quarta-feira, novembro 30, 2016

Um banco de oportunidades


Foi na temporada de 2012/2013 que em Itália se decidiu aumentar o número de suplentes dos habituais sete para doze. Uma alteração que muitos treinadores italianos receberem com indiferença referindo que pouca diferença faria. Certo é que em 2015, o agora técnico campeão de Inglaterra, o italiano Claudio Ranieri, pedia que a Premier League pensasse em adotar ideia semelhante.

Mas o que está em causa? Faz assim tanta diferença ter sete ou doze jogadores no banco? Na minha opinião faz. Muita! É certo que facilita a vida dos treinadores pois têm menos desafios ao selecionar os 18 que entram na ficha do jogo. Contudo, é simultaneamente uma oportunidade única para abrir portas a outros jogadores, em especial dos jovens.

Nos Europeus ou Mundiais de futebol todos os jogadores vão para o banco. Porque não nos clubes? Claro que não faz sentido num plantel de 28 levar 17 jogadores para o banco, mas os 12 que são permitidos em Itália são sem dúvida uma oportunidade não só de dar hipótese a todos os jogadores de serem utilizados e não um grupo restrito de 18, 19 ou 20 jogadores dentro de um plantel.

As circunstâncias de um jogo podem permitir dar oportunidades a jogadores que noutras condições não as teriam. Especialmente jovens. Seria uma oportunidade para os jovens poderem experimentar a primeira equipa sem precisar que para tal metade de um plantel se lesione para chegar a sua vez.

Nos clubes com equipas B este argumento é ainda mais valioso pois ter dois ou três jogadores da equipa B no banco poderia significar oportunidades para esses jovens poderem crescer mais rápido e terem mais oportunidades de afirmação. Em especial em jogos que corram bem às suas equipas e onde é mais fácil fazê-los entrar.

A verdade é que esta medida do Calcio não foi copiada por nenhuma das principais ligas nacionais europeias até ao momento e já passaram quatro épocas desde que a medida foi implementada em Itália. Mas no meio de tantas inovações que são faladas para serem introduzidas em breve, esta poderia ser, sem dúvida, uma a considerar.


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terça-feira, novembro 22, 2016

Dragão decide futuro no gelo nórdico


O FC Porto tem hoje um jogo que pode decidir o seu futuro não só nesta época como na seguinte. Exagerada esta afirmação? Talvez não. O início de época não tem sido brilhante e com o Benfica a cinco pontos na Liga, ainda que nem o primeiro terço esteja concluído, eliminados da Taça prematuramente, o desastre de não passar a Champions poderia ser uma hecatombe que matava a equipa animicamente ainda antes do final do ano civil.

Muito se falou do FC Porto nas últimas semanas. Ora pela falta de jeito para o desenho do treinador Nuno Espírito Santo, que decidiu ilustrar uma conferência de imprensa com desenhos pouco percetíveis, ora porque conseguiram impor-se em jogo jogado contra o tricampeão Benfica no Dragão, mas uma exibição bastante superior redundou num empate, muito pouco para quem procurava encurtar a distância para o líder num jogo onde a qualidade exibida não teve qualquer tradução no resultado final, ora ainda ao cair na Taça de Portugal, em Chaves, perante um adversário que apesar de voluntarioso, fica a anos-luz do orçamento e da qualidade dos dragões.

Se é cedo para deitar as mãos à cabeça e desesperar, pois apenas a prova rainha de Portugal está perdida, a verdade é que ter cinco pontos de atraso para o líder quando já o recebeu no seu estádio, e estar no fio da navalha na Champions não é motivo para sorrisos.

Por tudo isto, o jogo de hoje na Dinamarca é decisivo para as aspirações na temporada dos azuis e brancos. É certo que a vitória basta para assegurar o apuramento e assim tirar um grande peso de cima das costas. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, o jogo de fácil tem muito pouco. O Copenhaga é um adversário difícil no seu terreno. São poucos os que lá passaram em toda a história da Champions. Em quatro presenças na principal competição do Velho Continente, os dinamarqueses perderam duas vezes! Duas!! E por lá passaram muitos tubarões europeus! Este ano nem um golo sofreram ainda nos dois jogos que disputaram no Parken Stadium.

Em comum nas quatro participações dos dinamarqueses na Champions está o treinador Stale Solbakken. O norueguês de 48 anos que está no clube desde a época 2005/2006, com duas épocas de intervalo a meio, depois de se ter estreado como técnico no modesto HamKam da Noruega. O técnico nórdico acabou curiosamente a carreira de futebolista em 2000/2001 no Copenhaga. Esta é a décima temporada como treinador dos dinamarqueses. Entre 2011 e 2013 passou por Colónia, da Alemanha, e Wolverhampton, de Inglaterra. Mas rapidamente voltou aquela que é a sua verdadeira casa.

Olhando para o histórico do Copenhaga na Liga dos Campeões, o historial no Parken Stadium não pode ser animador para os dragões. Na estreia, em 2006/2007, no primeiro ano de Solbakken à frente dos comandos da equipa, os dinamarqueses ficaram em último no grupo, com sete pontos, empatados curiosamente com o Benfica, a apenas dois pontos do segundo lugar que foi do Celtic, com 9, num grupo ganho pelo Manchester United com 12 pontos. Mas nos três jogos em Copenhaga, apenas o Benfica não saiu de lá derrotado, ao conseguir um 0-0. United e Celtic saíram com zero pontos do Parken Stadium, graças a derrotas por 1-0 e 3-1 respetivamente.

Quatro anos volvidos, em 2010/2011, o Copenhaga voltava à Champions e desta vez para fazer história ao assegurar o apuramento para os oitavos, o único na sua história, onde cairia aos pés do poderoso Chelsea. Mas na fase de grupos, o Copenhaga voltou a ser imbatível no seu reduto. Duas vitórias (1-0 aos russos do Rubin Kazan e 3-1 aos gregos do Panathinaikos) e um empate perante o Barcelona, a uma bola, num ano onde os catalães se sagrariam campeões europeus, batendo por 3-1 na final o United. Apenas nos oitavos os dinamarqueses sofreriam a primeira derrota da sua história na Champions no Parken Stadium, ao perderem por 0-2 com o Chelsea. Na 2ª mão, o empate a zero em Stamford Bridge permitu à equipa sair de cabeça bem levantada da liga milionária.

Foi preciso esperar mais três anos para o regresso, em 2013/2014. Novo grupo complicado e a repetição do quarto lugar da estreia. Mas mais uma vez o Parken Stadium foi uma verdadeira muralha, que apenas o Real Madrid superou. Empate na estreia com a Juventus, um excelente resultado perante o colosso italiano, seguido de vitória frente ao Galatasaray por 1-0. Até que o Real Madrid visitou Copenhaga e pôs fim à invencibilidade dos dinamarqueses no seu estádio na fase de grupos da Champions, impondo-se por 0-2. Curiosamente, à imagem do Barcelona, também os merengues se sagrariam campeões europeus nesse ano. Talvez o Parken Stadium seja talismã para os espanhóis que ali se deslocam na fase de grupos. Os dois que o fizeram terminaram campeões europeus.

Em resumo, o Copenhaga perdeu um jogo em onze na fase de grupos da Champions na Parken Stadium! Conseguirá o Porto repetir a façanha do Real Madrid? Manchester United, Juventus, Barcelona e Benfica, para citar alguns exemplos, não o conseguiram no passado. Se o conseguir assegura o apuramento e, acima de tudo, os tão preciosos milhões. Este é o momento dos dragões se afirmaram na temporada em definitivo. E até o empate pode ser um bom resultado pois permite que nem fiquem obrigados a ganhar na última jornada no Dragão frente ao campeão inglês Leicester.

Mas a derrota poderá deixar os azuis e brancos à mercê do que fizerem os dinamarqueses na Bélgica frente ao Brugges na última jornada. E mesmo assim têm de vencer o até agora imbatível Leicester pois o empate ou derrota com os ingleses deixa os dragões de fora da Champions qualquer que seja o resultado do Copenhaga.

E se esquecermos a importante parte desportiva, o jogo de hoje tem um peso ainda maior pela questão financeira. Mais do que títulos, o Porto precisa de faturar e só a Liga dos Campeões permite fazer face aos 58 milhões de prejuízo que a SAD apresentou recentemente. A Direção da SAD já revelou as suas previsões de faturação de mais de 30 milhões com a Champions e 115 milhões em vendas de jogadores. Caso não passem a fase de grupos, naquele que é provavelmente um dos mais acessíveis grupos de sempre que os dragões enfrentaram na prova milionária, os azuis e brancos devem registar encaixe na Europa de menos de metade do valor acima referido e a valorização dos seus jogadores fica seriamente comprometida para almejar vendas de mais de 100 milhões como previsto.

Como tal, o que está em cima da mesa hoje na Dinamarca não é o sucesso desportivo dos Dragões. É acima de tudo o financeiro! Porque sem ele, certamente o sucesso desportivo será uma miragem. Só a vitória poderá permitir a Pinto da Costa, restante administração da SAD, Nuno Espírito Santo e equipa profissional respirar de alívio. E uma derrota pode fazer o céu desabafar em definitivo...

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quinta-feira, novembro 17, 2016

Red Bull dá-lhes asas


São a equipa sensação da Europa do futebol. Pela primeira vez na Bundesliga, o RB Leipzig lidera a liga alemã a par do Bayern de Munique, e tem o melhor arranque de um estreante na Bundesliga, desde 1965/66. Adicionalmente, pode este fim-de-semana tornar-se líder isolado dado que os bávaros têm uma partida muito difícil frente ao Dortmund e uma escorregadela pode isolar o inesperado outsider, que também não terá tarefa fácil na visita ao Leverkusen já esta sexta-feira. Caso não perca supera o recorde do Duisburgo que em 1993/1994 esteve invencível dez jornadas após a promoção ao escalão maior do futebol germânico, tal como o RB em 2016/2017.

Mas quem é o RB Leipzig e como foi parar ao topo do futebol alemão? A resposta é: Tomou Red Bull. A bebida energética cujo slogan é: Dá-te Asas. A esta equipa que andava pelos distritais do futebol alemão, sem dúvida que lhes deu asas e até um potente motor para esta subida meteórica! Mas vamos conhecer um pouco melhor a história e o percurso da formação alemã.

A origem deste sucesso é o momento da compra do cofundador da Red Bull, o austríaco Dietrich Mateschitz, que tem 49% das ações do clube. Depois da marca já possuir vários clubes noutros países, como nos EUA, na Áustria, no Brasil e no Gana, era sua intenção fazê-lo também na Alemanha. Contudo, a legislação alemã não o permitia, pois impossibilita que um clube seja detido por uma empresa ou tenha o seu nome. O Bayer Leverkusen vai contra a legislação mas apenas porque é anterior à mesma.

Para contornar o problema, o clube outrora chamado SSV Markranstädt assumiu a denominação de RasenBallsport, o que significa "Desporto de Relva". Nunca ninguém chamou isso ao clube, mas sim o seu diminutivo RB, que serve os interesses da marca Red Bull. Assim nascia o RB Leipzig!

O outro problema, também solucionado, era a impossibilidade de aquisição de mais de 50% das ações do clube. A legislação alemã também não o permite a menos que a empresa ou empresário em causa já esteja ligado ao desporto há mais de 20 anos, o que viabiliza as ligações da Bayer ao Leverkusen e da Volkswagen ao Wolfsburgo. Daí Mateschitz apenas ter 49% das ações. Porém, como 51% das ações têm de ser detidos por sócios, a Red Bull dividiu as mesmas por nove sócios, que na realidade são investidores com ligações à empresa. No total, o clube tem apenas 300 sócios que nem sequer têm direito de voto e pagam 1000 euros de quotas!!

Explicada a origem e criação do clube, vamos ao sucesso desportivo. Fundado o clube, foi encontrada a casa do RB Leipzig, o estádio que não estava a ser utilizado desde o Mundial 2006, em Leipzig, com capacidade para 44 mil pessoas. O mesmo foi batizado de Red Bull Arena, que surpresa!, e estavam garantidos os alicerces para o sucesso do projeto, a que se juntaria uma Academia de treinos.

O investimento na equipa de futebol foi o passo seguinte. Ano após ano esse investimento cresceu e a equipa foi subindo paulatinamente de escalão. A aventura começou em 2009 nos regionais e passados quatro anos estava a festejar a subida à segunda liga. No último escalão antes de chegar à Bundesliga esteve duas épocas, conseguindo a tão desejada subida na segunda tentativa.

Ao longo dos últimos três anos o investimento em contratações já superou os 100 milhões de euros e na temporada passada tinha um orçamento que era quase igual à soma dos orçamentos dos restantes 17 clubes.

O sonho do dono do clube é levá-lo à Liga dos Campeões e a meta parece estar bem encaminhada, já no ano de estreia, apesar de ainda faltar muito campeonato. O que é certo é que este sucesso tem valido uma onda de ódio à equipa. Desde boicotes aos jogos, como aconteceu com os adeptos do Dortmund, a arremesso de objetos tão absurdos como uma cabeça de boi num embate para a Taça com o Dresden. É o preço a pagar pelo sucesso meteórico que não é visto com bons olhos num país como a Alemanha onde, ao contrário do que aconteceu em Inglaterra com a entrada de multimilionários no Chelsea ou City, por exemplo, a "compra" do sucesso não é motivo de orgulho. Quem não se queixa são os mais de 44 mil adeptos que a cada jogo do RB Leipzig na Red Bull Arena a enchem por completo.

Uma palavra final para o obreiro técnico do sucesso do RB na Bundesliga. Ralph Hasenhüttl chegou este ano à equipa após ter também tido excelentes resultados no Ingolstad na temporada passada. Também estreante no escalão maior alemão, terminou no 11º lugar mas esteve boa parte da temporada nos lugares próximos do acesso à Liga Europa. Este ano, com mais armas, está a levar o RB a voos nunca pensados, numa equipa que se destaca pelo valor coletivo, mais do que por alguma figura individual. A dupla ofensiva, composta pelo sueco Emil Forsberg, com 4 golos e outras tantas assistências, e pelo jovem alemão Timo Werner, estrela das seleções jovens germânicas, que leva cinco golos e duas assistências, acaba por ser a maior referência de uma equipa que se destaca pela consistência defensiva, com apenas mais um golo sofrido que os campeões Bayern, a melhor defesa da Bundesliga.


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domingo, novembro 06, 2016

Entrar a matar


Prognósticos só no final do jogo. Esta frase que se tornou famosa de um jogador algures nas décadas de 80 ou 90 é sem dúvida a que melhor se aplica a qualquer clássico como aquele que hoje coloca frente-a-frente FC Porto e SL Benfica.

Mas se é difícil prever o desfecho final desta sempre apaixonante jogo, podemos prever algumas das coisas que são expectáveis vermos nesta partida, ainda que depois, a imprevisibilidade do jogo e o seu factor aleatório, que fazem deste o desporto-rei a nível mundial, deixem tudo em aberto sobre o resultado final.

Olhando para o histórico de Rui Vitória à frente do Benfica desde a época passada, nos grande jogos que disputou, sejam eles a nível nacional, contra FC Porto ou Sporting CP, ou internacional, como em Madrid com o Atlético, em Munique com o Bayern ou em Nápoles, mais recentemente, uma coisa parece certa. Os encarnados vão entrar no jogo a tentar mandar no mesmo e a procurar chegar rapidamente ao golo. E será essa capacidade de o fazerem, ou não, que poderá decidir o desfecho do encontro no Dragão.

Há um ano precisamente neste mesmo estádio, um Benfica ainda aos trambolhões entrou no Dragão de forma decidida. Durante os primeiros 45 minutos o FC Porto não criou praticamente um lance de golo, ao contrário dos encarnados que viram Casillas negar-lhe a vantagem por mais do que uma vez. Não é que os da Luz tenham sido extraordinários, mas na altura surpreenderem os dragões sem que contudo tenham conseguido transformar em golos o seu domínio na partida. Acabariam por perder o jogo num golo solitário dos azuis e brancos nos momentos finais do jogo.

Já frente ao Sporting, primeiro na Luz para a Liga, depois em Alvalade para a Taça, cerca de um mês depois, e por fim de novo em Alvalade para a Liga, já em plena segunda volta, o Benfica de Vitória repetiu a dose. Em todos os jogos entrou por cima. Mas a grande diferença foi a capacidade de marcar. Nuns jogos conseguiu-o, noutros nem por isso.

Na Luz não o fez nem foi especialmente perigoso. Mas dominou sem conseguir criar perigo. Já o Sporting marcou nos três primeiros remates. Nos jogos de Alvalade o Benfica entrou sempre mais forte e em ambas as ocasiões marcou cedo. Porém,  na Taça, um golo dos leões à beira do intervalo mudou o rumo dos acontecimentos. Acabariam por semana impor os leões mo prolongamento.

Na Liga o filme foi igual mas sem que os verdes brancos tenham conseguido reentrar no jogo depois da supremacia inicial dos tricampeões.

Se olharmos para os exemplos europeus, o Benfica de Vitória repetiu a postura, mas com realidades diferentes. Em Madrid entrou bem mas sem marcar acabaria por se ver em desvantagem, que viria a contrariar batendo o Atlético. Em Munique entrou a perder ao primeiro minuto e apesar de boa resposta não mais se mexeria o marcador. Já em Nápoles está época,  os encarnados voltaram a entrar muito fortes, perderam dois golos feitos e ao primeiro remate dos italianos chegou o golo, a que se juntou uma exibição infeliz de Júlio César para uma derrota pesada.

O denominador comum parece óbvio dos encarnados. O resultado nem por isso. Mas certo parece ser um Benfica forte nos primeiros minutos do jogo.

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quinta-feira, novembro 03, 2016

O insubstituível


Falta Jonas? Não há problema, mudamos a forma de jogar e o Guedes explode em definitivo. Falta o Horta? O Pizzi safa a coisa. Falta o Jardel? Quem disse que o Luisão já estava em decadência?

A verdade é que podia continuar este exercício por várias linhas! Já faltou Júlio César. Já faltou Ederson. E André Almeida. E Grimaldo. E Luisão... Samaris, Danilo, Rafa, Zivkovic, Jimenez ou Mitroglou. Até um junior de primeiro ano já foi opção, o promissor avançado José Gomes.

Para não falar de Gaitan e Renato Sanches. Esses já não voltam por isso nem entram nesta contabilidade. A tudo Rui Vitória encolhe os ombros e segue com o que tem. Sejam eles jogadores a caminho do fim de carreira, como Luisão, ou outros que ainda estão a dar os primeiros passes, como o "Zé do Golo". Oito vitórias e um empate depois para a Liga, com uma Supertaça ganha de permeio e uma prestação na Champions que deixa tudo em aberto para os oitavos, chegou a única baixa que o Benfica não podia sofrer: Ljubomir Fejsa.

O médio sérvio chegou à Luz em 2013. Pouco mais era do que um desconhecido. Um trinco proveniente do campeão grego Olympiakos. Matic estava próximo da porta de saída e era preciso alguém que o viesse substituir. Esteve na sombra do seu compatriota Matic até janeiro, quando este viajou para Londres para o Chelsea. Daí para a frente assumiu o posto e foi campeão, mas nas bancadas suspirava-se pelo jogador dos Blues. Fejsa era muito curto comparado com o seu antecessor. "É certinho" era o que se ouvia nas bancadas da Luz. Mas não entusiasmava ninguém.

No ano seguinte voltou a sofrer uma lesão grave no joelho, algo que já tinha acontecido por mais do que uma vez na sua carreira e que levantava muitas dúvidas no momento da sua contratação dado o seu passado clínico. Chegou Samaris e nunca mais ninguém se lembrou do sérvio que passou todo o ano no estaleiro, regressando apenas no final da época a tempo de somar ainda alguns minutos.

Mas Fejsa é outro desde que Rui Vitória chegou à Luz. Não foi logo titular quando o técnico chegou aos encarnados, mas quando a equipa encarreirou para a fantástica campanha que lhes valeu o tricampeonato, Fejsa nunca mais saiu (a não ser por um período no início do ano de 2016 devido a uma lesão). E o seu futebol ganhou outra dimensão. Parece um gigante invisível. Muitas vezes não se dá por ele, mas surge no caminho da bola. A recuperá-la e a dar aos seus companheiros para construírem.

Apesar de uma gestão física sempre presa por pinças, em 2016/2017 Fejsa conseguiu finalmente jogar dois jogos por semana sem que tenha tido qualquer recaída. Por vezes sai perto do fim, quando os jogos estão resolvidos, para precaver algum azar. E o sérvio já não se limita a ser o monstro tático do último ano. Não só lê o jogo e antecipa-o como ninguém, como já chega mais próximo da zona de construção. Joga mais subido muitas vezes e mostra todo o seu esplendor.

O Benfica 2016/2017, em busca do inédito tetra do seu historial, já perdeu praticamente toda a gente desde agosto. Safam-se 3 ou 4 jogadores. Um deles era Fejsa. Porém a entrada assassina que sofreu esta terça-feira no Estádio da Luz frente ao Dínamo de Kiev deixa-o de fora do clássico.

No jogo mais difícil do ano até ao momento, Rui Vitória vê-se privado do seu jogador mais importante. Tudo gira à sua volta. Porque é ele quem garante os equilíbrios que têm conduzido ao sucesso o Benfica. Ninguém no plantel apresenta características para assumir o seu papel. Pelo menos com a mesma eficiência em termos individuais. Porém o problema maior é mesmo a questão coletiva. Assim que Fejsa saiu no jogo da Champions, o Benfica tremeu. O Dínamo assumiu o jogo e os encarnados andaram perdidos durante vários minutos.

A opção mais óbvia para o clássico de domingo será o grego Andreas Samaris, mas os seus défices de posicionamento e leitura de jogo são um risco muito grande tendo em conta a dificuldade esperada no Dragão. Ainda para mais o grego praticamente não jogou este ano devido a lesão e apenas há 2 semanas voltou a estar apto.

Sobram André Almeida, Celis e Danilo. O primeiro é pau para toda a obra e em todo o lado cumpre o que lhe mandam. Contudo, também esteve muito tempo parado devido a lesão e tem poucas rotinas de jogar no meio depois de uma época como indiscutível na lateral direita após lesão de Nelson Semedo. Almeida foi opção em Nápoles mas ao lado de Fejsa e não como trinco único.

O colombiano Celis é de todos o que menos parece contar. É jovem. Está ainda em adaptação. E sempre que chamado tem cometido erros que custaram dissabores, como a falta que deu origem ao golo do Besiktas na 1ª jornada da Champions ou o atraso disparatado na Taça de Portugal que provocou o penalty a favor do 1º Dezembro.

Por fim, Danilo. O jovem brasileiro é um 8 de origem mas em Braga e Valência foi mais vezes 6 do que 8. Esteve muito tempo parado e nunca jogou a 6 no Benfica (também só jogou um jogo... a 8, para a Taça, onde até marcou um grande golo). Não tem rotinas na equipa mas apresenta mais ritmo que Samaris (não de jogo mas de treino pois está apto há mais tempo) e na minha opinião é o único com a dimensão física e tática que pode fazer lembrar Fejsa.

No preciso momento em que Rui Vitória vai ter os maiores desafios, com jogos com Porto e Sporting para a Liga e apuramento da Champions vê cair a peça que coloca a engrenagem encarnada a funcionar. Para já é certo que falha o clássico. Espera Vitória, certamente, que possa regressar o mais rapidamente possível, preferencialmente logo após a paragem das seleções.

Danilo ou Samaris? O brasileiro parece-me claramente melhor opção. Mas o grego está na poule, aparentemente. Irá Rui Vitória repetir o reforço do meio-campo como fez em Nápoles? Não correu bem mas o motivo do insucesso esteve longe de ser esse, mas sim a ineficácia ofensiva e a desastrada noite de Júlio César. Colocar um dos dois acima referidos ao lado de Pizzi e Horta. Ou Almeida e Pizzi poderá será opção, com Guedes a cair numa ala em detrimento de Cervi.

Uma coisa é certa. Se o Benfica de Vitória sobreviver à ausência de Fejsa, depois de todas as outras, então é certo que sobrevive a tudo e da próxima vez que mais algum jogador encarnado cair, os adeptos em vez de tremer começaram a ficar ansiosos por saber quem será o próximo jogador a rebentar na Luz.

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