domingo, dezembro 11, 2016

No equilíbrio está a virtude


Muito se tem falado nos últimos dias sobre o momento de forma de ambos os rivais da Segunda Circular. Sobre qual deles chega em pior momento. Os tricampeões nacionais perderam duas vezes no espaço de cinco dias. primeiro no Funchal, frente ao Marítimo, deixando o rival Sporting com a possibilidade de assumir a liderança em caso de vitória no derby, depois em casa frente ao Nápoles para a Champions, num desaire que acabou por ter pouca importância dado que apurou os encarnados para os oitavos-de-final da liga milionária. Já o Sporting, apesar de encurtar a vantagem para o líder na Liga, viu uma derrota comprometedora na Polónia, frente ao Légia de Varsóvia, atirar os leões para fora das competições europeias, falhando o objetivo menor que seria o apuramento para a Liga Europa.

Este texto não visa fazer análises sobre o momento de forma, pois num jogo desta natureza isso acaba muitas vezes por ser pouco importante, dada a superação anímica das equipas nestes derbies. Para além de que ambos parecem não estar propriamente no pico de forma. São vários os motivos para que tal aconteça, ainda que sejam diferentes em casa um dos casos. E acima de tudo, como o título o indica, ambos andam em busca dos equilíbrios que podem valer o sucesso na época.

Um clone para Pizzi
Na temporada passada, Pizzi assumiu-se como um dos mais importantes elementos dos tricampeões nacionais, jogando sempre a partir da ala direita, não tendo de ser opção como oito, como agora acontece, dado existir Renato Sanches. E o médio português foi fundamental até para gerar os equilíbrios que por vezes o "espírito selvagem" de Renato Sanches rompia com desposicionamentos ou perdas de bola em fases de construção.

No início desta época, com Renato Sanches em Munique, emergiu outro jovem talento, André Horta, com características muito diferentes do "Bulo". Mais paciente e mais tecnicista na construção, consegue juntar raça e determinação na procura da recuperação, ainda que com muito menor capacidade nesse capítulo, assim como um enorme défice físico face ao seu antecessor. E Pizzi continuou nas alas, agora na esquerda dado o regresso de Salvio, que assumiu a ala direita.

Com Pizzi nas alas, Rui Vitória assegura um médio que centra muito do seu jogo em movimentos interiores, tanto a defender como a construir. Isso permite que apesar de apenas ter dois médios centro, Vitória possa contar com um terceiro apoio que ajuda a equipa em especial nos jogos contra adversários mais fortes, que muitas vezes jogam com três elementos da zona central.

Contudo, a lesão de Horta obrigou o técnico das águias a abdicar de Pizzi nas alas e a deslocá-lo para o meio, à frente de Fejsa. E as coisas correm bem nos jogos contra adversários pequenos. Porque ganha mais capacidade de construção face a Horta e fica com duas setas apontadas ao adversário nas alas, com um futebol mais vertical e repentista. Mas frente aos adversários mais fortes, nota-se uma gritante incapacidade de controlar o jogo uma vez que ninguém faz os movimentos interiores para gerar o terceiro homem no meio-campo e Pizzi tem um enorme défice tanto na recuperação como na construção quando pressionado.

Isso notou-se no Dragão, mesmo na Turquia frente ao Besiktas, apesar dos encarnados terem estado a vencer por 0-3, e mais recentemente frente ao Nápoles. A derrota na Madeira foge um pouco a estas contas dado que nessa partida foi acima de tudo a ineficácia na finalização e a permeabilidade nas costas da defesa a ditarem o insucesso.

Dado que Pizzi terá que continuar a jogar a 8 até ao regresso de Horta, que se prevê para breve, apenas uma solução nos parece possível para tentar reequilibrar a equipa e mesmo essa é muito diferente de ter Pizzi na ala. Como não é possível cloná-lo... Essa solução chama-se Rafa. O médio ofensivo português é o único dos extremos dos encarnados que tem passado como médio pelo corredor central, ainda que mais próximo do avançado. Apesar de ser um jogador muito vertical e com capacidade de penetração, é também o único que apresenta qualidade na construção de uma forma mais cerebral. Falta-lhe certamente aptidão na recuperação, algo que Pizzi também não é exímio mas ainda assim consegue fazer de forma minimanente aceitável.

Irá Rui Vitória apostar em Rafa no derby? E se sim, quem sairá? Cervi? Salvio? Gonçalo Guedes? Qualquer um dos argentinos parece sério candidato a sair para entrar o português, até porque tirar Gonçalo Guedes tem-se revelado desastroso nos últimos jogos da Champions, pois coincide sempre com o momento cai no jogo. Guedes dá uma enorme capacidade de pressão à saída de bola na primeira fase de construção do adversário. Já entre os argentinos, Salvio parece claramente fatigado e em perda, pelo que não surpreenderia se fosse ele a sair do onze.


A chave Bruno César
Como aqui escrevi há cerca de mês e meio, a saída de João Mário foi fatal para os leões. Tal como Pizzi no Benfica, João Mário equilibrava a equipa com os seus movimentos interiores, numa estratégia que Jorge Jesus já tinha imposto com sucesso no primeiro ano na Luz, com Ramires a assumir idêntico papel. A perda do médio leonino, associada à perda de Slimani que tinha uma inesgotável capacidade de pressão, deitou por terra tudo aquilo que o técnico dos leões tinha alcançado no primeiro ano em Alvalade.

Obrigado a reencontrar uma equipa que tinha perdido o seu pêndulo, o início da temporada foi penoso com os leões a atrasarem-se significativamente na classificação face aos rivais da segunda circular. E apenas quando Bruno César se assumiu em definitivo como a solução, quer seja a partir da ala esquerda, quer seja atrás do avançado, os verde-brancos melhoraram, ainda que estejam muito longe do que mostraram na temporada transacta.

O médio brasileiro é um jogador com conhecimento nos movimentos interiores e pelos corredores, pelo que garante algumas parecenças com o futebol de João Mário em termos de posicionamento. É mesmo o único do plantel leonino com estas características, apesar de estar a anos-luz da qualidade do agora médio do Inter. Por isso a qualidade dos de Alvalade é significativamente inferior à que apresentou em 2015/2016, vivendo em total dependência da criatividade e velocidade de Gelson Martins e da combativivade de inteligência do capitão Adrien Silva. Estes são sem dúvida os dois jogadores fundamentais dos leões. E como se viu no mês passado, a ausência do capitão coincidiu com um período de maus resultados do Sporting. Imagine-se se se visse privado dos dois em simultâneo!

Bruno César está longe de ter a preponderância de ambos ou a sua qualidade. Mas em termos de posicionamento é fundamental para o equilíbrio da equipa de Jesus. Até porque é de todos no plantel aquele que melhor conhece as ideias do seu treinador dado o seu passado com ele no Benfica.

Dentro de poucas horas saberemos as opções e o resultado final do apaixonante derby de Lisboa, mas uma coisa é certa, o equilíbrio de cada uma das equipas será certamente decisivo para o desfecho da partida. Provavelmente, o talento individual e coletivo fará a diferença, mas sempre graças a quem levar a melhor nesta batalha dos equilíbrios dos meio-campos.


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sexta-feira, dezembro 09, 2016

A eterna dúvida


Mais uma vez um lance em que a bola foi desviada pela mão de um adversário (neste caso duas vezes na mesma jogada) lançou a polémica nos jornais, redes sociais, etc. Foi no Légia-Sporting que ditou o afastamento dos leões das competições europeias na passada quarta-feira.

Mão na bola ou bola na mão? Isso é o que está em cima da mesa neste tipo de lances. Mas antes demais, é importante dar a conhecer a parte da Lei XII que explica como devem os árbitros julgar este tipo de lances e que é provavelmente desconhecida da maioria dos adeptos do desporto-rei.

Lei XII
Tocar a bola com as mãos implica um ato deliberado em que o jogador toma contacto com a bola com as mãos ou com os braços. O árbitro deve ter em consideração os seguintes critérios:
• o movimento da mão na direção da bola (e não a bola na direção da mão)
• a distância entre o adversário e a bola (bola inesperada)
• a posição da mão não pressupõe necessariamente uma infração
• o facto de o contacto com a bola ser feito com um objeto que se tem na mão (peça de vestuário, caneleira, etc.), não deixa de constituir infração
• o contacto com a bola ser feito através de um objeto lançado (bota, caneleira, etc.) também constitui infração


Ora analisando a lei que está na base da decisão dos árbitros durante uma partida, a tónica é colocada logo na questão de ser um ato deliberado. De acordo com o que é dito nos cursos de árbitros, por deliberado deve entender-se o seguinte: se um jogador se movimenta no sentido de bloquear um chuto ou cruzamento e ele atinge o seu objetivo ajudado pelo contato da mão com a bola, a infração deve ser marcada, mesmo que não haja intenção de utilizar a mão nessa ação (por exemplo, um jogador que corta um lance com a mão num carrinho. Deve ser marcada falta). Ou seja, nada tem a ver com a intenção sim com o fato de ter feito um ato deliberado que possa ter resultado num contacto, mesmo que involuntário, com a mão ou braço na bola.

A este princípio básico da Lei, é preciso ter em conta o primeiro critério, sobre se há um movimento na direção da bola e não o seu inverso (a bola na direção da mão), assim como a própria distância, não devendo ser tido em conta a posição da mão como critério obrigatório para marcação de falta.

Explicando estes pontos:

Movimento natural ou não - O árbitro deve levar em conta se a posição da mão ou braço ao tocar na bola é uma decorrência natural do movimento. Durante uma corrida, por exemplo, a mão pode tocar a bola como resultado do balançar normal dos braços, o que não constitui uma infração.

Ampliação do "volume" do corpo - A arbitragem deve observar se a posição da mão que toca a bola representa um aumento do espaço que o corpo do atleta ocupa. Um braço esticado, para os lados ou para cima, pode interceptar um cruzamento ou passe que não seria bloqueado pelo tronco ou pernas. Neste caso, a falta deve ser marcada.

Em resumo, da forma como a lei está feita, a interpretação do árbitro é decisiva e pode não ser pacífica (certamente não o é para jogadores e adeptos) a decisão. Até porque pessoas diferentes têm opiniões diferentes pelo que se torna a lei mais difícil de ajuizar para qualquer árbitro, como os próprios reconhecem...

Toda esta formulação da regra levanta muitas questões e parece que na realidade quando os adeptos reclamam tantas vezes penalties neste tipo de lances (e os próprias jogadores), deviam não fazê-lo contra o árbitro mas sim contra o International Board, que determina as Leis do Jogo. Porque na realidade os árbitros acabam por ser vítimas da formulação da mesma.

Após esta explicação, o exercício prático sobre o lance polémico que deu origem à escrita deste artigo. Se o primeiro momento, em que um jogador do Légia tenta aliviar a bola da área e acerta no seu próprio colega a pouco mais de um metro de si, é certo à luz da lei que não devia ser marcada grande penalidade. A distância é muita curta e não é de todo um ato deliberado pois o próprio jogador do Légia em quem a bola bate na mão está a tentar sair da área e vê o colega acertar-lhe no braço.

Mas se este primeiro momento é claramente uma bola na mão (até porque não teria qualquer lógica um jogador querer evitar um alívio na sua própria área e ainda fazê-lo com a mão!) que o árbitro deixou jogar e bem, o segundo momento, em que William Carvalho tentar alvejar a baliza polaca para o empate, é bem mais difícil de ajuizar.

O jogador polaco parece querer proteger-se do remate e o próprio movimento do seu corpo indica isso mesmo. Contudo, o braço não está à frente do corpo mas sim ligeiramente ao lado do tronco o que se poderá inserir na questão da ampliação do "volume" do corpo. Porém, simultaneamente, o remate é feito a uma curta distância o que impossibilita o jogador de conseguir evitar o contato da bola com o seu braço...

É o perfeito caso em que podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio... uns vêem certamente um prolongamento do volume do corpo, outros um remate à queima roupa sem que haja reação possível ou sequer possa ser considerado um ato deliberado de tentativa de corte mas apenas um ato de tentar proteger o corpo do impacto da bola chutada por William. O árbitro decidiu lendo o lance desta última forma, daí nada ter assinalado. Certo? Errado? A lei está do seu lado, mas também estaria se tivesse marcado o castigo máximo.

Sem dúvida que é muito ingrato definir a Lei de outra forma e encontrar uma solução para este problema não é fácil, mas talvez os responsáveis do International Board devessem voltar a meditar sobre a mesma de forma a diminuir a subjetividade da análise do árbitro no momento de decidirem estes lances. Porque ao contrário de outras situações, em pouco o vídeo-árbitro poderá acrescentar nesta matéria...

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quinta-feira, dezembro 08, 2016

A incomum irrelevância de ganhar o grupo da Champions


Não é preciso ir ver o histórico da Liga dos Campeões para saber que as hipóteses de sucesso nos oitavos-de-final dos vencedores do grupos da primeira fase da competição costuma ser bem superior aos segundo classificados da fase de grupos. Sem fazer futurologia, até porque temos que esperar por segunda-feira para saber o resultado do sorteio, é muito provável que essa tendência de favoritismo dos vencedores dos grupos não aconteça em 2016/2017.

E porquê? Porque o equilíbrio é a nota dominante e é difícil concluir se é melhor encarar o sorteio como primeiro ou segundo classificado, para além do condicionalismo habitual dos vencedores dos grupos terem a vantagem de jogar em casa a 2ª mão, o que nem sempre é decisivo.

Esta análise vai ser feita tendo por base a perspetiva das equipas portuguesas, que obviamente é aquilo que mais nos interessa a todos. E olhando para as perspetivas de ambos, parecem ser maiores as possibilidades de sucesso passando no segundo lugar dos seus grupos do que em primeiros.

Do lote de possíveis adversários apenas o Barcelona parece um obstáculo absolutamente inultrapassável para qualquer um dos grandes portugueses. Muito difíceis serão Atlético de Madrid, Juventus ou Dortmund. Os espanhóis duas vezes finalistas vencidos nos últimos três anos e uma equipa com uma solidez defensiva impressionante. Ao invés, os alemães são uma máquina ofensiva, capaz de atropelar qualquer adversário. Já os italianos, são das equipas mais consistentes da Europa, campeão incontestado ano após ano na Série A e que procura o regresso ao título europeu depois do escândalo que relegou a Velha Senhora para a Série B por corrupção.

As hipóteses de sucesso de Benfica e Porto perante qualquer destes três tubarões não ultrapassará os 15 ou 20% mas contra o Barcelona não deve ultrapassar os 5 ou 10% e os 10% já incluem uma boa dose de otimismo...

Sobram Arsenal, Mónaco e Leicester (no caso dos encarnados) e Nápoles (no caso dos azuis e brancos). Começando pelos ingleses, a formação treinada há muitos anos pelo francês Wenger não passa os oitavos há seis anos consecutivos! Isso é um indicador positivo para quem os enfrentar. Mas se calhar a uma das equipas lusas, certamente os Gunners serão claros favoritos, sabendo-se do histórico do FC Porto no Emirates Stadium, que nos últimos anos terminou goleado por duas vezes quando ali se deslocou...

Já o Mónaco parece um dos adversários mais acessíveis para qualquer das equipas portuguesas. Leonardo Jardim conhece bem o futebol português e transformou a sua equipa de uma enorme muralha defensiva para uma entusiasmante máquina de fazer golos. Contudo, não parece ser um adversário de monta e pode estar perfeitamente ao alcance de Benfica ou Porto.

Por fim, os adversários que ganharam os grupos das equipas portuguesas que seguiram em frente para os oitavos. Os ingleses do Leicester, o conto de fadas do futebol mundial, só podem calhar em sorte às águias, que certamente não desejam mais nenhum adversário. A equipa do italiano Claudio Ranieri está a tentar fugir à despromoção na Premier League mas na Champions esteve quase irrepreensível, vencendo os quatro dos cinco primeiros jogos e só sofrendo um golo à quinta jornada. A debacle veio no Dragão, com goleada por 5-0 mas a jogar com os suplentes.

Contudo, temos que enquadrar o grupo que era de longe o mais fraco da Champions, inferior talvez a alguns da Liga Europa, o que demonstra que apesar do sucesso do Leicester, dificilmente os ingleses terão hipóteses de seguir em frente, seja contra quem for.

Os italianos do Nápoles não são tão pêra doce como poderão ser os britânicos. Para além do histórico pouco positivo para os portugueses contra equipas italianas, com quem não "casam" bem, o Nápoles é uma equipa bem orientada e muito compacta que será favorita caso tenha o Porto pela frente, apesar de poder ser um adversário ao alcance dos dragões.

Em resumo, e apesar de não sabermos como estarão as equipas dentro de mais de dois meses quando chegarem os oitavos, pois até lá os picos de forma vão variar bastante certamente, parece certo que os portugueses estarão a torcer por verem os nomes de Mónaco e Leicester/Nápoles como adversário. Ou na pior das hipóteses o Arsenal. Tudo o resto dificilmente permitirá aos grandes lusos chegar aos quartos-de-final.

E se tivessem ganho os grupos?
Analisada a situação real, vamos a uma breve análise sobre se tivessem ganho os seus grupos, o que como diz o título deste artigo, não seria necessariamente melhor. Como tubarões praticamente inultrapassáveis temos Real Madrid e Bayern de Munique. Pior do que ser segundo onde apenas Barça consideramos entrar nesse lote.

Já adversários muito difíceis e com probabilidades de sucesso das equipas portuguesas apenas de 15 a 20% temos o PSG, que apesar de uma época titubeante com Unay Emery ao leme não deixa de ser uma equipa fortíssima e que poderá em fevereiro de 2017 estar num patamar mais próximo do seu habitual nos últimos anos, e o City de Guardiola, com uma naipe de estrelas impressionante e um dos melhores treinadores do mundo.

Sobrariam apenas Sevilha e Leverkusen (contando que apenas um dos portugueses ficasse em primeiro e o não pudesse defrontar o outro luso dado o regulamento não permitir confrontos entre equipas do mesmo país nesta fase da prova). Os alemães parecem os únicos mais acessíveis, com o favoritismo a cair para os portugueses, enquanto os espanhóis estariam certamente ao alcance mas para além de tricampeões da Liga Europa, estão a fazer uma época extraordinária, estando em terceiro lugar na Liga Espanhola, num trabalho de grande qualidade do técnico Jorge Sampaoli.

Em face desta realidade, a conclusão é mesmo de que ser segundo não é um mal menor, pode até ser ligeiramente melhor dado permitir evitar dois dos grandes favoritos, contra apenas um sendo segundos.

Segunda-feira saberemos e voltaremos a analisar as reais possibilidades de Benfica e Porto para seguirem para os oito primeiros da liga dos milhões.

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quarta-feira, novembro 30, 2016

Um banco de oportunidades


Foi na temporada de 2012/2013 que em Itália se decidiu aumentar o número de suplentes dos habituais sete para doze. Uma alteração que muitos treinadores italianos receberem com indiferença referindo que pouca diferença faria. Certo é que em 2015, o agora técnico campeão de Inglaterra, o italiano Claudio Ranieri, pedia que a Premier League pensasse em adotar ideia semelhante.

Mas o que está em causa? Faz assim tanta diferença ter sete ou doze jogadores no banco? Na minha opinião faz. Muita! É certo que facilita a vida dos treinadores pois têm menos desafios ao selecionar os 18 que entram na ficha do jogo. Contudo, é simultaneamente uma oportunidade única para abrir portas a outros jogadores, em especial dos jovens.

Nos Europeus ou Mundiais de futebol todos os jogadores vão para o banco. Porque não nos clubes? Claro que não faz sentido num plantel de 28 levar 17 jogadores para o banco, mas os 12 que são permitidos em Itália são sem dúvida uma oportunidade não só de dar hipótese a todos os jogadores de serem utilizados e não um grupo restrito de 18, 19 ou 20 jogadores dentro de um plantel.

As circunstâncias de um jogo podem permitir dar oportunidades a jogadores que noutras condições não as teriam. Especialmente jovens. Seria uma oportunidade para os jovens poderem experimentar a primeira equipa sem precisar que para tal metade de um plantel se lesione para chegar a sua vez.

Nos clubes com equipas B este argumento é ainda mais valioso pois ter dois ou três jogadores da equipa B no banco poderia significar oportunidades para esses jovens poderem crescer mais rápido e terem mais oportunidades de afirmação. Em especial em jogos que corram bem às suas equipas e onde é mais fácil fazê-los entrar.

A verdade é que esta medida do Calcio não foi copiada por nenhuma das principais ligas nacionais europeias até ao momento e já passaram quatro épocas desde que a medida foi implementada em Itália. Mas no meio de tantas inovações que são faladas para serem introduzidas em breve, esta poderia ser, sem dúvida, uma a considerar.


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terça-feira, novembro 22, 2016

Dragão decide futuro no gelo nórdico


O FC Porto tem hoje um jogo que pode decidir o seu futuro não só nesta época como na seguinte. Exagerada esta afirmação? Talvez não. O início de época não tem sido brilhante e com o Benfica a cinco pontos na Liga, ainda que nem o primeiro terço esteja concluído, eliminados da Taça prematuramente, o desastre de não passar a Champions poderia ser uma hecatombe que matava a equipa animicamente ainda antes do final do ano civil.

Muito se falou do FC Porto nas últimas semanas. Ora pela falta de jeito para o desenho do treinador Nuno Espírito Santo, que decidiu ilustrar uma conferência de imprensa com desenhos pouco percetíveis, ora porque conseguiram impor-se em jogo jogado contra o tricampeão Benfica no Dragão, mas uma exibição bastante superior redundou num empate, muito pouco para quem procurava encurtar a distância para o líder num jogo onde a qualidade exibida não teve qualquer tradução no resultado final, ora ainda ao cair na Taça de Portugal, em Chaves, perante um adversário que apesar de voluntarioso, fica a anos-luz do orçamento e da qualidade dos dragões.

Se é cedo para deitar as mãos à cabeça e desesperar, pois apenas a prova rainha de Portugal está perdida, a verdade é que ter cinco pontos de atraso para o líder quando já o recebeu no seu estádio, e estar no fio da navalha na Champions não é motivo para sorrisos.

Por tudo isto, o jogo de hoje na Dinamarca é decisivo para as aspirações na temporada dos azuis e brancos. É certo que a vitória basta para assegurar o apuramento e assim tirar um grande peso de cima das costas. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, o jogo de fácil tem muito pouco. O Copenhaga é um adversário difícil no seu terreno. São poucos os que lá passaram em toda a história da Champions. Em quatro presenças na principal competição do Velho Continente, os dinamarqueses perderam duas vezes! Duas!! E por lá passaram muitos tubarões europeus! Este ano nem um golo sofreram ainda nos dois jogos que disputaram no Parken Stadium.

Em comum nas quatro participações dos dinamarqueses na Champions está o treinador Stale Solbakken. O norueguês de 48 anos que está no clube desde a época 2005/2006, com duas épocas de intervalo a meio, depois de se ter estreado como técnico no modesto HamKam da Noruega. O técnico nórdico acabou curiosamente a carreira de futebolista em 2000/2001 no Copenhaga. Esta é a décima temporada como treinador dos dinamarqueses. Entre 2011 e 2013 passou por Colónia, da Alemanha, e Wolverhampton, de Inglaterra. Mas rapidamente voltou aquela que é a sua verdadeira casa.

Olhando para o histórico do Copenhaga na Liga dos Campeões, o historial no Parken Stadium não pode ser animador para os dragões. Na estreia, em 2006/2007, no primeiro ano de Solbakken à frente dos comandos da equipa, os dinamarqueses ficaram em último no grupo, com sete pontos, empatados curiosamente com o Benfica, a apenas dois pontos do segundo lugar que foi do Celtic, com 9, num grupo ganho pelo Manchester United com 12 pontos. Mas nos três jogos em Copenhaga, apenas o Benfica não saiu de lá derrotado, ao conseguir um 0-0. United e Celtic saíram com zero pontos do Parken Stadium, graças a derrotas por 1-0 e 3-1 respetivamente.

Quatro anos volvidos, em 2010/2011, o Copenhaga voltava à Champions e desta vez para fazer história ao assegurar o apuramento para os oitavos, o único na sua história, onde cairia aos pés do poderoso Chelsea. Mas na fase de grupos, o Copenhaga voltou a ser imbatível no seu reduto. Duas vitórias (1-0 aos russos do Rubin Kazan e 3-1 aos gregos do Panathinaikos) e um empate perante o Barcelona, a uma bola, num ano onde os catalães se sagrariam campeões europeus, batendo por 3-1 na final o United. Apenas nos oitavos os dinamarqueses sofreriam a primeira derrota da sua história na Champions no Parken Stadium, ao perderem por 0-2 com o Chelsea. Na 2ª mão, o empate a zero em Stamford Bridge permitu à equipa sair de cabeça bem levantada da liga milionária.

Foi preciso esperar mais três anos para o regresso, em 2013/2014. Novo grupo complicado e a repetição do quarto lugar da estreia. Mas mais uma vez o Parken Stadium foi uma verdadeira muralha, que apenas o Real Madrid superou. Empate na estreia com a Juventus, um excelente resultado perante o colosso italiano, seguido de vitória frente ao Galatasaray por 1-0. Até que o Real Madrid visitou Copenhaga e pôs fim à invencibilidade dos dinamarqueses no seu estádio na fase de grupos da Champions, impondo-se por 0-2. Curiosamente, à imagem do Barcelona, também os merengues se sagrariam campeões europeus nesse ano. Talvez o Parken Stadium seja talismã para os espanhóis que ali se deslocam na fase de grupos. Os dois que o fizeram terminaram campeões europeus.

Em resumo, o Copenhaga perdeu um jogo em onze na fase de grupos da Champions na Parken Stadium! Conseguirá o Porto repetir a façanha do Real Madrid? Manchester United, Juventus, Barcelona e Benfica, para citar alguns exemplos, não o conseguiram no passado. Se o conseguir assegura o apuramento e, acima de tudo, os tão preciosos milhões. Este é o momento dos dragões se afirmaram na temporada em definitivo. E até o empate pode ser um bom resultado pois permite que nem fiquem obrigados a ganhar na última jornada no Dragão frente ao campeão inglês Leicester.

Mas a derrota poderá deixar os azuis e brancos à mercê do que fizerem os dinamarqueses na Bélgica frente ao Brugges na última jornada. E mesmo assim têm de vencer o até agora imbatível Leicester pois o empate ou derrota com os ingleses deixa os dragões de fora da Champions qualquer que seja o resultado do Copenhaga.

E se esquecermos a importante parte desportiva, o jogo de hoje tem um peso ainda maior pela questão financeira. Mais do que títulos, o Porto precisa de faturar e só a Liga dos Campeões permite fazer face aos 58 milhões de prejuízo que a SAD apresentou recentemente. A Direção da SAD já revelou as suas previsões de faturação de mais de 30 milhões com a Champions e 115 milhões em vendas de jogadores. Caso não passem a fase de grupos, naquele que é provavelmente um dos mais acessíveis grupos de sempre que os dragões enfrentaram na prova milionária, os azuis e brancos devem registar encaixe na Europa de menos de metade do valor acima referido e a valorização dos seus jogadores fica seriamente comprometida para almejar vendas de mais de 100 milhões como previsto.

Como tal, o que está em cima da mesa hoje na Dinamarca não é o sucesso desportivo dos Dragões. É acima de tudo o financeiro! Porque sem ele, certamente o sucesso desportivo será uma miragem. Só a vitória poderá permitir a Pinto da Costa, restante administração da SAD, Nuno Espírito Santo e equipa profissional respirar de alívio. E uma derrota pode fazer o céu desabafar em definitivo...

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quinta-feira, novembro 17, 2016

Red Bull dá-lhes asas


São a equipa sensação da Europa do futebol. Pela primeira vez na Bundesliga, o RB Leipzig lidera a liga alemã a par do Bayern de Munique, e tem o melhor arranque de um estreante na Bundesliga, desde 1965/66. Adicionalmente, pode este fim-de-semana tornar-se líder isolado dado que os bávaros têm uma partida muito difícil frente ao Dortmund e uma escorregadela pode isolar o inesperado outsider, que também não terá tarefa fácil na visita ao Leverkusen já esta sexta-feira. Caso não perca supera o recorde do Duisburgo que em 1993/1994 esteve invencível dez jornadas após a promoção ao escalão maior do futebol germânico, tal como o RB em 2016/2017.

Mas quem é o RB Leipzig e como foi parar ao topo do futebol alemão? A resposta é: Tomou Red Bull. A bebida energética cujo slogan é: Dá-te Asas. A esta equipa que andava pelos distritais do futebol alemão, sem dúvida que lhes deu asas e até um potente motor para esta subida meteórica! Mas vamos conhecer um pouco melhor a história e o percurso da formação alemã.

A origem deste sucesso é o momento da compra do cofundador da Red Bull, o austríaco Dietrich Mateschitz, que tem 49% das ações do clube. Depois da marca já possuir vários clubes noutros países, como nos EUA, na Áustria, no Brasil e no Gana, era sua intenção fazê-lo também na Alemanha. Contudo, a legislação alemã não o permitia, pois impossibilita que um clube seja detido por uma empresa ou tenha o seu nome. O Bayer Leverkusen vai contra a legislação mas apenas porque é anterior à mesma.

Para contornar o problema, o clube outrora chamado SSV Markranstädt assumiu a denominação de RasenBallsport, o que significa "Desporto de Relva". Nunca ninguém chamou isso ao clube, mas sim o seu diminutivo RB, que serve os interesses da marca Red Bull. Assim nascia o RB Leipzig!

O outro problema, também solucionado, era a impossibilidade de aquisição de mais de 50% das ações do clube. A legislação alemã também não o permite a menos que a empresa ou empresário em causa já esteja ligado ao desporto há mais de 20 anos, o que viabiliza as ligações da Bayer ao Leverkusen e da Volkswagen ao Wolfsburgo. Daí Mateschitz apenas ter 49% das ações. Porém, como 51% das ações têm de ser detidos por sócios, a Red Bull dividiu as mesmas por nove sócios, que na realidade são investidores com ligações à empresa. No total, o clube tem apenas 300 sócios que nem sequer têm direito de voto e pagam 1000 euros de quotas!!

Explicada a origem e criação do clube, vamos ao sucesso desportivo. Fundado o clube, foi encontrada a casa do RB Leipzig, o estádio que não estava a ser utilizado desde o Mundial 2006, em Leipzig, com capacidade para 44 mil pessoas. O mesmo foi batizado de Red Bull Arena, que surpresa!, e estavam garantidos os alicerces para o sucesso do projeto, a que se juntaria uma Academia de treinos.

O investimento na equipa de futebol foi o passo seguinte. Ano após ano esse investimento cresceu e a equipa foi subindo paulatinamente de escalão. A aventura começou em 2009 nos regionais e passados quatro anos estava a festejar a subida à segunda liga. No último escalão antes de chegar à Bundesliga esteve duas épocas, conseguindo a tão desejada subida na segunda tentativa.

Ao longo dos últimos três anos o investimento em contratações já superou os 100 milhões de euros e na temporada passada tinha um orçamento que era quase igual à soma dos orçamentos dos restantes 17 clubes.

O sonho do dono do clube é levá-lo à Liga dos Campeões e a meta parece estar bem encaminhada, já no ano de estreia, apesar de ainda faltar muito campeonato. O que é certo é que este sucesso tem valido uma onda de ódio à equipa. Desde boicotes aos jogos, como aconteceu com os adeptos do Dortmund, a arremesso de objetos tão absurdos como uma cabeça de boi num embate para a Taça com o Dresden. É o preço a pagar pelo sucesso meteórico que não é visto com bons olhos num país como a Alemanha onde, ao contrário do que aconteceu em Inglaterra com a entrada de multimilionários no Chelsea ou City, por exemplo, a "compra" do sucesso não é motivo de orgulho. Quem não se queixa são os mais de 44 mil adeptos que a cada jogo do RB Leipzig na Red Bull Arena a enchem por completo.

Uma palavra final para o obreiro técnico do sucesso do RB na Bundesliga. Ralph Hasenhüttl chegou este ano à equipa após ter também tido excelentes resultados no Ingolstad na temporada passada. Também estreante no escalão maior alemão, terminou no 11º lugar mas esteve boa parte da temporada nos lugares próximos do acesso à Liga Europa. Este ano, com mais armas, está a levar o RB a voos nunca pensados, numa equipa que se destaca pelo valor coletivo, mais do que por alguma figura individual. A dupla ofensiva, composta pelo sueco Emil Forsberg, com 4 golos e outras tantas assistências, e pelo jovem alemão Timo Werner, estrela das seleções jovens germânicas, que leva cinco golos e duas assistências, acaba por ser a maior referência de uma equipa que se destaca pela consistência defensiva, com apenas mais um golo sofrido que os campeões Bayern, a melhor defesa da Bundesliga.


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domingo, novembro 06, 2016

Entrar a matar


Prognósticos só no final do jogo. Esta frase que se tornou famosa de um jogador algures nas décadas de 80 ou 90 é sem dúvida a que melhor se aplica a qualquer clássico como aquele que hoje coloca frente-a-frente FC Porto e SL Benfica.

Mas se é difícil prever o desfecho final desta sempre apaixonante jogo, podemos prever algumas das coisas que são expectáveis vermos nesta partida, ainda que depois, a imprevisibilidade do jogo e o seu factor aleatório, que fazem deste o desporto-rei a nível mundial, deixem tudo em aberto sobre o resultado final.

Olhando para o histórico de Rui Vitória à frente do Benfica desde a época passada, nos grande jogos que disputou, sejam eles a nível nacional, contra FC Porto ou Sporting CP, ou internacional, como em Madrid com o Atlético, em Munique com o Bayern ou em Nápoles, mais recentemente, uma coisa parece certa. Os encarnados vão entrar no jogo a tentar mandar no mesmo e a procurar chegar rapidamente ao golo. E será essa capacidade de o fazerem, ou não, que poderá decidir o desfecho do encontro no Dragão.

Há um ano precisamente neste mesmo estádio, um Benfica ainda aos trambolhões entrou no Dragão de forma decidida. Durante os primeiros 45 minutos o FC Porto não criou praticamente um lance de golo, ao contrário dos encarnados que viram Casillas negar-lhe a vantagem por mais do que uma vez. Não é que os da Luz tenham sido extraordinários, mas na altura surpreenderem os dragões sem que contudo tenham conseguido transformar em golos o seu domínio na partida. Acabariam por perder o jogo num golo solitário dos azuis e brancos nos momentos finais do jogo.

Já frente ao Sporting, primeiro na Luz para a Liga, depois em Alvalade para a Taça, cerca de um mês depois, e por fim de novo em Alvalade para a Liga, já em plena segunda volta, o Benfica de Vitória repetiu a dose. Em todos os jogos entrou por cima. Mas a grande diferença foi a capacidade de marcar. Nuns jogos conseguiu-o, noutros nem por isso.

Na Luz não o fez nem foi especialmente perigoso. Mas dominou sem conseguir criar perigo. Já o Sporting marcou nos três primeiros remates. Nos jogos de Alvalade o Benfica entrou sempre mais forte e em ambas as ocasiões marcou cedo. Porém,  na Taça, um golo dos leões à beira do intervalo mudou o rumo dos acontecimentos. Acabariam por semana impor os leões mo prolongamento.

Na Liga o filme foi igual mas sem que os verdes brancos tenham conseguido reentrar no jogo depois da supremacia inicial dos tricampeões.

Se olharmos para os exemplos europeus, o Benfica de Vitória repetiu a postura, mas com realidades diferentes. Em Madrid entrou bem mas sem marcar acabaria por se ver em desvantagem, que viria a contrariar batendo o Atlético. Em Munique entrou a perder ao primeiro minuto e apesar de boa resposta não mais se mexeria o marcador. Já em Nápoles está época,  os encarnados voltaram a entrar muito fortes, perderam dois golos feitos e ao primeiro remate dos italianos chegou o golo, a que se juntou uma exibição infeliz de Júlio César para uma derrota pesada.

O denominador comum parece óbvio dos encarnados. O resultado nem por isso. Mas certo parece ser um Benfica forte nos primeiros minutos do jogo.

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quinta-feira, novembro 03, 2016

O insubstituível


Falta Jonas? Não há problema, mudamos a forma de jogar e o Guedes explode em definitivo. Falta o Horta? O Pizzi safa a coisa. Falta o Jardel? Quem disse que o Luisão já estava em decadência?

A verdade é que podia continuar este exercício por várias linhas! Já faltou Júlio César. Já faltou Ederson. E André Almeida. E Grimaldo. E Luisão... Samaris, Danilo, Rafa, Zivkovic, Jimenez ou Mitroglou. Até um junior de primeiro ano já foi opção, o promissor avançado José Gomes.

Para não falar de Gaitan e Renato Sanches. Esses já não voltam por isso nem entram nesta contabilidade. A tudo Rui Vitória encolhe os ombros e segue com o que tem. Sejam eles jogadores a caminho do fim de carreira, como Luisão, ou outros que ainda estão a dar os primeiros passes, como o "Zé do Golo". Oito vitórias e um empate depois para a Liga, com uma Supertaça ganha de permeio e uma prestação na Champions que deixa tudo em aberto para os oitavos, chegou a única baixa que o Benfica não podia sofrer: Ljubomir Fejsa.

O médio sérvio chegou à Luz em 2013. Pouco mais era do que um desconhecido. Um trinco proveniente do campeão grego Olympiakos. Matic estava próximo da porta de saída e era preciso alguém que o viesse substituir. Esteve na sombra do seu compatriota Matic até janeiro, quando este viajou para Londres para o Chelsea. Daí para a frente assumiu o posto e foi campeão, mas nas bancadas suspirava-se pelo jogador dos Blues. Fejsa era muito curto comparado com o seu antecessor. "É certinho" era o que se ouvia nas bancadas da Luz. Mas não entusiasmava ninguém.

No ano seguinte voltou a sofrer uma lesão grave no joelho, algo que já tinha acontecido por mais do que uma vez na sua carreira e que levantava muitas dúvidas no momento da sua contratação dado o seu passado clínico. Chegou Samaris e nunca mais ninguém se lembrou do sérvio que passou todo o ano no estaleiro, regressando apenas no final da época a tempo de somar ainda alguns minutos.

Mas Fejsa é outro desde que Rui Vitória chegou à Luz. Não foi logo titular quando o técnico chegou aos encarnados, mas quando a equipa encarreirou para a fantástica campanha que lhes valeu o tricampeonato, Fejsa nunca mais saiu (a não ser por um período no início do ano de 2016 devido a uma lesão). E o seu futebol ganhou outra dimensão. Parece um gigante invisível. Muitas vezes não se dá por ele, mas surge no caminho da bola. A recuperá-la e a dar aos seus companheiros para construírem.

Apesar de uma gestão física sempre presa por pinças, em 2016/2017 Fejsa conseguiu finalmente jogar dois jogos por semana sem que tenha tido qualquer recaída. Por vezes sai perto do fim, quando os jogos estão resolvidos, para precaver algum azar. E o sérvio já não se limita a ser o monstro tático do último ano. Não só lê o jogo e antecipa-o como ninguém, como já chega mais próximo da zona de construção. Joga mais subido muitas vezes e mostra todo o seu esplendor.

O Benfica 2016/2017, em busca do inédito tetra do seu historial, já perdeu praticamente toda a gente desde agosto. Safam-se 3 ou 4 jogadores. Um deles era Fejsa. Porém a entrada assassina que sofreu esta terça-feira no Estádio da Luz frente ao Dínamo de Kiev deixa-o de fora do clássico.

No jogo mais difícil do ano até ao momento, Rui Vitória vê-se privado do seu jogador mais importante. Tudo gira à sua volta. Porque é ele quem garante os equilíbrios que têm conduzido ao sucesso o Benfica. Ninguém no plantel apresenta características para assumir o seu papel. Pelo menos com a mesma eficiência em termos individuais. Porém o problema maior é mesmo a questão coletiva. Assim que Fejsa saiu no jogo da Champions, o Benfica tremeu. O Dínamo assumiu o jogo e os encarnados andaram perdidos durante vários minutos.

A opção mais óbvia para o clássico de domingo será o grego Andreas Samaris, mas os seus défices de posicionamento e leitura de jogo são um risco muito grande tendo em conta a dificuldade esperada no Dragão. Ainda para mais o grego praticamente não jogou este ano devido a lesão e apenas há 2 semanas voltou a estar apto.

Sobram André Almeida, Celis e Danilo. O primeiro é pau para toda a obra e em todo o lado cumpre o que lhe mandam. Contudo, também esteve muito tempo parado devido a lesão e tem poucas rotinas de jogar no meio depois de uma época como indiscutível na lateral direita após lesão de Nelson Semedo. Almeida foi opção em Nápoles mas ao lado de Fejsa e não como trinco único.

O colombiano Celis é de todos o que menos parece contar. É jovem. Está ainda em adaptação. E sempre que chamado tem cometido erros que custaram dissabores, como a falta que deu origem ao golo do Besiktas na 1ª jornada da Champions ou o atraso disparatado na Taça de Portugal que provocou o penalty a favor do 1º Dezembro.

Por fim, Danilo. O jovem brasileiro é um 8 de origem mas em Braga e Valência foi mais vezes 6 do que 8. Esteve muito tempo parado e nunca jogou a 6 no Benfica (também só jogou um jogo... a 8, para a Taça, onde até marcou um grande golo). Não tem rotinas na equipa mas apresenta mais ritmo que Samaris (não de jogo mas de treino pois está apto há mais tempo) e na minha opinião é o único com a dimensão física e tática que pode fazer lembrar Fejsa.

No preciso momento em que Rui Vitória vai ter os maiores desafios, com jogos com Porto e Sporting para a Liga e apuramento da Champions vê cair a peça que coloca a engrenagem encarnada a funcionar. Para já é certo que falha o clássico. Espera Vitória, certamente, que possa regressar o mais rapidamente possível, preferencialmente logo após a paragem das seleções.

Danilo ou Samaris? O brasileiro parece-me claramente melhor opção. Mas o grego está na poule, aparentemente. Irá Rui Vitória repetir o reforço do meio-campo como fez em Nápoles? Não correu bem mas o motivo do insucesso esteve longe de ser esse, mas sim a ineficácia ofensiva e a desastrada noite de Júlio César. Colocar um dos dois acima referidos ao lado de Pizzi e Horta. Ou Almeida e Pizzi poderá será opção, com Guedes a cair numa ala em detrimento de Cervi.

Uma coisa é certa. Se o Benfica de Vitória sobreviver à ausência de Fejsa, depois de todas as outras, então é certo que sobrevive a tudo e da próxima vez que mais algum jogador encarnado cair, os adeptos em vez de tremer começaram a ficar ansiosos por saber quem será o próximo jogador a rebentar na Luz.

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sexta-feira, outubro 28, 2016

Ases pelos ares


Cada vez mais no futebol moderno, a capacidade de um guarda-redes no jogo pelo ar é um fator diferenciador. A competência nas bolas paradas laterais, sejam pontapés de livre, cantos ou arremessos laterais longos, faz com que um guarda-redes se distinga dos demais.

Obviamente que antes de mais qualquer outra característica, um guardião tem de ser competente entre os postes. Claro que, se não o for, não estamos a falar de um guarda-redes de qualidade e é escusado entrar na análise de outras características.

Porém, para distinguirmos os excelentes guarda-redes dos de top mundial, quanto a mim, atualmente, é a capacidade no jogo pelo ar que o determina. Pode-se contrapor o jogo com os pés igualmente. Concordo, mas se tiver que escolher entre os dois, o jogo pelo ar assume maior importância.

O jogo com os pés é muitas vezes mais relevante em equipas grandes, onde os guarda-redes têm que jogar muitas vezes com os pés pois são menos chamados à ação durante os 90 minutos e muitas das situações de jogo que enfrentam são bolas colocadas nas costas das suas defesas às quais têm que responder com saídas rápidas e com passes de risco para os seus colegas de equipa ou através de alívios para fora.

Já o jogo pelo ar é uma característica que qualquer guarda-redes de top mundial deve ter, jogue numa equipa maior ou mais pequena. A grande maioria dos lances que um guarda-redes enfrenta num jogo partem de cruzamentos e bolas paradas, por isso, ter total noção do espaço onde a bola cai, a forma como a atacar ou optar pela contenção entre os postes em determinadas situações é fundamental.

E neste capítulo, Jan Oblak, guarda-redes esloveno do Atlético de Madrid, que passou pelo futebol português, brilhando no SL Benfica depois de ter chegado ao nosso país muito jovem, tendo passado por empréstimo por Olhanense, Beira-Mar e Rio Ave, é na minha opinião o número 1 mundial. Sinceramente, considero-o o melhor guarda-redes do mundo não só a este nível mas na avaliação total do jogador, mas sem dúvida que pelo ar Oblak é praticamente intransponível.

O esloveno faz não só valer a sua altura para ser muito eficaz, mas tem também uma agressividade e assertividade no momento de sair que o distingue da grande maioria dos guarda-redes. O domínio do espaço aéreo de Oblak, aliada a todas as suas outras competência é sem dúvida o factor que o diferencia a nível mundial.

Jan Oblak é, desde há três anos, quando assumiu a titularidade da baliza dos encarnados na época de 2013/14, o guarda-redes menos batido do mundo (na primeira época em Madrid nem sempre foi titular, contudo). Jogou em dois clubes, Benfica e Atlético de Madrid, e se é certo que no caso dos colchoneros, tem pela frente uma defesa de betão e um sistema de jogo que privilegia a segurança defensiva, na Luz a realidade era distinta. Quando Artur Moraes se lesionou, o brasileiro tinha 13 jogos na Liga e 12 golos sofridos. O esloveno jogou 16 e sofreu 3!

E na época passada, aquela em que se assumiu como titular indiscutível em Madrid, sofreu quase metade dos golos de Real e Barcelona. O reconhecimento da sua qualidade a nível mundial parece tardar em chegar, muito provavelmente devido a pertencer a um país de pouca relevância no futebol mundial. Estou certo que apesar disso, não tardará a chegar e a ser considerado o melhor do mundo na sua posição.

Apesar de nomes como Neuer (que apesar de segurança aérea tem no jogo de pés a sua grande diferença e que leva muitos a considerá-lo o melhor do mundo), Courtois ou Buffon merecerem estar entre o restrito leque dos melhores guardiões mundiais.


O Caso Português
Esta questão do jogo aéreo coloca-se precisamente no tricampeão nacional. O experiente Júlio César e o jovem Ederson têm protagonizado uma das mais épicas batalhas pela baliza de um grande em Portugal nos últimos anos. Rui Vitória tem tentado dar oportunidades a ambos para que nenhum fique completamente sem jogar.

Essa rotatividade parece agora ter parado, com Ederson a ganhar a batalha e a assumir-se como número 1 na Luz. E foi precisamente pela capacidade no ar que o jovem de origem brasileira garantiu o lugar. Isso foi notório no jogo de Nápoles onde Júlio César claudicou fortemente nesse capítulo.

Entre os postes, quer Ederson quer Júlio César são guardiões extraordinários. Grandes reflexos, agilidade e segurança. Fora dos postes a diferença é abissal. Ederson faz lembrar Oblak (será que é da escola de formação dos encarnados? Ambos são produtos do Seixal e ambos passaram pelas mãos do treinador de GR, Hugo Oliveira, agora responsável pela formação de GR do Benfica, tendo saído da equipa principal. Será a tentativa de criar mais guarda-redes de grande valor como estes dois?), enquanto Júlio César, apesar de grande experiência, não tem a mesma qualidade neste capítulo.

Este é um exemplo de como cada vez mais o jogo aéreo é determinante na escolha de um Guarda-Redes, mesmo numa equipa grande.

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quinta-feira, outubro 20, 2016

Os desequilíbrios do leão


A pergunta que se coloca quando olhamos para o Sporting 2016/2017 é como é possível uma defesa que tem os mesmos titulares que na temporada transacta ter sofrido já, em sete jornadas (um quinto do campeonato), praticamente metade dos golos que sofreu em 2015/2016. Nos últimos sete jogos oficiais (onde se incluem 4 jogos da Liga NOS, 2 da Liga dos Campeões e 1 para a Taça de Portugal) sofreu 12 golos! Não sofrendo apenas em dois desses jogos, em Famalicão, para a Taça, contra um adversário menor, e na Champions, em casa, frente ao menos cotado adversário do grupo, o Légia de Varsóvia.

Jorge Jesus tem ilibado a sua defesa, referindo que nem tudo se explica por um sector e que é preciso olhar para a equipa como um todo. Não podia estar mais de acordo (o que no caso é raro pois são poucas as vezes em que concordo com o treinador português...). O grande problema do Sporting chama-se João Mário.

O médio formado em Alvalade, campeão de Europa no último verão, transferiu-se para o Inter de Milão no final do defeso e apenas foi opção na primeira jornada na vitória caseira sobre o Marítimo. É sem dúvida um jogador de excelência e com características ofensivas, de construção. Porém, é nos equilíbrios da equipa que João Mário faz mais falta.

Com o agora jogador do Inter, a equipa leonina jogou toda uma época num 4-4-2 que muitas vezes se assemelhava ao 4-4-2 em losango do primeiro ano de Jesus na Luz, onde Ramires desempenhava as mesmas funções. João Mário não é um extremo (basta ver que agora em Milão é muitas vezes utilizado em posições centrais, que é a sua origem) pelo que os seus movimentos verticais não são feitos na base da velocidade e do repentismo, mas da sua inteligência, da sua capacidade de passe e visão de jogo. A mesma inteligência que usava no momento defensivo, apoiando o lateral por fora ou ajudando William e Adrien nos movimentos interiores de equilíbrio tático.

Saiu João Mário e quem entrou? No onze Gelson Martins. No plantel Joel Campbell e Markovic. O jovem Gelson foi quem se afirmou e assumiu o lugar, sendo certo que dá à equipa coisas que João Mário não dava. O tal repentismo, capacidade criativa no 1x1, velocidade. Mas não dá estabilidade defensiva. E isso nota-se até no lado contrário, onde Bryan Ruiz acaba por expor mais as suas debilidades na recuperação da bola, algo que não acontecia com João Mário em Alvalade.

Já as alternativas, Campbell e Markovic, mostraram que são ainda piores para o equilíbrio da equipa. O sérvio já tem jogado só como 2º avançado por isso mesmo, enquanto o costa-riquenho desapareceu de circulação depois do naufrágio nos primeiros 45 minutos de Vila do Conde, depois da ideia peregrina de JJ de colocar Campbell à frente de Bruno César, com o brasileiro como lateral esquerdo. Em 45 minutos o Rio Ave humilhou os leões e nunca mais Campbell voltou a ser opção a titular, somando meras aparições em três jogos onde somando todos os minutos nem chegam a 45 minutos.

Olhando para o plantel dos leões, são muitas as dúvidas que se levantam para solucionar este problema que pode comprometer as aspirações verde e brancas na temporada. Gelson é indiscutível pelo que não é hipótese abdicar do jovem extremo para equilibrar a equipa. E à esquerda, são poucos os que mostram qualidades para poder desempenhar a função que João Mário fazia à direita. O único que poderá ser alternativa é o brasileiro Bruno César. Mas isso obriga a colocar Bryan Ruiz atrás de Bas Dost, abdicando de Markovic, algo que Jesus parece não querer.

Ou então abdicar dos dois avançados e colocar Gelson e outro extremo (seja Campbell, Ruiz ou Markovic) juntos a Bas Dost, reforçando o miolo com Elias, Meli ou mesmo Bruno César junto de Adrien (quando voltar) e William Carvalho.

Reequilibrar o leão é o grande desafio que Jesus tem pela frente. Depois de arranque a toda a força, o início da Champions parece ter exposto os defeitos gritantes que a equipa tem. E ainda faltam jogos contra Dortmund na Alemanha e em Alvalade frente ao Real Madrid, pelo que os leões não poderão abdicar do seu onze mais forte, mesmo que fiquem já fora de hipótese de seguir para a fase seguinte da prova europeia, pois correm o risco de poderem ser ultrapassados pelo Légia na última jornada e nem conseguirem o objetivo menor que é seguir para a Liga Europa, que Bruno de Carvalho já anunciou ser um objetivo para o seu próprio mandato.

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quarta-feira, outubro 12, 2016

O Cafu português


João Cancelo parece proveniente da escola brasileira de laterais direito. Cafú, Maicon ou Daniel Alves foram os expoentes máximos dessa escola ao longo das últimas duas décadas. O lateral português, formado no Benfica, parece talhado para voos semelhantes. Ouve-se já falar do interesse do Barcelona para substituir Aleix Vidal, que não convenceu depois de ter brilhado no Sevilha, uma posição carenciada nos catalães, que têm utilizado Sergi Roberto nessa posição, apesar de ser um médio de origem.

Acompanho a carreira de João Cancelo desde que o lateral tinha apenas 13 ou 14 anos, ainda nos iniciados do clube da Luz. Vi vários jogos do lateral no Seixal e confesso que sempre me encantou. Brilhava numa equipa onde pontificavam vários jogadores que se afirmaram no futebol nacional, como o guardião Bruno Varela, Fábio Cardoso, Ricardo Horta, Bernardo Silva, Diego Lopes, João Teixeira, Hélder Costa e Sancidino Silva. Foi com este grupo campeão nacional de iniciados, juvenis e juniores.

As suas características são precisamente as mesmas que hoje apresenta, claro que mais refinadas e desenvolvidas. Grande capacidade ofensiva, excelente na execução de cruzamentos, forte nas bolas paradas (algo que ainda não tem estatuto para assumir nem no Valência nem na Seleção Nacional), criatividade e velocidade. Muitas vezes jogava à esquerda dada a sua facilidade em vir para dentro para aplicar o forte pontapé que possui. Destaque também para a sua excelente compleição física, com 1,82m, uma altura muito relevante para um lateral no futebol moderno, onde cada vez mais o jogo aéreo é fundamental para o sucesso coletivo e individual.

Como sénior, depois de ter sido ignorado por Jorge Jesus no Benfica, tem vindo a destacar-se e a afirmar-se cada vez mais em Valência, onde tem sido quase sempre opção como lateral direito (raramente foi utilizado à esquerda) e mais recentemente, várias vezes, como extremo. Uma opção que se entende por causa de ser um lateral muito ofensivo, que por vezes provoca desequilíbrios na sua defesa por estar em posições mais adiantadas.

Esse era o grande ponto a melhorar do lateral direito natural do Barreiro. Já nos escalões de formação essa dúvida pairava aquando do momento que chegasse a sénior. É que nos escalões jovens, esse caudal ofensivo não tem grandes riscos defensivos dada a enorme diferença de qualidade entre os grandes e a maioria dos adversários que enfrenta ao longo da época.

Inicialmente em Espanha continuava a levantar muitas preocupações pois as falhas defensivas eram consideráveis e, obviamente, acima de tudo, Cancelo é um defesa, pelo que a sua obrigação primária dentro do campo é defender. Ao quarto ano de sénior, e na terceira época em Valência, o lateral direito português parece finalmente pronto para se afirmar como um dos melhores na sua posição a nível mundial.

Nos últimos jogos da Seleção Nacional beneficiou das baixas de Vieirinha primeiro e Cedric depois para agarrar o lugar. É certo que os adversários não foram propriamente muito exigentes, o que lhe permitiu brilhar ainda mais, mas com três golos em três internacionalizações dificilmente não será a opção para titular de Fernando Santos, apesar da concorrência feroz de Cedric e Nelson Semedo.

Será esta a temporada em que se afirma em definitivo e garante uma transferência milionária para um clube de maior dimensão? João Cancelo tem a palavra! Mas se mantiver o nível, é difícil acreditar que não será esse o cenário, já em janeiro ou no próximo defeso. Seria um justo prémio para um jovem cuja vida ficou marcada pelo acidente de viação de há poucos anos que vitimou a sua mãe, que conduzia o automóvel onde seguiam Cancelo e o seu irmão mais novo. Um momento muito amargo que marcou o jogador nos anos seguintes mas que agora parece ser a sua força interior para chegar à ribalta.

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terça-feira, outubro 04, 2016

Uma questão de formação



Falar de formação tornou-se uma moda. Ou assim parece. Até ao início do milénio, apenas o Sporting apresentava resultados neste campo. Por isso, basta olhar para a seleção nacional e ver que a maioria dos jogadores mais experientes são provenientes de Alvalade. Até fizeram uma foto todos juntos durante o Europeu de França que culminou no inédito título europeu para a seleção das Quinas. Eram quase metade dos convocados.

Entretanto, já no século XXI, tanto o Benfica como o Porto construíram as suas próprias academias, no Seixal e VN Gaia, respectivamente, mostrando que não podiam continuar a não seguir o exemplo de Alcochete. Fizeram-no e talvez o tenham feito melhor. Especialmente no caso do clube da Luz.

Na última semana, aquando da convocatória de Fernando Santos para a jornada dupla de apuramento para o Mundial 2018, muitos jornais destacaram a ausência de jogadores do Benfica na escolha do engenheiro. Algo que acabou por ser alterado face à lesão de Cedric e consequente substituição por Nélson Semedo. Contudo, há algo que merece atenção e que mostra a mudança de paradigma do futebol de formação em Portugal.

Se olharmos para os jogadores na convocatória com menos de 23 anos (esta idade é escolhida por ser o último limite de idade que existe no futebol de competição, pois é nos Jogos Olímpicos a idade limite. Apesar de serem já seniores há vários anos, a passagem dos 23 anos acaba por marcar o transpor o último escalão que existe), há uma clara predominância de jogadores formados no Caixa Futebol Campus.

Depois de anos e anos com Alcochete como referência, de onde saíram, entre outros, Ronaldo, Nani, Quaresma, Moutinho, Adrien, William, etc., o maior viveiro do futebol português parece agora continuar na margem sul do Tejo, mas mais próximo da ponte 25 de Abril que da ponte Vasco da Gama.

Para os jogos com Andorra e Ilhas Feroé constam 10 jogadores com menos de 23 anos. Metade dos quais formados no Seixal: João Cancelo, Nelson Semedo, Bernardo Silva, Renato Sanches e André Gomes. Contra apenas João Mário e Gelson Martins do Sporting e André Silva do FC Porto. Há ainda Raphael Guerreiro e Rafa que não foram formados em nenhum dos três grandes.

Se esta convocatória parece indicar a mudança de paradigma que ainda há um ano foi confirmada pelo prémio de melhor academia de formação do mundo ao SL Benfica, se olharmos para os escalões mais jovens das seleções nacionais, esta realidade é ainda mais clara:

- Sub-21 (apuramento para o Europeu): SLB (8 jogadores formados na Luz habitualmente utilizados), SCP (4), FCP (7)
- Sub-20 (última convocatória): SLB (8), FCP (3) e SCP (5)
- Sub 19 (última convocatória): SLB (5), FCP (8) e SCP (4)
- Sub 17 (última convocatória): SLB (6), FCP (4) e SCP (6)

Há poucas semanas Luís Filipe Vieira afirmava que daqui para a frente as idas ao mercado seriam pontuais pois o Seixal seria a fonte preferencial de talentos para a equipa principal. Ainda que tal afirmação pareça algo utópica, pois ao talento jovem é fundamental juntar experiência para uma receita de sucesso, é certo que há muitos jogadores com qualidade acima da média no Caixa Futebol Campus e no espaço de 2 ou 3 anos é de crer que os atuais seis jogadores do plantel principal que passaram pela academia dos encarnados possam ser o dobro ou mais. Muita atenção a Pedro Rodrigues, João Carvalho, Diogo Gonçalves, Yuri Ribeiro, Ruben Dias, Gonçalo Rodrigues, Aurelio Buta, José Gomes, Gedson Fernandes, Florentino Luís, João Filipe, João Felix e Umaro Embalo. Dificilmente 90% deles não serão as estrelas do futebol português na próxima década.

E a Seleção Nacional poderá também ser o espelho dessa realidade com uma maioria de jogadores provenientes do Seixal depois de décadas de predominância do rival de Alvalade, que atualmente parece estar na cauda do pelotão entre os três grandes do futebol português, com o Porto também a ultrapassar os leões em jogadores cedidos às seleções jovens, como se pode ver, por exemplo, pela seleção campeã da europa sub-17, que tinha seis jogadores formados no Seixal no onze titular, quatro no FC Porto e apenas um em Alvalade, que já nem sequer pertencia aos quadros dos leões aquando do título europeu.

Num período cada vez mais difícil em termos financeiros para os clubes nacionais, esta poderá ser, sem dúvida, a chave para o sucesso no futebol português.

quinta-feira, setembro 01, 2016

A Liga da 2ª Circular?


Fechou o mercado de transferências pelo que agora sim é possível olhar para a Liga NOS com outra perspetiva. E de forma rápida a primeira conclusão parece ser que vamos ter, pelo segunda ano consecutivo, uma luta a dois entre os dois grandes da capital, com o Porto a parecer quase um outsider nesta disputa.

É que se há um ano o FC Porto já ficou longe dos dois rivais da 2ª Circular, acabaram por ser os dragões quem menos se reforçou, logo a equipa que mais precisava de encurtar a distância para os opositores da capital.

Começo por aí, pelos da Invicta, que quiseram resolver o problema defensivo que tantos danos lhes causou na época transacta. Mas Felipe e Boly parecem ser uma resposta muito aquém das necessidades da equipa. Sem colocar em causa o valor de ambos, é certo que qualquer um dos dois é inferior a qualquer dos quatro centrais Benfica e Sporting têm nos seus plantéis. E se na defesa continua a parecer residir a principal dor de cabeça dos dragões, na frente aparenta existir um défice criativo, como se viu em Alvalade, num plantel que quase não tem extremos, com apenas Corona e agora Diogo Jota a surgirem como opção para o lugar. Há Brahimi? O argelino ao que parece vai ser reintegrado no plantel mas para além de não ter qualquer ritmo competitivo, na temporada passada revelou-se uma enorme desilusão, onde o manancial técnico que possui redundou sempre num individualismo exagerado que prejudicou constantemente a equipa.

Sobram André Silva, que tem sido o abono de família da equipa, mas com apenas 20 anos parece ser demasiado deixar nos seus ombros o peso do sucesso dos azuis e brancos, e Oliver, que apenas na Invicta parece maravilhar os adeptos pois nunca fez história em Madrid e volta a vir rodar para o Porto sem conseguir afirmar-se em mais lado nenhum. Contudo, tendo em conta o panorama portista, acaba por ser dos melhores jogadores e que poderá dar um extra de qualidade.

Por estes motivos, considero que dificilmente a luta não será a dois pelo título. Do lado dos tricampeões nacionais, saíram Gaitan e Renato mas entraram muitos jogadores de qualidade, como Zivkovic, Rafa, Cervi, Danilo, André Horta e Carrillo. O problema parece ser o excesso de opções de grande qualidade, em especial nas alas ofensivas, com sete jogadores que facilmente poderiam ser titulares em qualquer dos rivais, na sua maioria. O grande ponto de interrogação acaba por ser aquilo que aqui escrevi há dias, um défice físico em muitos jogadores, o que num futebol cada vez mais competitivo e onde a dimensão física se sobrepõe vastas vezes à estratégia e técnica, poderá ser um grande problema. O sucesso de Danilo na posição 8 poderá ser a chave do sucesso desta equipa onde se deve destacar ainda a total manutenção de toda a estrutura defensiva, dos guarda-redes aos defesas (centrais e laterais) e médios-defensivos. É pelas bases que se constrói uma casa e esta parece bem sólida dada a continuidade total dos seus elementos.

Do outro lado da 2ª Circular estarão os principais opositores ao tetra dos encarnados. Os leões voltam a apostar tudo no título que lhes foge há 15 épocas. Lendo hoje a imprensa desportiva nacional, parece haver uma opinião generalizada de que o plantel leonino é o mais forte da Liga NOS. Confesso profunda discordância. Sem que isso coloque em causa a minha opinião que o Sporting é um fortíssimo candidato ao título, em pé de igualdade com o Benfica.

Porém, as saídas de Slimani e João Mário são dois rombos de monta considerando que não se vislumbram alternativas de igual valia. O Sporting comprou muito (nalguns casos assegurou empréstimos) mas a maioria desses jogadores não têm tido sucesso nos últimos anos das suas carreiras. Markovic tem sido um flop desde que abandonou a Luz, mas poderá obviamente relançar-se na ribalta europeia numa cidade que bem conhece e às ordens do treinador que o tornou conhecido no Velho Continente. Joel Campbell nunca se afirmou em lado nenhum e anda há vários anos a somar empréstimos do Arsenal. Elias não teve sucesso na primeira passagem por Alvalade e agora regressa para ser suplente de Adrien (como estará a cabeça do capitão nos próximos meses depois da novela destes últimos dias de defeso) e já com 31 anos, depois de andar pelo Brasil sem deixar grande impressão. Meli era um suplente do Boca. Castaignos, apesar de ainda jovem, nunca impressionou quando fora da Holanda. Entrou muita gente e pode ser sinónimo de mais alternativas, mas serão de melhor qualidade?

Sobra Bas Dost que poderá efetivamente ser o melhor reforço dos verde e brancos mas também apenas teve até hoje duas épocas de grande produtividade goleadora na sua carreira, e não possui as mesmas características do argelino Slimani. É um homem de área, mais posicional, mas sem a combatividade e raça que faziam de Slimani, pela sua estrutura física, um jogador raro e precioso.

O campeonato começa realmente agora. E o Sporting tem dois pontos de vantagem dos tricampeões nacionais. Algo ainda incipiente em três jornadas pelo que se espera uma luta titânica entre os dois grandes de Lisboa. O Porto corre por fora mas às vezes isso até pode ser vantajoso. Pessoalmente, seria uma grande surpresa que se intrometesse a sério na luta.

Prognósticos? Só no fim do jogo, como dizia o outro.

quarta-feira, agosto 24, 2016

Cabedal para o Tetra?


Arrancou há pouco mais de uma semana a Primeira Liga de futebol com os inevitáveis três grandes em busca do tão ambicionado título. O Benfica é o óbvio favorito dado o seu estatuto de tricampeão mas terá concorrência ainda mais feroz com um Sporting que há um ano falhou o campeonato por uma unha negra, e um FC Porto a querer regressar à glória que caracterizou a sua história nos últimos 30 anos mas cuja estrutura parece estar cada vez mais distante dos tempos de sucesso.

E se o Benfica é o favorito, a verdade é que à segunda jornada é o único que perdeu pontos. Sem dúvida que isso é quase irrelevante pois todos perderão pontos e antes agora que na reta final. Mas a dúvida que estes jogos de início de época levantam nos encarnados é mesmo se terão o tricampeões cabedal para fazer história e conseguir o primeiro tetra da sua história.

Refiro-me a cabedal no sentido literal. No sentido físico da palavra. Há um ano o Benfica recuperou um atraso que pareceu deixar os encarnados fora da corrida ao título e para tal foi decisiva a entrada do jovem Renato Sanches na equipa. O jovem formado no Seixal deu uma dimensão física, no centro nevrálgico do campo, que foi fulcral para o sucesso. Desde aí apenas uma derrota em toda a Liga. E o resto já se sabe, uma venda milionária ao Bayern de Munique e uma equipa orfã novamente de motor.

Chegou André Horta e o jovem também formado no Seixal, que andava pelo Vitória sadino após dispensa da Luz ainda nas camadas jovens, pegou de estaca no onze, mas as suas características são completamente diferentes das de Renato Sanches. Tem capacidade de condução, tem até maior recorte técnico e visão de jogo, mas não tem pulmão... e acima de tudo não tem cabedal para aguentar o meio-campo dos tricampeões. E isso nota-se contra as equipas pequenas do nosso campeonato, com sistemas táticos defensivos, linhas recuadas e pouco espaço para jogar, onde André Horta tem imensa dificuldade em assumir o jogo e em lutar fisicamente contra centrocampistas muitas vezes de forte envergadura física.

A falta de cabedal de Horta até poderia não ser problema, mas olhando para o resto dos elementos do meio-campo ofensivo (e até para os laterais) é inevitável prever muitas dificuldades para os encarnados. Pizzi, Cervi (ainda mais frágil que Gaitan em termos físicos), Salvio e Guedes são também eles muitos limitados nesta dimensão. Os dois primeiros não têm capacidade de choque, enquanto os segundos, apesar de raçudos, também não conseguem impor-se pelo cabedal perdendo muitas vezes os duelos contra adversários mais imponentes a esse nível. Apenas Carrillo tem mais capacidade física mas parece ser carta fora do baralho e pode estar de saída, enquanto Zivkovic ainda não foi opção devido ao azar de uma lesão na pré-época, mas padece do mesmo problema dos restantes dado ser muito baixo e frágil, apesar de genial com a bola nos pés.

Ainda Grimaldo e Nelson Semedo apresentam fraca capacidade de choque, o que limita a equipa aos dois centrais, Fejsa e um dos pontas-de-lança como jogadores noutro patamar físico. Na minha opinião isso pode ser fatal. Em relação à equipa que conquistou o 35, estão fora Eliseu, André Almeida (pelo menos neste arranque devido à lesão que sofreu), Gaitan (aqui é irrelevante para a conversa), Renato e até Jonas (voltará em breve e apesar de não se um portento físico, sempre dará mais altura e combatividade).

Como irá Rui Vitória resolver esta questão? Essa é a grande dúvida. Há Danilo mas apesar de dar a tal dimensão física, é um jogador com características bem mais defensivas que Renato ou Horta. A sua entrada poderá ajudar na questão física, mas certamente encurtará o meio-campo em termos de profundidade. Já para não falar de Rafa, a chegar à Luz e que vai ser mais um para aumentar o número de baixinhos dos encarnados.

A qualidade técnica da equipa é inquestionável e parece até bem superior aos dos adversários na corrida ao título, porém a falta de cabedal poderá ser fatal para o tetra que os benfiquistas procuram alcançar pela primeira vez na sua história. Haverá ainda uma ida ao mercado de última hora para resolver esta questão? Dentro de precisamente uma semana saberemos. O nome de Hernanes tem sido constantemente falado e talvez fosse uma excelente solução. Não sendo um portento físico, junta a combatividade à técnica, algo que só clonando Danilo e Horta num só jogador será possível de alcançar nas atuais soluções à disposição do treinador dos campeões nacionais.













segunda-feira, julho 11, 2016

O Herói Inesperado


Se alguém dissesse há um mês atrás que Portugal ia ser campeão europeu com um golo de Éder, 99% iria achar que era uma piada. Eu incluído. Mas o patinho feio da seleção nacional virou o herói de milhões de portugueses espalhados pelo mundo, no dia mais glorioso da história do futebol português.

Agora vale zero comentar se somos justos campeões. Dizer que empatamos 6 dos 7 jogos do Euro 2016. Que o futebol apresentado foi pobre a nível exibicional. O que conta são os títulos e este é de PORTUGAL!!!!

O jogo não foi diferente de todos os outros que Portugal disputou após a fase de grupos. O onze foi o mesmo, o sistema tático idem, a estratégia de jogo também. Mas um revés inesperado pôs um país em sobressalto. Cristiano Ronaldo, capitão da seleção e o seu grande ícone caiu no relvado do Stade de France pouco passava dos 10 minutos. Tentou continuar em campo de todas as maneiras. Saiu em lágrimas e voltou com o joelho ligado, mas pouco depois sairia mesmo. Novamente em lágrimas. Chorava o melhor do mundo e choravam milhões por esse mundo fora emocionados com momento tão amargo de CR7 que parecia colocar ainda mais em causa as aspirações lusas, que entrou no jogo com menor favoritismo.

Talvez este tenha sido o toca a reunir da equipa. Fernando Santos optou por fazer entrar Quaresma e mudou o sistema de jogo. Renato Sanches juntou-se a Adrien à frente de William Carvalho e Quaresma e João Mário ficaram nas alas com Nani na frente.

A verdade é que a França dominou boa parte da partida, dispôs de várias ocasiões para marcar, mas Rui Patrício foi simplesmente um gigante. Uma verdadeira parede. O guardião das chaves do templo, naquela que foi, sem dúvida, a mais fantástica exibição da sua carreira.

Portugal não teve muitas ocasiões na primeira metade, mas no segundo tempo conseguiu dividir bem melhor a partida. Foi também perigoso nalgumas ocasiões e cresceu muito com a entrada de Éder. O patinho feio da equipa foi fundamental para a mudança do estilo de jogo, funcionando na perfeição como target player, recebendo as bolas longas, prendendo os centrais e obrigando-os a recorrer a faltas para o parar.

João Mário foi muito importante também nesta segunda metade, com um jogo em crescendo, bem mais próximo do seu real valor que teimou em não demonstrar ao longo do torneio.

Do lado francês, com a mudança tática após a lesão de Ronaldo, perdeu-se a sensação de domínio físico da partida. Naqueles primeiros minutos, o meio-campo luso parecia dominado e sem força para travar Matuidi, Pogba e em especial Sissoko, o médio do Newcastle, que encheu o campo. Correu de forma imparável até bem dentro do prolongamento. Força, capacidade técnica e velocidade. Um trio de qualidades que foram o principal quebra-cabeças da bem organizada equipa portuguesa.

Griezmann esteve em bom plano também, sempre oportuno e a obrigar Patrício a um punhado de grandes intervenções.

E quando o prolongamento parecia certo, veio a grande oportunidade do jogo, Gignac, o avançado francês que optou há pouco mais de um ano pelo exótico campeonato mexicano, que havia substituído Giroud, conseguiu trabalhar muito bem na área, deixar Pepe (hoje homem do jogo, quando não o foi, mas sim Patrício, mas que já merecia essa distinção em duas partidas) no relvado e atirar de pé direito, enrolado, um remate que terminou no poste da baliza lusa.

Os deuses estavam do lado luso, claramente, para nossa alegria. Aquele lance teria morto a partida pois não havia tempo de reação. Felizmente o poste não o permitiu e milhões de portugueses respiraram fundo de alívio.

Empate, mais um para Portugal no final dos 90 minutos, um resultado que se aceitava, apesar de a França ter feito mais até ali para merecer o título.

Porém, isso mudou no prolongamento. Aí sim Portugal foi melhor, a entrada de Éder que tinha dado uma boa ponta final a Portugal no tempo regulamentar, manteve-se como o factor de mudança do rumo do jogo. E seria já no segundo tempo do prolongamento que Portugal teria a sua grande oportunidade, num livre de Raphael Guerreiro (porquê um Euro inteiro a ver Ronaldo marcar todos os livres sem qualquer eficácia quando temos exímio marcador no lateral esquerdo) que beijou a barra de Lloris que bem se esticou para evitar o golo luso. É certo que o lance é originário numa mão de Éder que o árbitro inglês Clatenburg (fantástica arbitragem à exceção deste lance) achou ser de um defesa gaulês.

Não entrou ali, entrou pouco depois, num remate forte e rasteiro do meio da rua de Éder, depois de deixar Koscielny no relvado graças ao seu maior poderia físico. O conto de fadas tornava-se realidade. Num ano onde o Leicester foi o maior conto de fadas das últimas décadas do futebol moderno, Éder juntou-se a esse mesmo conto. Criticado pela maioria (eu incluo-me no lote), o avançado que joga precisamente em França, no Lille, foi o verdadeiro herói desta história.

Não só mudou o jogo e foi decisivo para que Portugal conseguisse finalmente jogar mais próximo da baliza de Lloris, como marcou ainda o golo que deu o primeiro título da história ao futebol português numa grande competição de seniores.

A França já não conseguiu reagir senão com o coração e a entrada de Martial nada alterou num jogo onde Portugal já dominava e era mais perigoso.

12 anos depois Portugal põe fim a uma amargura que perdurou desde o Euro-2004. Não ganhamos a jogar igual à Grécia, mas também não ficamos longe disso. O mérito deve ser todo de uma só pessoa: FERNANDO SANTOS.

O técnico português é o grande obreiro desta vitória histórica. Não concordo com a maioria das suas opções, nem com o estilo monótono de jogo, mas montou uma equipa com uma alma e coesão fantásticas. E assim se ganham grandes competições. Não foi possível fazê-lo a jogar bonito, mas isso pouco importa. Soube criar uma equipa que não perde (assim é desde que está à frente dos destinos da Seleção em jogos oficiais há já dois anos) e isso é meio caminho andado para se ganhar.

Ganhamos um jogo no tempo regulamentar em todo o Euro 2016. Mas em compensação não perdemos nenhum. Agora é valorizar o que se quer. Para a história fica a Taça e o título de Campeões da Europa. Daqui a 10, 20 ou 30 anos ninguém se vai lembrar se a equipa apresentava um futebol chato e monocórdico, vamos é lembrar que Portugal foi campeão europeu no dia 10 de julho de 2016 pela primeira vez na sua história.

Com as gerações que estão na calha, acho que Portugal pode voltar a sonhar com momentos como este. Pessoalmente, espero que se repitam várias vezes, mas se possível não só ganhando como maravilhando o mundo. Terá ainda mais sabor!

quinta-feira, julho 07, 2016

O fim da era Pep Guardiola


O caro leitor deve estar a pensar o que é que terei bebido ao jantar. Guardiola? Mas o treinador espanhol nunca foi seleccionador! O que tem ele a ver para esta história. Garanto que o jantar foi regado com água. E que não é um erro chamar o técnico espanhol para esta crónica ao jogo que colocou a França na final do Euro 2016.

Certamente não serei o único que fez a ligação que vou explicar a seguir, mas sinceramente nunca li nenhum texto ou ouvi nenhum comentador na rádio ou TV a constatar o que me parece quase óbvio. Desde que Pep Guardiola surgiu como técnico principal do Barcelona, que os países onde treina são campeões da Europa ou do Mundo. Em 2008 tomou conta do clube da Cidade Condal, ano em que a Espanha conquistou o Europeu de futebol. Aí não lhe pode ser atribuído mérito, mas daí para a frente...

Fez do Barça a melhor equipa do mundo e foram os culés a base de sucesso da Espanha que conquistou o Mundial 2010, pela primeira vez na sua história, e fez o bis no Europeu em 2012. Guardiola viajou então para a Alemanha, onde assumiu o Bayern de Munique. E com o seu estilo peculiar de montar equipas, recriou os bávaros, já numa senda imparável de vitórias. O tiki-taka fez escola na Alemanha, ainda que de forma adaptada face ao modelo original, e passou a ser a base da seleção alemã. E com ele veio o título mundial em 2014.

Agora sim chegou ao fim essa ligação íntima entre os campeões do mundo e europa e os países onde Guardiola está. E parece-me que dificilmente isso voltará a acontecer no futuro próximo, porque nem a Inglaterra parece ter qualidade para esses voos, nem o City será a base da seleção inglesa pois tem praticamente só estrangeiros no onze titular.

Depois desta longa introdução, o jogo que apurou o país organizador para a final. A França voltará a cruzar-se com Portugal, aquela que é a besta negra da nossa história. E no jogo jogado, o desfecho nem é especialmente justo. A Alemanha dominou o jogo de início ao fim, teve as melhores oportunidades, e foram uma mão cheia delas. Mas tenho a ideia que podiam ainda estar lá a esta hora que a bola não entrava.

Ora Lloris, com magníficas intervenções, ora o poste, ora a falta de pontaria germânica, é certo é que a bola nunca entrou. Deschamps montou uma equipa com um sistema mais atrevido do que seria suposto, abdicando do trinco Kanté, mas a opção revelou-se um erro. Porque a França jogou com as linhas super baixas, a defender nos últimos trinta metros e sem capacidade de pressionar a construção. Com Kanté, Pogba e/ou Matuidi estariam mais livres para sair ao portador da bola. Isso não aconteceu e foram várias as falhas defensivas gaulesas.

Com um futebol apoiado, de grande qualidade na construção, os campões do mundo conseguiam encontrar espaços entre linhas e iam desconstruindo a defesa contrária mas não conseguiam refletir no marcador essa supremacia.

E quando tudo parecia ir empatado para o intervalo, um erro de Schweinsteiger, ao atacar uma bola num canto de braço levantado, fez penalty que Antoine Griezmann não perdoou. Estava desfeito o nulo e logo pela equipa que menos tinha feito por isso. Porém é preciso ressalvar que apesar de ter feito muito menos para isso, a França não deixou de dispor de duas ou três oportunidades para marcar antes do penalty.

Na segunda parte o jogo mudou um pouco a sua cara. A Alemanha passou a ter ainda mais dificuldades para criar jogo ofensivo, porque as linhas francesas baixaram ainda mais. O espaço no último reduto alemão aumentou e a França passou a ser bem mais perigosa no contra-golpe. E quando a Alemanha tudo fazia para tentar a igualdade, a equipa da casa fez o segundo. Um erro duplo de Kimmich, o jovem jogador polivalente do Bayern, perdeu uma bola infantil na área ao querer sair a jogar e depois foi literalmente comido por Pogba por ter ido à queima à finta do médio francês. Pogba centrou depois para a área e Neuer juntou-se ao momento de asneira e não sacodiu a bola e deixou-a à mercê de Griezmann que não desperdiçou com um toque por baixo do gigante germânico.

Aquele que muito provavelmente será eleito o melhor jogador e marcador do Euro-2016, o irrequieto avançado do Atlético de Madrid, foi mais uma vez decisivo. O segundo golo matou praticamente as aspirações dos campeões do mundo, que tiveram ainda 20 minutos de grande pressão e onde conseguiram criar mais um grande número de ocasiões que nunca entraram nas redes do capitão francês.

A França é o segundo finalista do Euro 2016, mesmo tendo adulterado hoje a sua estratégia habitual. Uma abordagem inteligente? Penso que sim, não é erro nenhum reconhecer a superioridade adversária. A Alemanha é sem dúvida (ou era) a melhor equipa deste torneio e demonstrou-o em praticamente todos os jogos. A França tem estado praticamente irrepreensível, apesar de algum sofrimento nalgumas partidas. É das equipas com um futebol mais entusiasmante, tanto a nível coletivo como individual, mas hoje vestiu a pele de cordeiro, um pouco à imagem do que Portugal fez em todo o Euro 2016.

Adivinhar o que se vai passar no próximo Domingo é uma tarefa para o Bruxo de Fafe ou um qualquer Zandinga. Uma coisa é certa, Portugal não irá mudar o seu sistema pois foi completamente congruente em todos os jogos. Não será na final que isso será alterado. Já a França, irá voltar ao estilo mais dominador e ofensivo, ou numa final adotará o estilo desta noite, mais calculista e expectante? Para Portugal, apesar do histórico assustador contra os gauleses, a França parece mais acessível. A sua defesa não é um bloco de grande qualidade, em especial no centro, onde existe sempre alguma vulnerabilidade. Esperemos que Kanté volte a ficar no banco, porque aí Portugal poderá ter a mesma supremacia que teve hoje a Alemanha. Mas em termos físicos, aí sim aquele meio-campo de enorme dimensão dificilmente será parado. A supremacia numérica deverá ser o antídoto a Pogba, Sisshoko e Matuidi.

Ronaldo Vs Griezmann será o duelo da noite. Tal como o foi na última final da Liga dos Campeões há pouco mais de um mês. Ronaldo entra em campo a ganhar 1-0. Esperemos que aumente a vantagem no domingo, rumo a mais uma Bola de Ouro.

A tática do adormecimento para a vitória


E ao sexto jogo.... FINALMENTE a Vitória! E Portugal está na final do Europeu, 12 anos depois, pela segunda vez na história. O que vai ficar para a história é que Portugal chegou à final, com mais ou menos vitórias, com piores ou melhores exibições.

Depois de cinco empates, Portugal conseguiu finalmente vencer um jogo e logo aquele que lhe permite atingir o jogo decisivo do Europeu de Futebol. A partida, como a maioria deste Europeu, não foi especialmente espetacular. Portugal não fugiu ao habitual figurino, com uma equipa que procura o erro adversário, de forma paciente, sem nunca se desorganizar muito mas também sem a loucura desenfreada pelo golo.

Tem de ser dado mérito a Fernando Santos pela coesão e união que este equipa apresenta. Existe um coletivo muito sólido, uma equipa construída detrás para a frente, que tem sempre como preocupação não perder o posicionamento, nem o controlo dos espaços e do adversário. Um controlo menos habitual do que é normal quando vemos que Portugal é, teoricamente, superior em qualidade individual a todos os adversários que teve pela frente ao longo de toda esta campanha.

O País de Gales teve mais posse de bola, mais passes completos e teve quase sempre ligeira supremacia no que é o controlo da bola. Porém, esse é o veneno que Portugal prefere dar aos seus adversários. Tentar que a equipa contrária assuma o jogo, tente subir mais as suas linhas e assim permitir que os perigosos contra-ataques possam aniquilar os adversários.

A verdade é que também os adversários acabam por optar por fugir a esse risco, o que tem dado origem a vários jogos algo monótonos e com poucas oportunidades de golo. A partida de hoje não mudou a este nível. Os primeiros 45 minutos foram entediantes. Duas equipas à espera do erro adversário, que nunca chegou, o que levou a que a bola raramente se aproximasse das balizas. Portugal optou por como que anestesiar o adversário, para o deixar vulnerável para matar a partida na segunda metade.

Parecia que iríamos ter mais um jogo de empatas, mas finalmente Portugal acabou por ter um pouco da estrelinha que lhe faltou na Fase de Grupos, em especial com Islândia e Áustria, onde a bola parecia não entrar. Hoje entrou praticamente à primeira oportunidade, num canto curto, com um fantástico cruzamento de Raphael Guerreiro e uma ainda mais espetacular elevação de Cristiano Ronaldo, como se tivesses asas, a subir ao 5º andar e a atirar de cabeça para o fundo das redes galesas.

Estava feito o que teoricamente seria o mais difícil e Portugal estava na frente do marcador, algo que tem sido raro em todo o Europeu. Ainda a tentarem recompor-se do golo sofrido, os galeses acabaram por permitir o que Portugal tanto procura, contra-golpes rápidos. Assim surgiu o segundo golo. Com Ronaldo a atirar de fora da área e Nani a desviar para o segundo.

Daí para a frente, Portugal entregou em definitivo o jogo aos galeses, sem nunca tirar os olhos da baliza contrária no contra-ataque. E até poderia ter aumentando o score, não fosse a perdida de João Mário na cara do guardião contrário, numa recarga a forte remate de fora da área de Nani.

O País de Gales nunca demonstrou capacidade para dar à volta ao texto. Privados de Aaron Ramsey, jogador fundamental na manobra ofensiva da equipa, por castigo, passou a ser Bale contra o Mundo. O astro do Real Madrid tentou de todas as formas fazer que a sua equipa reentrasse no jogo. Batendo livres frontais, cruzando livres laterais para a área, ou em duas bombas do meio da rua, uma delas para a defesa da noite de Rui Patrício.

Ficou claro que a caminhada de Gales ia ficar por aqui, o que já foi um tremendo feito para uma equipa que nunca tinha estado num Europeu na sua história.

Em termos individuais é difícil ter grandes destaques na seleção das quinas. Mais uma vez foi o coletivo que mostrou ser a grande arma da equipa. Essa solidariedade pode significar campeonatos, mesmo que a nota artística esteja muito longe de satisfazer mesmo o menos exigente dos adeptos. Todos acabaram por ser competentes nas suas funções, sem que ninguém brilhasse a grande altura. Ronaldo, pelo golo e assistência (se bem que não voluntária pois rematou à baliza) e Danilo, que regressou à equipa e aproveitou o castigo de William Carvalho para deixar uma boa dor de cabeça a Fernando Santos para a grande final do próximo domingo.

E será em Paris, no Stade St. Denis, que Portugal terá pela frente, pela primeira vez neste Euro, um verdadeiro adversário. Uma equipa de top mundial, longe de Islândias, Hungrias, Áustrias, Croácias, Polónias ou País de Gales. Talvez tenhamos uma grande surpresa e contra uma equipa de top mundial, a exibição seja mais entusiasmante. Sinceramente, não acredito. As finais são para ganhar e no próximo jogo sim, a exibição é completamente acessória. O importante é mesmo a vitória.

O histórico com Alemanha e França e francamente negativo para as cores nacionais, mas quando Portugal e uma destas duas nações entrar em campo, nada disso vai interessar. E mais do que em qualquer jogo deste Europeu, o estilo de jogo luso e a sua estratégia poderá ser a mais adequada para uma vitória num jogo como costumam ser as finais, menos exuberantes e mais calculistas.