domingo, julho 27, 2014

Um Marco de estabilidade


Apesar da mudança de treinador, o Sporting é sem dúvida a equipa que parte com uma melhor base para a nova época, o que poderá ser decisivo no arranque. Saiu Leonardo Jardim e entrou Marco Silva (pessoalmente considero um upgrade entre dois excelentes técnicos), mas a base criada pelo madeirense está lá toda. Até agora ninguém relevante saiu e Marco Silva viu ainda entrar uma mão cheia de reforços (serão?? ou apenas alternativas razoáveis??).

O Sporting pode ter menos estrelas que os dois eternos rivais, mas no futebol por muitas estrelas que existam, criar uma equipa leva o seu tempo. Marco Silva já a herdou e agora só tem de a aperfeiçoar com o seu cunho pessoal. Vendo pelo início desta pré-época, nem um único reforço entrará no onze dado que quem já lá estava é melhor (talvez João Mário seja a excepção mas é um miúdo da casa que estava emprestado).

Resta apenas saber se ainda alguém sairá (Rojo é quase certo mas não será por aí que a equipa abanará). O grande desafio será suprir uma eventual saída de William Carvalho, de longe o melhor jogador da equipa. Também uma venda de Slimani poderá causar mossa, mas tudo o resto é facilmente substituível sem que se notem grandes diferenças.

A presença na Champions League poderá ser a principal muralha ao crescimento deste Sporting. Depois de uma boa época (qualquer coisa seria boa tendo como referência o annus horribilis anterior), o desafio é jogar toda a temporada (ou uma boa parte dela) ao fim-de-semana e a meio da semana. Terão estes jogadores estaleca para tal? Poderá o previsível insucesso na Champions influenciar negativamente a equipa entre portas?

Já todos sabemos que os recursos em Alvalade são muito inferiores aos da Luz e do Dragão, mas não faltam casos de sucesso noutras ligas com realidades semelhantes, ainda que a outra escala, como o Atletico de Madrid o ano passado ou o Borussia de Dortmund há dois e três anos. Até um Liverpool com muito menos recursos que outros gigantes britânicos ia vencendo a Premier League na última época.

É verdade que poucos jogadores do Sporting seriam titulares no FCP ou SLB (neste último caso contando que ainda vêm aí reforços de peso), talvez William Carvalho e pouco mais, mas em termos colectivos, pelo menos para já, este Sporting é infinitamente superior aos rivais. Um arranque forte e poderemos ter, finalmente, um Sporting novamente como favorito ao título nacional.

quinta-feira, julho 17, 2014

Quando manter o treinador não é uma vantagem

Em 99% das vezes, manter o treinador é sinónimo de vantagem e estabilidade, ainda para mais quando o treinador é muito competente e os rivais têm um novo técnico à frente dos seus comandos. Mas há o 1% em que tal não se verifica, e é aí que se enquadra o SL Benfica 2014/2015.

A Tripleta da temporada passada e a manutenção de Jorge Jesus seria uma grande vantagem não fosse o êxodo encarnado. Lei do Mercado? Vontade dos Jogadores? Necessidade Financeira? É difícil saber, mas pessoalmente inclino-me para a última, uma vez que já estão nos cofres da luz 30M€ das vendas de Garay, Markovic e Oblak e o mais caro investimento foi um tal de Talisca, desconhecido médio proveniente do Bahia, que custou 4M€.

Do onze que levou a nação benfiquista à época quase perfeita, sobram Luisão, Maxi e Lima (Fejsa vai falhar meia época por lesão) e, por enquanto, Gaitan e Enzo Pérez, mas com grandes probabilidades de serem os próximos a sair e a aumentar a receita para um valor a rondar os 80M€ (ainda se irá juntar Djuricic, soube-se hoje, e quiçá Cardozo e Artur mas estes 3 não são pedras-chave da estratégica).

Construir uma equipa do zero é o desafio lançado a Jorge Jesus, mas por muito bons que sejam os jogadores (até ver não há um único reforço que seja um titular indiscutível, parecendo mais provável que suplentes como Artur, Jardel, Sílvio - se ficar e quando recuperado - Ruben Amorim, André Almeida, Suleijmani ou Cardozo se assumam como titulares em detrimento dos reforços) é utópico pensar-se que a máquina estará oleada e a carburar em pleno antes de novembro ou dezembro.

Claramente, o SLB perde a vantagem de manter o treinador, pois Jesus tem de trabalhar do zero porque se ele ficou, a debandada dos craques foi geral. Resta saber quem mais virá para a Luz, mas com mais de 15 dias de trabalho, não há guarda-redes titular, não há um único médio defensivo a fazer pré-época, falta um substituto para a quase certa saída de Enzo (Talisca até poderá surpreender, mas vindo do lentíssimo futebol brasileiro, levará por certo algum tempo para se adaptar ao futebol europeu) e um parceiro para Lima com as características de Rodrigo. Falta quase tudo, mas faltam apenas 20 dias para o primeiro jogo da época com um troféu em disputa... Resta saber o que dirá Jesus de tudo isto quando voltar a falar à imprensa.

Uma coisa é certa, se as coisas correrem mal, não será sobre o técnico encarnado que a família benfiquista irá cair, pois não foi por certo Jesus a desejar a partida do seu onze de sonho.

quarta-feira, julho 16, 2014

A magia de desaparecer


Foi a novela pré-mundial em Portugal. A não convocação de Ricardo Quaresma, cujas artes circenses, para alguns, iriam fazer da nossa Seleção uma equipa mais forte. Pessoalmente não podia estar mais em desacordo. É um jogador anárquico, individualista, que quebra qualquer dinâmica coletiva de uma equipa. Claro que tem enorme magia na ponta das botas e é capaz de verdadeiros momentos de puro deleite dos adeptos de futebol, só que isso é muito curto para 90 minutos de jogo.

E a verdade é que tudo parece indicar que o seu maior ato de magia consiste mesmo em fazer-se desaparecer. Qual Harry Potter. Foi assim no Barcelona, no Inter, no Chelsea até quase desaparecer de vez nas Arábias. O FCP ressuscitou-o mas terá sido para o eclipse final.

Aos 30 anos (faz 31 daqui a 2 meses), vê entrarem no Dragão os homens de confiança de Julen Lopetegui (que gosta pouco de fossanguices não fosse um dos discípulos do Tiki-Taka): Tello, Adrian, Oliver e por confirmar Brahimi. Todos jogadores que estão à frente de Quaresma nas opções, mesmo apesar de Oliver e Brahimi jogarem preferencialmente pelo meio, também podem ser opção nas alas. E até Quintero lá poderá aparecer nas faixas...

Será que o mágico do Dragão se prepara para esconder debaixo da sua capa porque está destinado a ser a 4ª opção nas faixas laterais? Dirá Paulo Bento agora: E o Burro sou eu? (mas sem o sotaque de Scolari)

P.S.: O FCP está a construir uma equipa muito forte seguindo a fórmula de sucesso do SLB nos últimos anos. Apostar no mercado europeu. Tello, Adrian, Oliver, Martins Indi, Brahimi são todos eles excelentes reforços e ainda falta fechar o lugar 6. A confirmar-se Clasie, equipa de grande nível garantida no Dragão.

domingo, julho 13, 2014

...E no fim ganha a Fórmula Guardiola


E quatro anos depois, repetiu-se o prolongamento, a vitória pela margem mínima nos últimos 10 minutos do tempo extra e, acima de tudo, a vitória do sistema de Pep Guardiola. Ganharam os melhores. Ganharam os que sabem fabricar o sucesso. Depois de terem batido no fundo há mais de uma década, a Mannschaft repensou o seu rumo, apostou na formação (aquilo que Scolari destruiu por completo em Portugal) e hoje é a par da Espanha o maior viveiro de talentos do futebol mundial.

E se já ameaçavam os grandes títulos, Pep Guardiola acabou por ser impulsionador. Indiretamente ganha o seu segundo Mundial seguido sem nunca ter treinado uma seleção. Criou o Tiki-Taka em Barcelona, que foi a base do sucesso da Espanha nos últimos anos. Agora no Bayern, traduziu a sua fórmula para Tiki-Taken e deu a base à Alemanha para ser campeã do mundo. E foi precisamente com Goetze a ponta-de-lança (invenção de Pep) que o título chegou.

Hoje nem foi o melhor jogo dos alemães, muito graças ao enorme coração argentino, a disputar cada bola como se fosse a última, com uma enorme solidez defensiva (e foi apenas isso todo o Mundial), que manietou o Tika-Taken dos novos campeões do mundo. O duplo pivot Mascherano-Biglia (o jogador do Barça foi de longe o melhor jogador do Mundial dos alvi-celestes... pelos vistos para a FIFA foi o Messi! A sério que não é piada??) foi a base do sucesso que trouxe a Argentina até à final, uma antítese do que é o legado do futebol argentino, mas com um treinador tão mau, só desta forma os sul-americanos conseguiram lá chegar.

Até foram os argentinos a dispor das melhores ocasiões, com Higuain, na primeira parte, a falhar a baliza completamente isolado, após enorme asneira de Kroos, e na primeira metade do prolongamento, o mesmo filme, mas com outro protagonista, Rodrigo Palacio a atirar o chapéu a Neuer para fora. Já para não falar de uma oportunidade clara de Messi no início da segunda parte, também ele a desviar em demasia o seu remate (Neuer não fez uma defesa. Nem uma!)

Os germânicos ressentiram-se da lesão no aquecimento de Khedira (jogou o pouco conhecido Kramer) e da solidez do adversário, que tornaram muito menos fluído o seu futebol. E o titular improvável também não foi feliz saindo por lesão à meia-hora, entrando Schurrle, derivando Ozil para o centro do meio-campo. E seria o jogador do Chelsea a conseguir levar perigo pela primeira vez, aos 37, num remate de fora da área que Romero evitou com grande defesa. E antes do intervalo, a melhor oportunidade do jogo, num canto de Kroos a terminar com cabeceamento de Howedes no poste esquerdo da baliza da Argentina.

Foi um jogo muito intenso, com poucas oportunidades, onde os alemães foram sempre uma equipa mais forte coletivamente, mas que raramente conseguiram ver o outro lado do muro argentino. A lesão de Di Maria deu ainda mais consistência defensiva aos das Pampas, mas roubou a velocidade supersónica do extremo. A formação de Messi (apareceu a espaços mas muito longe do seu real valor. A sério que não estavam a brincar quando recebeu o prémio de melhor do Mundial??) jogou novamente no erro do adversário (desta vez não os aproveitou) e em bolas nas costas da defesa alemã.

Num Mundial de sonho, a cereja no topo do bolo acabou mesmo por ser o golo que decidiu o jogo. Não só porque evitou que tudo terminasse num nulo (o que seria irónico dado o enorme número de golos marcados), mas pela execução extraordinária de Mario Gotze. Uma arrancada de Schurrle na esquerda, deixando para trás toda a defesa argentina, com um cruzamento ao primeiro poste que o pequeno Goetze parou no peito e de primeira atirou de pé esquerdo, cruzado, ao poste mais distante, sem hipótese para Romero. Um hino ao futebol!

Estava encontrado o vencedor. E como quase sempre acontece, ganharam os melhores. A Alemanha foi a melhor seleção deste Mundial, a muitos quilómetros de distância das restantes equipas.

MVP: Bastian Schweinsteiger - Foi um gigante! Esteve em todo o lado. Cortou, construiu, levou porrada de todas as maneiras e feitios, sangrou do rosto, mas foi ainda ele quem foi parar Messi ao minuto 120, demonstrando que deve ter mais pulmões que o comum dos mortais. Aos 29 anos, continua a ser um dos melhores médios do mundo e pena que algumas lesões o tenham limitado nos últimos anos.

quinta-feira, julho 10, 2014

Romero foi o mais Kru(e)l



Num jogo que parecia não ter balizas, acabaria por ser o guardião de uma deles a vestir a pele de herói. E como desta vez não houve Krul, Sergio Romero demonstrou que a história não se repete duas vezes, levando a sua Argentina à final do Mundial, 24 anos depois, para tentar vingar a derrota que aí sofreu precisamente frente à Alemanha (na altura ainda RFA).

Foram 120 minutos penosos. Duas equipas mais preocupadas em defender do que em atacar e onde as figuras maiores foram os centrais Vlaar e De Vrij, do lado laranja, e Mascherano e Garay, no lado dos das Pampas. Mas o veterano médio (ou central no Barça) é quem mais elogios merece. Foi extraordinário e salvou a Argentina da derrota nos descontos do tempo regulamentar, com um corte providencial, evitando o golo de Robben (nunca se conseguiu soltar das amarras), arranjando forças onde já parecia ser impossível descobri-las.

A Holanda foi a seleção que nos habitou neste Mundial, excelente defensivamente e taticamente, mas que nunca teve oportunidade de explorar os erros adversários de forma venenosa, como noutro jogos, pois simplesmente a Argentina também foi perfeita a defender. E apenas a defender pois ofensivamente sentiu em demasia a ausência de Di Maria. A camisola de Messi parece que andou pelo relvado, mas apenas isso pois aquele que para muitos é considerado o melhor do mundo não se viu em São Paulo.

Só mesmo as grandes penalidades poderiam decidir este jogo que apenas no prolongamento teve um ou outro momento de suspense. Ninguém fez muito para passar pelo que é difícil falar em merecimento. Resta agora saber que final teremos no Maracanã. Uma coisa é certa, uma nação canarinha irá gritar a plenos pulmões pelo adversário que lhe provocou a maior humilhação da sua história. Caso contrário, dificilmente o Brasil voltará a querer organizar um Mundial pois são demais os episódios traumáticos e ser salão de festas do maior rival é um pesadelo quiçá maior que a goleada alemã.

terça-feira, julho 08, 2014

O Massacre do Mineirão



No dia 2 de outubro de 1992, o Brasil vivia uma das mais negras páginas da sua história, com o Massacre de Carandiru, um estabelecimento prisional em São Paulo, que terminou com a morte de mais de uma centena de pessoas. Esta noite, no Estádio Mineirão, escreveu-se a página mais negra da história do futebol brasileiro.

Como aqui referi há dias, a superioridade tática da Alemanha não merecia dúvidas, assim como a qualidade individual. Mas ousar pensar neste desequilíbrio nem o mais louco poderia imaginar.

Os erros defensivos do Brasil estiveram ao nível de uma equipa de infantis. David Luiz completamente perdido (deve ter feito o pior jogo da sua carreira), Marcelo constantemente a pôr os avançados alemães em jogo (em pelo menos dois golos), só para citar dois exemplos. Foram erros individuais. Foram erros coletivos. Foi o pesadelo, com o resultado em 0-5 em 30 minutos de jogo (4 deles em menos de 10 minutos).

Não vale a pena bater mais no ceguinho, a seleção brasileira não tem nada a ver com outras que conquistaram o mundo. Não tem grande talento para além de Neymar e tem um treinador que possui grande capacidade motivacional, mas é um autêntico zero em tudo o resto.

Do outro lado, um autêntico carro de assalto. Uma equipa que domina o jogo, é dona da bola, defende com grande rigor e com um conjunto de talentos ímpar. São os grandes favoritos ao título mundial e sem dúvida que o merecerão. Apenas a Holanda poderá impedi-lo, creio, porque uma final Alemanha-Argentina temo que poderá ser a repetição do Massacre de hoje (o que seria uma enorme alegria para o povo brasileiro).

E com isto tudo, quase que passa despercebido o enorme feito de Miroslav Klose que se tornou hoje no melhor marcador da história dos Mundiais com 16 golos. O seu colega Thomas Muller poderá batê-lo já daqui a quatro anos (já leva 10 tentos e tem apenas 24 anos).

domingo, julho 06, 2014

O toque de Midas de Van Gaal


Não sei quem dos quatro semi-finalistas vai ser campeão do mundo, mas uma coisa é certa, Louis Van Gaal é de longe o melhor treinador ainda em prova. Já não bastava a transformação da matriz holandesa com mais de 30 anos, o Futebol Total de Cruyff, ainda teve a ousadia e a mestria de substituir o guarda-redes nos descontos do prolongamento, fazendo entrar Tim Krull que defenderia duas grandes penalidades, apurando a Holanda para a meia-final onde terá pela frente a Argentina de Messi.

O jogo teve quase apenas um sentido. Sempre com Robben em excesso de velocidade, a laranja foi sempre superior, dominou de início ao fim e apenas foi obrigada a decidir na lotaria dos penalties porque Keylor Navas é um guardião extraordinário e porque os deuses pareciam torcer pelos Ticos, com dois grandes pontapés de Wesley Sneijder a serem devolvidos pelos ferros da baliza de Navas. É certo que Umaña até podia ter dado a vitória aos costa-riquenhos à beira do minuto 120, mas foi praticamente a única jogada de perigo em todo o jogo.

A lei do mais forte raramente funciona nas grandes competições, mas a verdade é que as duas seleções mais fortes dos dois principais continentes do mundo do futebol (Europa e América do Sul) estão nas meias (tendo em conta que a Espanha se eclipsou... graças à Holanda).

Serão duas equipas mais fortes coletivamente, muito mais desenvolvidas e competentes em termos táticos, contra a habitual anarquia, coração e magia dos sul-americanos. Os prognósticos dos quartos saíram-me quase totalmente errados (salvou-se este jogo), mas volto a arriscar e aposto numa final europeia no Maracanã. E no fim... ganha a Alemanha (Lineker dixit).


sexta-feira, julho 04, 2014

Central do Brasil



Intenso. Vibrante. Elétrico. O Brasil está nas meias-finais do Mundial e desta vez mereceu-o. Fez os seus melhores 45 minutos na Copa, com uma atitude, alma e querer que não se tinham mostrado até agora. Depois do choro, que tanta discussão tem suscitado no Brasil, veio a raiva.

Foi com uma vontade férrea que o Brasil entrou no jogo. Quiçá porque sentiram que só assim poderiam vencer a seleção que melhor tinha jogado até ao momento. Pressão muito alta, uma capacidade de luta ímpar (até Neymar e Hulk vinham atrás recuperar bolas como se a sua vida dependesse disso) e um golo madrugador deixaram a Colômbia sem reação.

Assim foi todo o primeiro tempo, com o guarda-redes Ospina a evitar por mais do que uma vez o avolumar do marcador. Os equívocos táticos de Scolari foram os mesmos, mas com a entrada avassaladora, nem se notaram (exceto Óscar que nem se viu no jogo).

Perguntava-se onde estava a Colômbia que tinha maravilhado o mundo. Desorganizada, com uma organização defensiva débil e que apenas num ou noutro lance conseguiu criar perigo.

Obviamente, seria impossível para o Brasil manter aquele ritmo. Pekerman mexeu ao intervalo, tirando Ibarbo e colocando Ramos, tentando emendar a mão das opções erradas no onze. A máxima "em equipa que ganha não se mexe" não foi seguida e custou, em parte, a eliminação. O técnico argentino pensou pequeno e achou que tinha de se adaptar ao adversário, quando demonstrou ser muito superior ao Brasil ao longo de todo o Mundial.

A Colômbia foi para cima do Brasil, mas nunca conseguiu violar o último reduto canarinho, onde Thiago Silva e David Luiz foram gigantes. Não só marcaram os dois golos do escrete, como foram de longe os seus melhores em campo. O ex-Benfica marcou um dos golos deste mundial, num livre a mais de 30 metros da baliza, com a bola a fazer um efeito a fugir ao guarda-redes entrando na gaveta. O estádio veio abaixo e parecia que estava dada a estocada final.

A entrada de Bacca mudou esse sentimento (substituiu o irreconhecível Cuadrado). O avançado do Sevilha conquistou um penalty que James converteu e com 10 minutos para jogar tudo era possível. Foi hora do coração brasileiro ficar nas mãos mas foram poucos os momentos de real sobressalto.

Com este coração o Brasil pode sonhar. A ausência de Thiago Silva (viu amarelo) da meia-final será importante baixa (e resta saber a gravidade da lesão da estrela Neymar), num jogo onde veremos se o calor brasileiro derrete o gelo alemão. Uma final antecipada cujo vencedor será claramente o favorito da final.

E no fim ganha a Austeridade



O pior que pode acontecer num jogo de futebol em que a Alemanha está em campo é os germânicos colocarem-se em vantagem. E se for cedo ainda pior. Quando ainda nada tinham feito para se adiantarem, um lance de bola parada, concluído por Hummels de cabeça, deu a vantagem que não mais se alterou.

O jogo foi jogado a um ritmo muito lento, mas com a França a conseguir ser mais perigosa. A Alemanha dominou a posse de bola (que novidade!) mas com uma vantagem tão madrugadora, parece que o jogo deixa de ter balizas. Manietou por completo o papa-léguas Pogba acabando por ser a outra gazela francesa, Blaise Matuidi, a conseguir ser o desequilibrador.

Os lances de perigo criados pelos gauleses nunca foram de golo eminente e surgiram quase sempre a partir das alas, onde Griezmann acabou por ser o mais endiabrado (talvez por isso era o que chorava mais no final), arrancando vários amarelos aos adversários.

E quando se pensou que nos últimos minutos a França poderia encostar a Alemanha lá atrás, o erro de Deschamps, ao tirar Cabaye para fazer entrar Remy partiu a equipa por completo. Perdeu o meio-campo e a melhor oportunidade seria mesmo de Schurrle, que num contra-ataque em vantagem numérica, não conseguiu ultrapassar Lloris. Benzema ainda teve nos pés uma última oportunidade, no derradeiro segundo do jogo, mas Neuer não tremeu e impediu o prolongamento.

A Alemanha é uma equipa na verdadeira aceção da palavra. Domina o jogo, é austera na forma como ganha as partidas, não deixando o adversário jogar e em golpes cirúrgicos decide a seu favor. Parece que os relvados são só uma extensão da realidade social e económica europeia...

Nas meias, a Alemanha terá pela frente um de dois adversários completamente distintos. Se for o Brasil, só por milagre a formação germânica não é um dos finalistas. A capacidade coletiva de uma e outra equipa é de uma diferença confrangedora. Se, por outro lado, tiver a Colômbia como adversária, o fogo e velocidade dos Cafeteros poderá ser o mais difícil adversário que os alemães poderão ter. Já se viu com Gana e Argélia a dificuldade que têm perante este tipo de futebol...

A França fez uma excelente campanha para quem esteve à beira de nem sequer se qualificar. Faltou a estrela maior, Ribery, que tanto jeito tinha dado, mas tem tudo para ser um dos favoritos no Europeu que decorrerá em casa. Matuidi e Pogba são extraordinários e há ainda muitos jovens valores como Griezmann, Varane, Remy, Mangala, entre outros, que são o futuro desta equipa.

quinta-feira, julho 03, 2014

Prognósticos - Quartos-de-Final


Fazer previsões é sempre arriscado, até porque para adivinhar, dava mais jeito os números do Euromilhões. Mas aqui fica o arriscado exercício de previsão dos desfechos dos Quartos-de-Final do Campeonato do Mundo.

  • França-Alemanha - Vencedor: França
Prevê-se um jogo muito equilibrado onde a chave de decisão será o meio-campo. Não é difícil adivinhar que a Alemanha tenha mais posse de bola, mas o grande momento que a seleção francesa parece atravessar, leva-me a arriscar na vitória dos Gauleses. Entre todos os jogos, este é o mais imprevisível, na minha opinião.

  • Brasil-Colômbia - Vencedor: Colômbia
O Brasil vai entrar amedrontado perante o poderio que a Colômbia tem demonstrado neste Mundial. Os Cafeteros são melhores do que a formação da casa e acredito que vão provocar uma depressão profunda no sentimento do povo brasileiro. Mas para se ganhar a Copa é importante ter um treinador minimamente competente (bem sei que o Scolari já venceu no passado, mas desta vez já não há Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e companhia e Neymar não chega para tudo).

  • Argentina-Bélgica - Vencedor: Bélgica
Nem a inspiração de Messi e Di Maria vai valer desta vez à Argentina. Perante uma seleção fortíssima como a belga, só por milagre se consegue vencer com aquele meio-campo composto por dois trincos que ficam a quilómetros dos colegas mais adiantados. Ou Sabella se torna um iluminado de um dia para o outro, ou com aquele sistema tático, os argentinos vão juntar-se ao grupo dos deprimidos que veem a decisão em casa, como os seus arqui-rivais Brasil.

  • Holanda-Costa Rica - Vencedor: Holanda
A Costa Rica é a grande surpresa deste Mundial, mas apesar da Holanda não ser um bicho papão, os Ticos parecem ter atingido o seu máximo quando muito sofreram para eliminar a Grécia de Fernando Santos. Apenas fica a curiosidade maior de ver a Holanda a ser obrigada a assumir o jogo, algo que tem evitado fazer (só frente à Austrália não adotou a postura ultra-defensiva que tem sido habitual e viu-se o belo resultado que deu...), dado que é pouco crível que a Costa Rica queira assumir as rédeas da partida.

quarta-feira, julho 02, 2014

O que aprendemos com os oitavos


Os oitavos-de-final da Copa do Mundo terminaram ontem e são várias as conclusões que podemos tirar. Aqui vão elas!

  • Afinal o calor e humidade não são tão maus para os Europeus (é que já são a confederação em maioria nos quartos... 4 equipas do velho continente, contra três da América do Sul e uma da América Central)
  • As equipas que venceram os grupos eram mesmo mais fortes (passaram os oito vencedores dos grupos)
  • Um nulo não é sinónimo de falta de interesse. Basta ver que três jogos terminaram 0-0 no tempo regulamentar (todos foram decididos no prolongamento) e foram todos eles espetáculos de grande qualidade, em especial o Bélgica-EUA
  • Este é o Mundial dos grandes jogos, dos muitos golos (já ultrapassou largamente o número de tentos da última Copa) e das decisões difíceis (apenas três jogos dos oitavos foram decididos nos 90 minutos. Os restantes cinco foram a tempo extra e dois terminaram nas grandes penalidades)
  • Há novas potências a surgir no futebol mundial: Costa Rica, EUA, Argélia e Chile mostraram que são capazes de lutar de igual para igual com equipas mais fortes sendo que os Ticos ainda continuam em prova.
  • Ainda é possível a final mais desejada de todas, Brasil-Argentina, mas a incompetência dos seus treinadores (os mais fracos dos que se mantêm em prova) torna muito difícil acreditar nisso.
  • Os guarda-redes são as grandes estrelas deste Mundial. Júlio César, Mbholi, Ochoa, Navas e Tim Howard foram os Melhores em Campo para a FIFA em cinco dos oito jogos e Enyama da Nigéria apenas não o foi também porque borrou uma grande exibição à beira do fim, que ditou a derrota da sua equipa.
Agora venham os quartos que este Mundial não devia acabar nunca, tal a qualidade dos jogos!

Chocolate Belga

Até faltou o fôlego! Que jogão! Talvez o melhor do Mundial. Golos, para que vos quero? O terceiro nulo no tempo regulamentar nestes oitavos e o terceiro que se resolveu no prolongamento, depois de Alemanha e Argentina terem seguido em frente da mesma forma. E todos eles grandes jogos de futebol, repletos de emoção e onde quase não se notou a falta do sal do futebol .

O jogo que fechou os oitavos do Mundial foi provavelmente o melhor jogo do torneio. Tim Howard, guardião norte-americano, foi o herói ao adiar o inevitável. Aguentou estoicamente o nulo até ao final dos 90 minutos, com defesas impossíveis, a tantas oportunidades que os dedos das mãos foram insuficientes para contar. A Bélgica era considerada pela maioria das casas de apostas como uma das cinco maiores favoritas, mas apesar de ter ganho o seu grupo com três vitórias, o futebol apresentado levantou muitas dúvidas a quem lhe tinha concedido esse favoritismo. Esta noite a resposta foi cabal. Uma degustação do mais fino chocolate belga, numa avalanche de futebol ofensivo que os EUA nunca conseguiram parar, excetuando Howard. De Bruyne, Hazard, Mertens, Origi e depois Mirallas e Lukaku estiveram em grande destaque, com constantes combinações ou fintas quer permitiram a criação de mais de uma dezena de oportunidades claras, que chegaram e sobraram para resolver o jogo no tempo regulamentar. E na defesa, o capitão Kompany foi um gigante que travou quase tudo.

Mas a verdade é que no último minuto dos 90, os EUA falharam a sua mais clara oportunidade que tiveram, com Wondolowski a falhar na cara de Courtois, o que seria o maior golpe de teatro do Mundial. Só mesmo no prolongamento os diabos vermelhos conseguiram derrubar a armada americana em dois golos construídos e concluídos por De Bruyne e Lukaku, no primeiro com o médio a concluir jogada do recém-entrado avançado e o segundo com os papéis invertidos entre os dois protagonistas.

Tudo parecia resolvido mas no último fôlego os EUA demonstraram que a resiliência é o seu nome do meio. Julian Green fez um grande golo e relançou a partida logo no início da segunda parte do tempo extra. A Bélgica encostou-se atrás e por mais do que uma vez o empate esteve á beira de acontecer, mas Courtois ou a falta de pontaria salvaram os belgas, no que seria uma tremenda injustiça para os homens de Marc Wilmots.

A Bélgica mostrou porque é uma das favoritas e parece claramente melhor preparada do que a Argentina, seu próximo adversário. Porém quem tem Messi e Di Maria pode ganhar a qualquer equipa, mesmo com um treinador medíocre.

Palavra final para os EUA, saem do Brasil com uma imagem fortalecida. São referência no desporto mundial, mas nunca o foram no Futebol. Estão no bom caminho e parecem ter despertado o país para as maravilhas deste desporto. Não são um primor de criatividade, mas como se de um exército se tratasse, tem uma organização férrea e cumprem com rigor os princípios básicos do jogo, se produzirem um ou dois talentos acima da média, este grupo de soldados poderá sonhar com outros voos.

terça-feira, julho 01, 2014

Argentina aos pedaços

O título de campeão do mundo parece uma miragem, mas o de pior treinador da prova, não há dúvida nenhuma: Alejandro Sabella. A formação da Argentina é um disparate pegado em termos de construção tática. O fosso de quilómetros entre os dois médios centro e os avançados é absurdo. Gago e Mascherano são trincos puros, com pouca capacidade ofensiva, partindo por completo a equipa das pampas, com um buraco enorme entre este duo e os quatro da frente.

A sorte dos argentinos acaba mesmo por ser o talento, principalmente de Messi e Di Maria. Mesmo sem princípios táticos, a equipa sul-americana está nos quartos-de-final, num jogo com um final impróprio para cardíacos, com o extremo do Real Madrid a concluir grande jogada de Messi (quando partiu para cima dos três adversários que o separavam de Benaglio, foi fácil adivinhar que o golo ia aparecer) aos 117'. Mas no último fôlego os suíços tentaram tudo, com o guarda-redes suíço ao barulho, e Dzemaili, médio do Nápoles, a acertar no poste de cabeça.

Os penalties seriam sem dúvida o desfecho mais justo pois a Suíça foi superior em toda a primeira parte, esteve perto de marcar várias vezes, algo que Romero impediu várias vezes. No segundo período a Argentina foi para cima (muito semelhante ao que aconteceu ontem com a Alemanha) e foi a vez de Diego Benaglio brilhar. O prolongamento foi mais repartido, num jogo com muitos momentos de emoção, apesar do nulo quase até final e com uma mão cheia de pormenores técnicos de fazer água na boca, com Shaquiri do lado suíço (tem mesmo de sair do Bayern pois merece jogar a tempo inteiro num grande clube mundial. Protagonizou momento delicioso a fazer peito ao árbitro, com o seu ar de porteiro de discoteca, quando este involuntariamente o desarmou num ataque rápido) e os inevitáveis Messi e Di Maria do lado argentino.

Ao sétimo jogo dos oitavos, este é o quarto a ir a prolongamento, o que demonstra o equilíbrio que se tem verificado. Esta Argentina pode continuar a sonhar, mas daqui para a frente, face ao maior poderio dos adversários, dificilmente a magia individual será suficiente face ao equívoco tático que é esta equipa.

Anestesiados pelo perfume africano

Grande jogo de futebol a fechar o terceiro dia dos oitavos-de-final em Porto Alegre. O nulo no final dos 90 minutos poderia contrariar esta ideia, mas a verdade é que as oportunidades sucederam-se para ambos os lados.

A Alemanha surgia como claríssima favorita, mas após os primeiros 45 minutos, ficava a dúvida sobre quem seria de facto o mais forte. É que a Argélia surpreendeu por completo os alemães, que pareciam convencidos de que com serviços mínimos seguiriam em frente.

Com uma defesa composta por quatro centrais de origem, como já havia acontecido nos restantes jogos, a Alemanha foi constantemente ultrapassada a partir das alas, com Feghouli e Soudani mais velozes que os laterais adaptados (a ausência por lesão de Hummels foi uma baixa pesada, com Boateng a derivar para o centro e Mustafi a aparecer na direita), bem como através de lançamentos longos para as costas dos centrais, com Slimani a causar imensas dificuldades, ganhando a maioria dos lances. Valeu Neuer que foi mais líbero do que guarda-redes, parando vários lances de perigo com rapidíssimas saídas a zonas longe da sua baliza.

A Alemanha parecia anestesiada e apenas no segundo tempo pareceu entrar em campo. Conseguindo passar incólume ao fortíssimo primeiro tempo dos magrebinos, a formação germânica assumiu as despesas da partida. Mas seria apenas após a lesão de Mustafi e a entrada de Khedira, obrigando Lahm a um regresso às origens na lateral direita, que os alemães tomaram de assalto a baliza de Mbholi.

Foram muitos os lances de perigo, quase sempre a partir da direita, com Thomas Muller em plano de destaque. Só que Rais Mbholi parecia ter um íman que atraía sempre a bola. A Argélia já não conseguia sair a jogar nem incomodar Neuer.

Seria apenas no prolongamento que a Alemanha conseguiria arrombar o cofre argelino, com Schürrle (entrou muito bem no jogo) a marcar de forma pouco ortodoxa, num desvio esquisito após excelente jogada individual de Muller. Era o corolário justo da superioridade germânica, que seria consolidado à beira do fim, com Özil a finalizar uma jogada de insistência onde o que mais se realçou foi a falta de pernas de ambos os lados.

O jogo estava decidido, mas a Argélia ainda faria o tento de honra, já nos descontos, por Djabou. Um prémio justíssimo para os africanos que saem do Mundial de cabeça bem levantada. Chegaram a encostar os alemães às cordas no primeiro tempo e obrigaram o candidato ao título a ter de aplicar-se ao máximo para continuar em prova. Fica a magia do seu futebol, que claramente foi a melhor equipa africana no Brasil. Quanto à Alemanha, terá um grande jogo em perspetiva no próximo sábado, frente a um rival de longa data, a França.