quinta-feira, julho 09, 2015

All-in


Os ânimos estão ao rubro no futebol português. Primeiro foi Jorge Jesus a trocar de clube na 2ª Circular. Depois é o FC Porto a investir milhões, quer com a contratação mais cara de sempre do futebol português, a que junta agora o jogador com o maior ordenado da história do desporto-rei no nosso país. Ficará por aqui? Provavelmente não... ainda falta mais de mês e meio para o encerramento do mercado. Por isso mesmo é muito cedo para grandes análises, motivo pelo qual ainda nada tinha escrito sobre o assunto. Contudo, com tanta novidade, é mesmo obrigatório fazer uma primeira abordagem ao que se avizinha.

Os muitos comentadores que diariamente enchem horas da antena televisiva portuguesa ficaram em pulgas com a troca do Jesus. Há total unânimidade de que esta será a época mais quente de sempre porque os três grandes estão a jogar todas as cartas pelo título. Não podia estar mais em desacordo!

São dois clubes obrigados a vencer pelo investimento feito. E um sem obrigação e pressão quase nenhumas... Claro que esta opinião pode mudar se a política na Luz se alterar entretanto, mas até agora os bicampeões nacionais têm investido quase zero. Mas já lá vamos.

Começando pelo primeiro grande movimento do mercado, a troca de Jorge Jesus da Luz para Alvalade. Quem segue este blog saberá que nunca morri de amores pelo técnico agora bicampeão. Como Leonardo Jardim dizia há dias ao jornal Record, os treinadores não ganham campeonatos. Os jogadores sim. Jesus teve os melhores plantéis (ou pelo menos os mais caros) da história dos encarnados. Apenas neste último ano assim não foi, conseguindo no entanto revalidar o título, no ano em que terá tido mais mérito, mas também aquele em que abdicou de praticamente todas as competições. Sem que nos possamos esquecer que a vitória final resultou também de muito demérito de Lopetegui, que não conseguiu nunca aproveitar os deslizes do rival (empatou na Madeira horas depois da derrota das águias em Vila do Conde; empatou no Restelo dando o título ao Benfica sem que tivesse sequer que vencer na Cidade Berço; já para não esquecer a falta de ambição demonstrada no clássico da Luz onde poderia ter relançado a Liga).

E como os técnicos não marcam golos, a menos que o investimento não se fique pelo treinador, dificilmente o Sporting pode sequer lutar pelo segundo lugar. Até agora chegou Bryan Ruiz, um jogador de boa qualidade técnica mas que nunca se afirmou em Inglaterra, nem sequer na 2ª Liga, e onde apenas a espaços brilhou no fraco campeonato holandês. Não será por aqui que haverá salto qualitativo. Jesus, qual milagreiro, já disse que vai fazer de William melhor (será que vai ter sequer essa oportunidade depois do trinco ter brilhado no Europeu), pediu a renovação de Capel, um jogador medíocre que acha que vai transformar em algo (alguém mais se lembra de Djaló?) e até diz que na B do Sporting há duas pérolas para a sua equipa A, ele que olha para os jovens durante dois dias e depois se esquece deles, como fez na Luz com André Gomes ou Ivan Cavaleiro, para citar apenas dois exemplos.

Os leões continuam a apresentar muitas lacunas, especialmente na defesa e até agora ninguém chegou e dos nomes que se fala, claramente nenhum tinha lugar sequer como suplente dos dois rivais. Saiu o melhor jogador, Nani, e o peruano Carrillo pode seguir o mesmo rumo caso não renove, o que levanta a questão sobre quem poderá desequilibrar. Se a isto tudo juntarmos a obrigação de vitória lançada por BdC e corroborada por JJ, temos um cocktail explosivo em Alvalade (já para não falar dos gigantes egos de ambos), com mais probabilidade de implodir o leão do que propriamente de o fazer rebentar para a liderança do futebol português.

Mas se em Alvalade existe obrigação de títulos, o que dizer no Dragão. Depois de um ano de grande investimento, que resultou em zero títulos, um investimento ainda maior! É o chamado All-in como no Poker. Ou se ganha, ou sinceramente não sei se o futuro dos azuis e brancos não ficará irremediavelmente comprometido. Está a chegar o guarda-redes mais caro do mundo! Um jogador que sem dúvida tem grandes pregaminhos, mas que não só é conhecido pelos grandes problemas de balneário que costuma levantar, onde o seu ego está sempre à frente dos interesses do clube (até Mourinho foi ao ar porque a prima donna do Real Madrid não jogava...), mas que apresenta uma grave lacuna, a saída às bolas pelo ar, especialmente em cantos e livres laterais. Precisava o FC Porto de um guardião tão dramaticamente ao ponto de oferecer o maior ordenado da história do futebol português?? Na minha opinião claramente não. Helton é um símbolo do clube. É um fantástico guarda-redes e mesmo caminhando para o fim da carreira (Casillas também não vai para novo) daria todas as garantias para manter seguras as redes dos dragões.

À contratação de uma das mais badaladas estrelas do futebol espanhol e internacional, os dragões juntam a mais cara transferência do futebol luso. O médio francês Imbula custou mais de 20M€! Sinceramente, revelo total desconhecimento do jogador, mas pergunto-me como é possível num momento em que o país e os clubes estão de calças na mão, se gasta um valor desta dimensão. E ainda para mais num jogador que por muito bom que seja (e acredito que seja efetivamente um craque que poderá render bastantes euros ao FC Porto num futuro próximo), não será certamente ele a valer o título. Se fosse um jogador que marcasse golos ou desequilibrasse o jogo decisivamente, como foi Hulk, que custou quase o mesmo, mas um médio centro de grande pulmão mas que não é decisivo no último terço do terreno?

O meio-campo dos dragões está fortíssimo, tem dois monstros físicos, Imbula e Danilo Pereira, que se juntam a Herrera no habitual trio tático de Lopetuegi, e ainda se fala da chegada de Rafa ou Lucas Lima para o papel de 10. Juntam-se a eles André André e Sérgio Oliveira, dois fantásticos médios lusos que com tantas opções no miolo dos da Invicta, correm o risco de pouco jogar, o que acima de tudo seria uma perda para o futebol português... e já nem vou falar de Tomás Podstawski que continua perdido na B quando tem qualidade para ser opção regular de caras da equipa principal. Ao menos que o emprestem a um clube da Liga para demonstrar o seu enorme valor!

Nas alas Brahimi e Tello mantêm a qualidade da época transacta, havendo ainda Hernâni e Varela (que regressa) ou até Rafa se se concretizar a falada mudança para o Dragão. Cai Quaresma, algo que não fará os adeptos azuis e brancos aumentarem a estima pelo técnico espanhol. E na frente de ataque haverá Bueno (vem com promessa de golos e qualidade, mas desconheço o seu real valor), Aboubakar é para já a aposta principal (e merece-o pois tem muita qualidade) mas fala-se de Drogba ou Llorente. A acontecer uma destas chegadas, é preciso reconhecer que a equipa azul e branca fica com um nível muito superior ao habitual da Liga NOS. E a obrigação de ser campeão é mesmo uma condição irrefutável pois nenhuma equipa poderá ombrear com tamanha armada! É ganhar ou ganhar! Não há outra opção! Pena que André Silva e Gonçalo Paciência sejam novamente esquecidos...

Na defesa chega Maxi (a tão desejada bicada que PdC adora dar no rival Benfica) a um preço obsceno para um jogador de 31 anos e cuja grande valia é um pulmão e abnegação de elite, algo que teoricamente irá perdendo nas próximas épocas. Fala-se em 4 anos de contrato e um ordenado bruto de 4 milhões! Mais do dobro do que pratica o Benfica, por exemplo, como teto salarial...

Ainda deverá chegar um central e quiçá um lateral esquerdo caso saia Alex Sandro. É um investimento ao nível de campeonatos que certamente não o luso. Um grito de desespero depois de dois anos à míngua de títulos, algo que no Dragão não se sabia o que era há várias décadas. A pressão está toda no FC Porto!!

Por fim, os campeões nacionais. Há semanas que não se fala dum único reforço. Os que chegaram ou vão ser emprestados, ou vão para a B e só dois ou três poderão integrar as opções e se calhar nenhum no onze. Saiu apenas Maxi (e parece que Sílvio e Nélson Semedo serão as opções) e deverá sair Gaitan (com tantas opções para as alas se calhar também não chegará ninguém para o seu lugar). Resta saber se sairá mais alguém.

A estrutura de equipa é a mesma e finalmente haverá aposta nos jovens do Seixal. A grande mudança é mesmo a equipa técnica, onde pessoalmente acho que o Benfica sai claramente a ganhar com a troca. Mas claro, os resultados o dirão. Uma coisa é certa, com tão pouco investimento, com uma nova realidade técnica e depois de dois títulos consecutivos, este poderá ser uma espécie de ano zero na Luz onde qualquer êxito será bem-vindo mas onde a obrigação de vencer é muito reduzida, o que deixa a pressão longe da equipa. O Benfica está sempre obrigado a vencer, pela sua história, mas à data de hoje seria muito injusto exigir a Vieira e Vitória que o Benfica seja o principal candidato.

É uma pré-temporada atípica para os encarnados e os seus adeptos, habituados às grandes manchetes dedicadas a entradas e saídas da Luz. Talvez essa seja mesmo a grande carta de trunfo dos bicampeões.

Muito vai ainda mudar até 31 de agosto e obviamente esta opinião poderá ser completamente desaquada no momento do fecho do mercado. Contudo era impensável manter o silêncio perante tão animado defeso...

quarta-feira, julho 01, 2015

Que não haja mais Bernardos Silvas!


Primeiro foram os Sub-20 a encantar na Nova Zelândia, caindo apenas na lotaria das grandes penalidades, nos quartos-de-final, frente ao Brasil, de forma super injusta. Agora os Sub-21, na final do Europeu, de novo na lotaria, de novo contra uma equipa vestida de amarelo...

Mas o denominador comum destas duas equipas não é apenas a fatalidade dos penalties. É, acima de tudo, a qualidade de ambas as equipas. A qualidade desta geração de futebolistas. Há muito talento. Para dar e vender. E há muito mérito das equipas técnicas, que colocam este excesso de talento e constroem coletivos muito fortes. Equipas que funcionam como um todo, que defendem de forma excelsa. Poucos ou nenhuns golos sofrem. Poucas oportunidades permitem sequer aos adversários.

Seria repetitivo elogiar Bernardo Silva, William Carvalho ou José Sá. Seria até injusto individualizar quando tantos são talentosos. Ficou uma enorme frustração. O título tão desejado não chegou mais uma vez. Mas isso, quanto a mim, está muito longe de ser o mais importante. Formar a ganhar é bom. Mas o que interessa é formar. Para ganhar quando é hora disso mesmo. Tivemos uma geração de ouro, talvez a melhor de sempre (seguramente a melhor dos meus 35 anos de vida, a anos luz de qualquer outra), mas que tirando vitórias na formação, nada ganhou. Esteve muito perto disso. Foi fantástica. Deu alegria e fundadas esperanças de conquistar a Europa e quiçá o Mundo. Mas só ficou lá perto...

Por isso, mais importante que ganhar nas camadas jovens, seria finalmente ganhar nos seniores. E esta geração (Sub-21 e Sub-20) e as que se seguem (Sub-19 e especialmente Sub-18) poderão finalmente consegui-lo. Poderão superar a dita geração de ouro. Porque estão repletas de talento. A rodos. Aos molhos. Mas o talento só será talento se começarem a jogar nos grandes portugueses. Se forem aposta. Ao invés de investimentos em jogadores estrangeiros. Se não se olhar duas vezes na hora de os mandar para dentro de campo, enquanto um qualquer brasileiro, argentino ou sérvio não merece qualquer desconfiança nesse momento.

Todos bateram palmas. Todos dizem que estão aqui estrelas. Mas na hora de voltarem a apoiar os seus clubes, ninguém se lembra disso, e se um qualquer Chiquinho chegar envolto num manto de promessas, o êxtase está instalado. Espero contudo que a realidade financeira do país e do futebol dite finalmente algum bom senso (com contratações de 25 milhões infelizmente isso não parece que vá acontecer) e aposta no que se forma.

É hora de José Sá não estar relegado numa equipa B do Marítimo. Será que é inferior ao Ederson que vai ser suplente na Luz? Tozé ou Sérgio Oliveira devem alguma coisa a Evandro, a Carlos Eduardo ou Quintero? Gonçalo Paciência não reúne todas as competências para poder ser um caso sério como ponta-de-lança? Ivan Cavaleiro é inferior a Ola John ou Suleijmani? Bernardo Silva perde para Talisca em quê para além da altura? (neste caso o Talisca é que terá que nascer 10 vezes para jogar um terço do que o pequeno talentoso médio português)

Os chamados grandes têm de perder a mania que é preciso ganhar a qualquer custo. Alguém tenha a coragem de dar palco a estes jovens. Se não o fizerem, há quem pelos vistos não tenha esse receio lá fora e permita que eles rebentem noutros locais. Perde o futebol português. Perdem os seus adeptos. Perdem os seus clubes. Que não haja mais Bernardos Silvas, que poderá ser um jogador de top mundial e poderá nunca jogar na Liga Portuguesa em toda a sua carreira!