ao sucesso da equipa, como a tirar esta aura de que estamos perante a seleção de Cristiano Ronaldo. Não podem ser 10 e CR7, mas sim 11, onde Ronaldo é mais um. É o melhor, o mais importante da equipa, o seu capitão. mas não o dono da bola.

Acredito que Portugal vai passar, vai até ganhar o grupo pois depende de si para o conseguir, e apesar do propalado grupo fácil (que na realidade a equipa lusa tem demonstrado ser de longe a melhor equipa mas ineficaz), talvez os jogos da fase a eliminar, com equipas mais fortes e com outras formas de encarar o jogo, menos fechadas, possam ser benéficas para a turma das quinas, porque na realidade Portugal é uma equipa que gosta do ataque rápido, das transições e calhar num grupo tão acessível, obriga a equipa a assumir um papel de que não gosta, que é jogar em ataque continuado contra equipas ultradefensivas... Falta "só" é lá chegar...

Palavra final para os destaques individuais, Ronaldo e Nani estiveram em todos os momentos-chave, mas a sua ineficácia foi decisiva e mancha exibições que poderiam ser de glória. Raphael Guerreiro foi um autêntico vaivém, capaz de dar profundidade e causar desequilíbrios. Quaresma esteve longe do nível apresentado nos particulares antes do Euro, mas teve algum protagonismo no último terço do terreno. E o meio-campo foi muito melhor que no primeiro jogo: André Gomes voltou a exibir-se em grande nível (é até ao momento o jogador luso que esteve melhor no somatório dos dois jogos), William foi muito superior a Danilo e Moutinho subiu vários furos face à estreia na competição.

sexta-feira, junho 17, 2016

Great Britain


Foi um dia com dois embates com muita história. Destaco o jogo entre britânicos, um grande (great) jogo, ao nível do nome em inglês do Reino Unido. E não foi só dentro do campo, pois nas bancadas, a festa foi enorme, ou não estivéssemos perante a pátria que deu origem ao desporto-rei.

A Inglaterra precisava de uma vitória, depois do empate na estreia frente à Rússia, que surgiu apenas nos descontos, de forma amarga para os ingleses, que venciam antes do fatídico golo à beira do fim. Hoje, foi a sua vez de beneficiar de um tardio para poderem festejar.

Foi o corolário de uma grande segunda parte, mérito de Roy Hogdson, que ainda há dias era considerado um fraco treinador pele cérebro Jorge Jesus, ao comentar o particular entre ingleses e Portugal em Wembley. O veterano técnico soube ler na perfeição o jogo e deu a volta ao texto ao intervalo, mexendo com mestria numa equipa até então apática, sem qualidade no último terço do terreno e que perdia por 0-1 graças a uma bomba de livre do abono de família dos gauleses, Gareth Bale, num remate onde Joe Hart não ficou nada bem na fotografia.

Se até então os galeses tinham sido a melhor equipa, ainda que sem deslumbrar, na segunda parte assistiu-se a um verdadeiro massacre inglês. Vardy, o herói do campeão Leicester, e Sturridge, avançado do Liverpool, entraram para o lugar de Sterling e Kane, duas nulidades até então, com o primeiro a falhar de forma escandalosa o que deveria ter sido o golo inaugural da partida.

Nota para o novo posicionamento de Rooney, como 8, repleto de voluntarismo e abnegação, sem qualquer ponta de vedetismo, a dar tudo pelo seu país, como um capitão o deve fazer. Destaque também para a estreia do menino prodígio do Man Utd, Marcus Rashford, que assim se tornou o mais jovem deste europeu a jogar, superando o português Renato Sanches.

As alterações de Hogdson resultaram na perfeição, Vardy foi oportuníssimo ao aproveitar um mau corte do capitão Williams que o deixou na cara do guardião dos gauleses e Sturridge deu a dinâmica que faltou na primeira metade. As oportunidades sucederam-se mas o golo da vitória e que garante a liderança aos ingleses no final da segunda jornada apenas surgiu nos descontos.


Anexação da Alemanha
O título talvez seja demasiado exagerado pois o resultado foi um nulo, mas a verdade é que dentro das quatro linhas, a Polónia refez a história da segunda Guerra Mundial. Hoje foi a vez de anexar por completo os alemães, com os campeões mundiais a quase não conseguirem criar perigo junto da baliza de Fabianski. Os polacos souberam anular o jogo ofensivo dos germânicos e foram sempre mais perigosos. "Só" faltou maior inspiração na finalização, com a estrela da companhia, Lewandowski, frente a vários dos seus companheiros de clube, a ter uma noite desinspirada. Mas o pior foi mesmo o incrível falhanço do seu companheiro de ataque, Milik, que havia sido o herói da estreia, ao marcar o golo da vitória sobre a Irlanda do Norte, e que hoje falhou a menos de 2 metros da baliza de Neuer, com o guarda-redes dos alemães já batido.

O nulo engana, pois o jogo foi intenso, bem jogado e com oportunidades claras de golo, especialmente dos polacos, mas ficará para a história como primeiro nulo do Euro 2016.


Adeus Ucrânia
A surpresa do dia foi a vitória da Irlanda do Norte, que bateu a Ucrânia por 2-0, depois dos homens de leste terem dado tão boa impressão de si frente à Alemanha, onde um inspirado Neuer foi fundamental para a vitória dos campeões do mundo. Desta feita, com a obrigação de assumir o jogo, os ucranianos não estiveram à altura. Os norte-irlandeses souberam aproveitar o contra-ataque para levar a melhor e conseguirem uma inédita vitória numa grande competição. A perder por 1-0, a Ucrânia tudo fez para chegar pelo menos ao empate, numa partida marcada pela intempérie, cujo granizo chegou a obrigar a uma paragem e recolha ao túnel por um par de minutos. Mas esse esforço revelou-se infrutífero, pois foi mais com o coração do que com a cabeça, com as duas maiores estrelas, Konoplyanka e Yarmolenko, a serem insuficientes. O desespero dos ucranianos acabou por ser fatal, permitindo o golo de McGinn, que saltou do banco para selar o triunfo de uma equipa que até tem um jogador do quarto escalão inglês. Quem dizia mesmo que este Europeu estava repleta de equipas sem qualidade para este nível?

quinta-feira, junho 16, 2016

O galo que adora descontos


A França é a primeira equipa apurada para os oitavos-de-final do Euro 2016 após mais um jogo que apenas conseguiu resolver nos descontos. À imagem da estreia no Europeu, a França sofreu muito para conseguir deixar a nação a vibrar, mas parece que este Galo não resiste a um bom desconto.

As similaridades entre o jogo desta noite e aquele que Portugal ontem disputou foram várias, mas se Portugal não apareceu na segunda metade, os franceses tiveram falta de comparência na primeira. Didier Deschamps deixou no banco as duas estrelas dos gauleses, Pogba e Griezmann, depois das más exibições de ambos no encontro frente à Roménia. Mas a fórmula Martial e Coman, que tão bem entraram no jogo inaugural, desta vez revelou-se um rotundo zero. Especialmente o caso do menino 80 milhões do Man Utd, que esteve péssimo a todos os níveis. Coman, pelo contrário, até teve pormenores e momentos interessantes, mas não conseguiu resolver.

A outra similaridade com o jogo de Portugal foi o adversário, à imagem da Islândia, a Albânia foi uma equipa ultra defensiva, mas com grande combatividade e organização, assim como princípios de jogo muito interessantes, que deixaram uma excelente imagem deste estreante em grande competições. E foram mesmo os albaneses os mais perigosos nas poucas vezes que foram à área francesa na primeira metade, atirando ainda uma bola ao poste no início da segunda.

Porém, daí para a frente, o sentido de jogo foi único. Pogba ajudou a empurrar a equipa para a frente, num verdadeiro vendaval ofensivo dos franceses, que somaram oportunidades umas atrás das outras, onde se incluiu também uma bola ao poste. O golo só surgiria, contudo, ao minuto 90, com Antoine Griezmann, num improvável cabeceamento no meio dos centrais, apesar da sua baixa estatura, a quebrar o ferrolho albanês. O mais difícil estava feito e o Velodróme de Marselha vinha completamente abaixo.

E teve direito a dose dupla, com a grande figura deste Euro 2016 do lado francês, o médio ofensivo Payet, que voltou a marcar o segundo golo dos gauleses, como no encontro frente à Roménia, em mais um lance de grande classe, que está a deixar meia Europa de olho no jogador do West Ham que aos 29 anos parece estar finalmente ao seu melhor nível, depois de uma carreira irregular, onde a sua genialidade era por vezes anulada por vários momentos de apagamento.

Se a França passar a jogar em 90 minutos aquilo que fez nos segundos 45 esta noite, é claramente um dos favoritos deste Euro. Um Euro que muitos adivinhavam com goleadas a rodos, dada a participação de vários países pouco cotados, como a Albânia, Hungria, Islândia, País de Gales, etc., mas que já se viu, será bem mais equilibrado do que muitos esperavam.


Eslováquia foi a surpresa da tarde

Já durante a tarde, dois jogos de boa qualidade onde o grande destaque vai para a Eslováquia, que deixou a Rússia com pé e meio fora deste Europeu. Depois de ontem ter sido ameaçada de ser expulsa do Euro devido ao comportamento dos seus adeptos, os soviéticos mostraram que não precisam de empurrão da UEFA e que muito provavelmente irão já pelo seu próprio pé. Frente à Inglaterra conseguiu nos descontos evitar a derrota, que seria mais do que justa, mas desta vez não tiveram a mesma sorte. Após os golos de Weiss e Marek Hamsik (este um dos melhores golos da prova até ao momento) o melhor que os russos conseguiram foi reduzir nos últimos 10 minutos, mas já sem conseguirem o empate. Um resultado que deixa os eslovacos na luta pelo apuramento aos oitavos, depois da derrota na estreia frente ao País de Gales.

No outro jogo, Suíça e Roménia dividiram pontos, numa partida onde os suíços foram sempre mais equipa, mas se revelaram muito perdulários. Os romenos somaram o segundo penalty na competição, novamente convertido, parecendo não conseguir chegar ao golo de outra forma, apesar do ex-lateral do FCP Sapunaru ter atingido o poste num lance de cabeça. A Suíça está praticamente certa na fase seguinte com quatro pontos, enquanto os romenos também poderão lá chegar se vencerem a Albânia no último jogo da fase de grupos.

terça-feira, junho 14, 2016

Engolidos pelo vulcão islandês


Nem Portugal me parece o candidato que muitos parecem querer fazer crer, mais por estratégia de marketing que por valor desportivo, e muito menos a Islândia é um conjunto de turistas que foi ao Euro 2016 por acaso do destino.

Feita a introdução, e apesar do empate na estreia, também não considero que o resultado seja motivo para o habitual fado português. A equipa não jogou tão mal como isso e agora é uma questão de querermos ver o copo meio cheio ou meio vazio. Acho que o devemos ver meio cheio porque a equipa pode conseguir uma boa prestação e a estreia, já se sabe, nem sempre consegue pôr de lado os nervos e tensões. Veja-se muitas das exibições de teóricos favoritos. É verdade que vários ganharam, apesar de jogos menos conseguidos, como foram os casos da Espanha ou da Alemanha. Mas outros houve que não tiveram a mesma sorte, à imagem de Portugal, como foram os casos da Bélgica ou da Inglaterra.

A seleção lusa não entrou bem nos primeiros minutos e até poderia estar a perder antes do minuto 5, mas a partir do primeiro terço da etapa inaugural, Portugal encontrou a fórmula para ser feliz. O tão falado 4-4-2, com Nani e CR7 por dentro e dois médios normalmente mais interiores a jogar por fora, João Mário e André Gomes, deu lugar a um sistema híbrido que por vezes era mais um 4-3-3, graças ao posicionamento como terceiro médio no centro de André Gomes, uma espécie de camaleão desta equipa que foi a chave para desequilibrar a partida.

Com esta alteração Portugal começou a criar grande caudal ofensivo, curiosamente através de lances de finalização aérea, quer por Nani quer por Ronaldo, algo que poderia parecer impensável dada a maior estatura dos islandeses. Mas se a bola acabou por não entrar pelo ar, seria mesmo pelo chão que o golo surgiria. E claro, graças a um movimento de desequilíbrio do melhor jogador em campo da formação das quinas, André Gomes, que com um cento rasteiro da direita permitiu que Nani só tivesse de encostar.

O mais difícil parecia feito, mas como quem não mata morre, acabou por ser o vulcão islandês quem entrou em erupção. Bjarnason foi o responsável ao assinar o tento do empate ainda no início do segundo tempo. Uma descoordenação entre Pepe e Vieirinha, que deixaram o médio islandês na cara de Rui Patrício, sem qualquer hipótese de evitar o golo contrário.

Verdade seja dita, os islandeses pouco caudal ofensivo tiveram, mas sempre que chegaram à área portuguesa, fizeram-no com qualidade e perigo, podendo até chegar à vitória perto do fim, mas Patrício acabou por conseguir evitar.

É certo que Portugal teve sempre maior posse e volume ofensivo, mas a segunda parte foi bem mais fraca que a primeira. A equipa lusa pareceu acusar o golo e nunca se voltou a reencontrar. Porém, é preciso dar mérito aos islandeses, que apesar de muitas limitações técnicas, demonstraram princípios de organização e voluntarismo que foram fundamentais. A equipa nórdica é muito física, por vezes dura, mas o seu coração bate muito forte. E só poderia pois o vulcão que foram os seus adeptos em Saint-Éttiene contrariou a maioria de portugueses nas bancadas. Quem assistiu ao jogo na TV, como eu, dificilmente acreditaria que Portugal estaria em vantagem no estádio. E isso talvez tenha sido fundamental para o resultado que surpreende muitos.

O resultado acaba por aceitar-se, mas a haver um vencedor seria naturalmente Portugal, e Ronaldo teve na cabeça essa possibilidade, bem perto do fim, tal como Nani já o tinha tido antes. Mas o guardião islandês e alguma infelicidade na finalização não o permitiram.

A nível individual, destaque claro para André Gomes, o melhor da equipa portuguesa, mas também para Ricardo Carvalho, irrepreensível a todos e níveis, e para Nani, que apesar de apagado em muitos momentos, conseguiu não só o golo como aparecer sempre oportuno em várias oportunidades no último terço. A desilusão foi claramente João Mário, o pior da equipa, somou passes falhados e foi uma sombra do jogador que deslumbrou ao longo da época na Liga Portuguesa. Também João Moutinho parece muitos furos abaixo do que lhe conhecemos, algo que não surpreende dada a época marcada por lesões do médio do Mónaco. Vieirinha não convenceu igualmente e Ronaldo, apesar de não ter estado mal, não foi o homem decisivo que Portugal precisa. E quando assim é o sucesso da equipa das Quinas ficam sempre mais longe. A dependência do melhor do mundo é evidente!

Adivinham-se mudanças para o próximo jogo, onde Quaresma poderá entrar na equipa uma vez recuperado, mas onde Renato Sanches parece também à beira da titularidade depois de ter sido a primeira opção esta noite, dando uma resposta bastante mais positiva que Moutinho com as suas acelerações nas transições, que poderão dar outra alma à equipa.

A procissão ainda vai no adro e sinceramente não me parece que esta empate seja motivo para alarmismos, mas obviamente a margem de erro diminuiu consideravelmente, mas acredito que a equipa vai estar à altura e assegurar a vitória no Grupo F. O pior é depois, onde poderá vir ao de cima as limitações da equipa lusa, que me fazem considerar exagerada toda a expectativa que foi criada à sua volta nas últimas semanas. Tudo é possível, mas uma final parece-me um cenário distante do real valor desta equipa. Importante é vencer o grupo e depois pensar jogo a jogo, uma meta tão ambiciosa como a final não deveria ter sido traçada antes da partida do Euro...

Jantar com sabor a Itália


Grande jogo a fechar mais um dia de Euro 2016. Talvez o melhor até ao momento (confesso que não vi todos por estar de férias no país do Euro, mas longe dos estádios) pela intensidade e incerteza do resultado. Foi à hora do jantar que nos serviram este verdadeiro banquete de bom futebol, onde a pasta italiana se sobrepôs aos mexilhões belgas.

A Itália repetiu a ementa que tantas e tantas vezes serviu ao longo da sua história. Uma equipa mortífera e venenosa, que aproveita qualquer oportunidade para aniquilar o adversário. Foi assim que a formação transalpina se colocou em vantagem, num passe longo fantástico de Bonucci, a deixar Giacherinni nas costas da defesa belga, que com um domínio fantástico e uma finalização irrepreensível não perdoou.

Nada que surpreenda e que até se aceitava pois a Bélgica, uma das favoritas deste Europeu, entrou no jogo algo apática, à imagem do que fez no último Mundial, mas desta vez sem a desculpa do clima para justificar essa apatia.

Foi preciso o golo da Squadra Azzura para espevitar os belgas, que daí para a frente reagiram e assumiram uma postura distinta. Muita velocidade nas transições, contrariando até o normal jogo defensivo dos italianos que permitiram lances com o jogo partido, algo pouco habitual, que obrigou os defesas transalpinos a recorrer à falta e a somar amarelos para travarem lances de contragolpe dos belgas. E curiosamente esses lances apareceram em perdas na saída de bola, graças ao forte pressing imposto pelos diabos vermelhos.

Ambas as equipas dispuseram de oportunidades claras de golo, mas se no caso dos belgas, foi a falta de pontaria e excesso de atrapalhação no momento da verdade que impossibilitou o sucesso, no caso dos italianos foi mesmo Courtois, para mim o melhor guarda-redes da atualidade, com um punhado de fantásticas defesas quem impediu que os italianos matassem a partida.

Algo que viriam a conseguir no minuto final dos descontos, em mais um contra-ataque, aproveitando o desespero belga, para fechar o encontro, numa jogada que cumpre na perfeição o que deve ser um contra-ataque.

A justiça no futebol é algo completamente subjetivo, como este jogo o mostrou. A Bélgica tem uma seleção com mais talento, mais qualidade de jogo, mas que faz lembrar Portugal de há 20 anos, com excelentes equipas, mas a quem faltava killer instinct. Lukaku, Origi e Benteke são excelentes pontas-de-lança, mas todos eles tiveram temporadas modestas, talvez com exceção do primeiro, mas que no final da época se eclipsou. Hoje surgiu especialmente trapalhão, apesar de no melhor lance de que dispôs, ter estado bem, com o azar de ver a bola passar a milímetros do poste da baliza de Buffon.

Também De Bruyne foi uma sombra do enorme jogador que é, com várias decisões erradas, pelo que tudo recaiu no talento de Eden Hazard, que esteve em excelente plano, e da aposta na segunda metade, Dries Mertens, que desequilibrou em vários momentos, justificando mais tempo em campo.

Do lado italiano, o destaque, curiosamente, vai por inteiro para dois jogadores da Lázio de Roma, Candreva e Parolo. Ambos foram fundamentais no veneno que a Itália usou para vencer na estreia do Euro 2016, especialmente o primeiro, um verdadeiro vaivém do lado direito, que não só fechou bem mas que foi brilhante nas transições rápidas e nos desequilíbrios do último terço do terreno, como por exemplo na assistência para o golo que fechou a contenda. Também Immobile entrou muito bem, num momento em que havia muito espaço dado o desespero dos belgas na busca do empate. Palavra ainda para os alicerces desta equipa, Buffon e o trio de centrais, todos eles do campeão Juventus, que jogam juntos há vários anos e cuja experiência é fulcral numa equipa onde faltam as figuras e talento de outrora. Mas como o jogo desta noite o provou, mais importante que o talento individual dos belgas, é a consistência coletiva que os transalpinos mostraram.

Grande jogo e onde certamente ficamos convencidos que ambas as equipas reúnem condições para chegar muito longe neste Euro. Suécia e Irlanda não tiveram muita sorte nos adversários que lhes caíram em sorte, mas ambas têm também bastante valor pelo que este Grupo E do primeiro Europeu em versão mais alargada poderá ser uma espécie de grupo da morte.

sábado, junho 11, 2016

Não foi paio... foi Payet!


E assim começou o Euro 2016! Com um golo fantástico de Dimitri Payet que selou uma vitória sofrida e já quase inesperada da seleção da França no jogo inaugural, em pleno Stade de France.

Os gauleses defraudaram muitas expectativas e deixaram muitos pontos de interrogação na estreia. Serão tão favoritos como se pensava? Apesar de um meio-campo fortíssimo, os franceses sentiram muita dificuldade para criar perigo num último reduto dos romenos, graças a uma boa organização dos de leste, que nunca deixaram de olhar a baliza de Lloris.

E seriam mesmo os visitantes a ter a primeira grande ocasião de golo, numa defesa soberba do guardião do Tottenham, que evitou um arranque azedo dos franceses. Respondeu Griezmann com uma bola ao poste, mas apesar de maior caudal ofensivo, como seria de esperar da França, a primeira metade foi morna e sem grandes motivos de interesse. Apenas mesmo a genialidade de Payet, que com pormenores deliciosos dava algum sal à partida.

O segundo tempo começou como o primeiro, com a Roménia à beira do golo, que só apareceria a meio da etapa complementar, com um golo de cabeça de Olivier Giroud, a responder a um centro da direita do inevitável Payet, que já tinha oferecido outro a Pogba minutos antes.

O extremo do West Ham foi sem dúvida a estrela da partida, que teve de puxar dos galões para suprir os eclipses das estrelas da companhia, Paul Pogba e Antoine Griezmann, ambos substituídos por Deschamps.

Mas a vantagem durou pouco, com Stanciu a repor a igualdade ao converter uma grande penalidade por si sofrida após falta de Patrice Evra.

Os franceses rapidamente vieram à procura da vitória, mas sem grande discernimento, com Coman e Martial a pouco acrescentarem, a não ser velocidade no caso do primeiro. Por isso, quando já estávamos dentro dos 5 minutos finais, os nervos eram imensos e já só um lance de génio parecia capaz de evitar tão grande balde de água fria nos Bleus.

O lance surgiu. E não foi sorte (ou paio, como se diz de forma mais corriqueira). Tinha mesmo que ser Payet! Um golo de outro mundo do extremo, já adaptado a 10 após a saída de Pogba. Uma jogada individual com um remate fortíssimo de pé esquerdo de fora da área ao ângulo superior esquerdo da baliza romena.

O champanhe saltou das garrafas. Era finalmente hora de uma França ainda a recuperar do choque de vários atentados do último ano sentir um momento de verdadeira alegria!

A procissão ainda mal saiu do adro, mas Payet parece já um forte candidato a uma das grandes figuras do Euro 2016. E quiçá lhe possibilitará voos maiores que os londrinos do West Ham.

A França terá de dar um salto qualitativo se quer chegar ao título, como aconteceu em outras ocasiões onde organizou um grande evento: Euro 1984 e Mundial 1998. Mas é preciso descontar os nervos da estreia, pelo que certamente esta vitória arrancada a ferros poderá dar outra tranquilidade aos gauleses.

Uma palavra para a Roménia que, apesar de ser uma seleção com muitas limitações, demonstrou qualidade para poder sonhar com a passagem à fase seguinte. Organização foi a palavra-chave desta formação que há muito estava afastada dos grandes palcos do futebol.

P.S.: Depois de um ano sem escrever, um momento como o Euro é suficientemente motivante para voltar à escrita. Até porque permite ficar afastado das questiúnculas pequenas das rivalidades do futebol nacional.Vou tentar acompanhar com crónicas alguns dos principais jogos do Europeu de França ao longo das próximas semanas.

P.S.2: Estou em França e sem dúvida que assistir na rua ao arrancar de uma competição desta dimensão e com a seleção da casa em ação é uma experiência única. Mesmo numa cidade onde não passará o Euro. O medo do terror parece afastado quando a bola começa a rolar. Que tudo corra pelo melhor e que seja uma grande festa! Pelo menos tive oportunidade de a viver quase por dentro neste arranque.