quarta-feira, agosto 24, 2016

Cabedal para o Tetra?


Arrancou há pouco mais de uma semana a Primeira Liga de futebol com os inevitáveis três grandes em busca do tão ambicionado título. O Benfica é o óbvio favorito dado o seu estatuto de tricampeão mas terá concorrência ainda mais feroz com um Sporting que há um ano falhou o campeonato por uma unha negra, e um FC Porto a querer regressar à glória que caracterizou a sua história nos últimos 30 anos mas cuja estrutura parece estar cada vez mais distante dos tempos de sucesso.

E se o Benfica é o favorito, a verdade é que à segunda jornada é o único que perdeu pontos. Sem dúvida que isso é quase irrelevante pois todos perderão pontos e antes agora que na reta final. Mas a dúvida que estes jogos de início de época levantam nos encarnados é mesmo se terão o tricampeões cabedal para fazer história e conseguir o primeiro tetra da sua história.

Refiro-me a cabedal no sentido literal. No sentido físico da palavra. Há um ano o Benfica recuperou um atraso que pareceu deixar os encarnados fora da corrida ao título e para tal foi decisiva a entrada do jovem Renato Sanches na equipa. O jovem formado no Seixal deu uma dimensão física, no centro nevrálgico do campo, que foi fulcral para o sucesso. Desde aí apenas uma derrota em toda a Liga. E o resto já se sabe, uma venda milionária ao Bayern de Munique e uma equipa orfã novamente de motor.

Chegou André Horta e o jovem também formado no Seixal, que andava pelo Vitória sadino após dispensa da Luz ainda nas camadas jovens, pegou de estaca no onze, mas as suas características são completamente diferentes das de Renato Sanches. Tem capacidade de condução, tem até maior recorte técnico e visão de jogo, mas não tem pulmão... e acima de tudo não tem cabedal para aguentar o meio-campo dos tricampeões. E isso nota-se contra as equipas pequenas do nosso campeonato, com sistemas táticos defensivos, linhas recuadas e pouco espaço para jogar, onde André Horta tem imensa dificuldade em assumir o jogo e em lutar fisicamente contra centrocampistas muitas vezes de forte envergadura física.

A falta de cabedal de Horta até poderia não ser problema, mas olhando para o resto dos elementos do meio-campo ofensivo (e até para os laterais) é inevitável prever muitas dificuldades para os encarnados. Pizzi, Cervi (ainda mais frágil que Gaitan em termos físicos), Salvio e Guedes são também eles muitos limitados nesta dimensão. Os dois primeiros não têm capacidade de choque, enquanto os segundos, apesar de raçudos, também não conseguem impor-se pelo cabedal perdendo muitas vezes os duelos contra adversários mais imponentes a esse nível. Apenas Carrillo tem mais capacidade física mas parece ser carta fora do baralho e pode estar de saída, enquanto Zivkovic ainda não foi opção devido ao azar de uma lesão na pré-época, mas padece do mesmo problema dos restantes dado ser muito baixo e frágil, apesar de genial com a bola nos pés.

Ainda Grimaldo e Nelson Semedo apresentam fraca capacidade de choque, o que limita a equipa aos dois centrais, Fejsa e um dos pontas-de-lança como jogadores noutro patamar físico. Na minha opinião isso pode ser fatal. Em relação à equipa que conquistou o 35, estão fora Eliseu, André Almeida (pelo menos neste arranque devido à lesão que sofreu), Gaitan (aqui é irrelevante para a conversa), Renato e até Jonas (voltará em breve e apesar de não se um portento físico, sempre dará mais altura e combatividade).

Como irá Rui Vitória resolver esta questão? Essa é a grande dúvida. Há Danilo mas apesar de dar a tal dimensão física, é um jogador com características bem mais defensivas que Renato ou Horta. A sua entrada poderá ajudar na questão física, mas certamente encurtará o meio-campo em termos de profundidade. Já para não falar de Rafa, a chegar à Luz e que vai ser mais um para aumentar o número de baixinhos dos encarnados.

A qualidade técnica da equipa é inquestionável e parece até bem superior aos dos adversários na corrida ao título, porém a falta de cabedal poderá ser fatal para o tetra que os benfiquistas procuram alcançar pela primeira vez na sua história. Haverá ainda uma ida ao mercado de última hora para resolver esta questão? Dentro de precisamente uma semana saberemos. O nome de Hernanes tem sido constantemente falado e talvez fosse uma excelente solução. Não sendo um portento físico, junta a combatividade à técnica, algo que só clonando Danilo e Horta num só jogador será possível de alcançar nas atuais soluções à disposição do treinador dos campeões nacionais.