domingo, julho 01, 2018

MUNDIAL À LUPA: O Lagom nórdico foi traído pela lotaria dos penalties


Lagom é uma filosofia de vida nórdica. Apesar de ter origem na Suécia, é aplicada em vários países nórdicos como a Dinamarca. Lagom significa viver de forma equilibrada, mais devagar e sem grandes dramas ou complicações. Foi precisamente esse equilíbrio que a formação dinamarquesa colocou em prática no relvado de Nizhny Novgorod e conseguiu neutralizar uma das melhores seleções deste mundial em qualidade de jogo.

Na realidade foi um jogo de extremos, com um início e final alucinantes, e uma longa narrativa pelo meio, com vários momentos interessantes mas sem a mesma vibração. Ainda não estavam decorridos 60 segundos e já a Dinamarca estava na frente do marcador na sequência de um canto onde "Zanka" Jorgensen desviou para a baliza entre muitas pernas pela frente.

Dois minutos depois, Mandzukic repunha o empate, num lance caricato, onde um alívio da defesa nórdica embateu na cabeça de Delaney, deixando o avançado croata com a bola à mercê para faturar.

Só que, como seria de esperar, a chuva de golos não poderia continuar ao mesmo ritmo durante 90 minutos pois senão estaríamos a ver um jogo de hóquei em patins. O ritmo acalmou, muito graças ao equilíbrio que os dinamarqueses sempre tiveram. Neutralizaram o coração croata, com Modric muito recuado, a mostrar o respeito que os de leste tinham também por Eriksen, e Rakitic também sem conseguir pegar no jogo.

Valia essencialmente Rebic, sempre muito irrequieto, veloz e criativo, e Perisic nalguns momentos. Já a Dinamarca procurava com Poulsen e Braitwhite nas costas de Cornelius, sempre rápidos, a conseguirem aparecer entre linhas e com movimentos rápidos causaram alguns sobressaltos à defesa croata.

Foi sempre esta a realidade do jogo ao longo de todos os 90 minutos e prolongamento, com algumas chances para ambos os lados, onde o equilíbrio foi a nota dominante, especialmente a partir do segundo tempo com Schone a substituir Christensen, o que deu ainda maior qualidade à Dinamarca na tarefa de neutralizar os cérebros do jogo croata. Do lado contrário, apenas Kovacic trouxe alguma intensidade à equipa.

Contudo, seria já nos cinco minutos finais do prolongamento que a emoção voltaria a subir para os patamares do alucínio inicial. Com Modric finalmente mais liberto depois da entrada de Badelj, o génio do Real Madrid fez o melhor passe da noite, rasgando Rebic pelas costas da defesa nórdica. O avançado croata fintou Kasper Schmeichel e quando ia atirar para a baliza deserta sofreu um toque de "Zanka" Jorgensen que o impediu de matar o encontro.

Só que quando se pensou que Modric iria pôr fim à resistência dinamarquesa, o filho do lendário Peter mostrou que pode alcançar o mesmo pedestal da história do futebol que o seu pai, com Kasper a parar o penalty (muito mal marcado diga-se) do capitão croata.




Foi preciso assim recorrer ao desempate através de pontapés de penalties, onde os dois guarda-redes foram as figuras, ambos a pararam metade dos penalties marcados, Subasic parou três e Schmeichel outros dois, acabando os croatas a sorrir, para alívio de Modric (que bateu um destes penalties, sem qualquer confiança atirando de forma pouco convincente para o meio mas ainda assim a conseguir redimir-se do falhanço anterior) e para castigo de Kasper Schmeichel que foi um verdadeiro gigante esta noite.

Segue em frente a melhor equipa num jogo que apesar de nem sempre espetacular, teve excelentes momentos de futebol, onde a Dinamarca mostrou toda a sua qualidade tática e onde os 120 minutos valeram a pena assistir, ao contrário do jogo desta tarde (do qual não escrevi qualquer crónica) que foi uma martírio de seguir, em que a Espanha viu a sua obsessão pela posse de bola sem objetivo ser castigada aos pés de uma selação russa que se limitou a tentar não perder e cuja estratégia acabou por resultar. Há mais casos semelhantes que nos são bem próximos onde o jogar para não perder se revelou uma estratégia de sucesso, certo?

Man of the Match: Kasper Schmeichel

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