quinta-feira, novembro 03, 2016

O insubstituível


Falta Jonas? Não há problema, mudamos a forma de jogar e o Guedes explode em definitivo. Falta o Horta? O Pizzi safa a coisa. Falta o Jardel? Quem disse que o Luisão já estava em decadência?

A verdade é que podia continuar este exercício por várias linhas! Já faltou Júlio César. Já faltou Ederson. E André Almeida. E Grimaldo. E Luisão... Samaris, Danilo, Rafa, Zivkovic, Jimenez ou Mitroglou. Até um junior de primeiro ano já foi opção, o promissor avançado José Gomes.

Para não falar de Gaitan e Renato Sanches. Esses já não voltam por isso nem entram nesta contabilidade. A tudo Rui Vitória encolhe os ombros e segue com o que tem. Sejam eles jogadores a caminho do fim de carreira, como Luisão, ou outros que ainda estão a dar os primeiros passes, como o "Zé do Golo". Oito vitórias e um empate depois para a Liga, com uma Supertaça ganha de permeio e uma prestação na Champions que deixa tudo em aberto para os oitavos, chegou a única baixa que o Benfica não podia sofrer: Ljubomir Fejsa.

O médio sérvio chegou à Luz em 2013. Pouco mais era do que um desconhecido. Um trinco proveniente do campeão grego Olympiakos. Matic estava próximo da porta de saída e era preciso alguém que o viesse substituir. Esteve na sombra do seu compatriota Matic até janeiro, quando este viajou para Londres para o Chelsea. Daí para a frente assumiu o posto e foi campeão, mas nas bancadas suspirava-se pelo jogador dos Blues. Fejsa era muito curto comparado com o seu antecessor. "É certinho" era o que se ouvia nas bancadas da Luz. Mas não entusiasmava ninguém.

No ano seguinte voltou a sofrer uma lesão grave no joelho, algo que já tinha acontecido por mais do que uma vez na sua carreira e que levantava muitas dúvidas no momento da sua contratação dado o seu passado clínico. Chegou Samaris e nunca mais ninguém se lembrou do sérvio que passou todo o ano no estaleiro, regressando apenas no final da época a tempo de somar ainda alguns minutos.

Mas Fejsa é outro desde que Rui Vitória chegou à Luz. Não foi logo titular quando o técnico chegou aos encarnados, mas quando a equipa encarreirou para a fantástica campanha que lhes valeu o tricampeonato, Fejsa nunca mais saiu (a não ser por um período no início do ano de 2016 devido a uma lesão). E o seu futebol ganhou outra dimensão. Parece um gigante invisível. Muitas vezes não se dá por ele, mas surge no caminho da bola. A recuperá-la e a dar aos seus companheiros para construírem.

Apesar de uma gestão física sempre presa por pinças, em 2016/2017 Fejsa conseguiu finalmente jogar dois jogos por semana sem que tenha tido qualquer recaída. Por vezes sai perto do fim, quando os jogos estão resolvidos, para precaver algum azar. E o sérvio já não se limita a ser o monstro tático do último ano. Não só lê o jogo e antecipa-o como ninguém, como já chega mais próximo da zona de construção. Joga mais subido muitas vezes e mostra todo o seu esplendor.

O Benfica 2016/2017, em busca do inédito tetra do seu historial, já perdeu praticamente toda a gente desde agosto. Safam-se 3 ou 4 jogadores. Um deles era Fejsa. Porém a entrada assassina que sofreu esta terça-feira no Estádio da Luz frente ao Dínamo de Kiev deixa-o de fora do clássico.

No jogo mais difícil do ano até ao momento, Rui Vitória vê-se privado do seu jogador mais importante. Tudo gira à sua volta. Porque é ele quem garante os equilíbrios que têm conduzido ao sucesso o Benfica. Ninguém no plantel apresenta características para assumir o seu papel. Pelo menos com a mesma eficiência em termos individuais. Porém o problema maior é mesmo a questão coletiva. Assim que Fejsa saiu no jogo da Champions, o Benfica tremeu. O Dínamo assumiu o jogo e os encarnados andaram perdidos durante vários minutos.

A opção mais óbvia para o clássico de domingo será o grego Andreas Samaris, mas os seus défices de posicionamento e leitura de jogo são um risco muito grande tendo em conta a dificuldade esperada no Dragão. Ainda para mais o grego praticamente não jogou este ano devido a lesão e apenas há 2 semanas voltou a estar apto.

Sobram André Almeida, Celis e Danilo. O primeiro é pau para toda a obra e em todo o lado cumpre o que lhe mandam. Contudo, também esteve muito tempo parado devido a lesão e tem poucas rotinas de jogar no meio depois de uma época como indiscutível na lateral direita após lesão de Nelson Semedo. Almeida foi opção em Nápoles mas ao lado de Fejsa e não como trinco único.

O colombiano Celis é de todos o que menos parece contar. É jovem. Está ainda em adaptação. E sempre que chamado tem cometido erros que custaram dissabores, como a falta que deu origem ao golo do Besiktas na 1ª jornada da Champions ou o atraso disparatado na Taça de Portugal que provocou o penalty a favor do 1º Dezembro.

Por fim, Danilo. O jovem brasileiro é um 8 de origem mas em Braga e Valência foi mais vezes 6 do que 8. Esteve muito tempo parado e nunca jogou a 6 no Benfica (também só jogou um jogo... a 8, para a Taça, onde até marcou um grande golo). Não tem rotinas na equipa mas apresenta mais ritmo que Samaris (não de jogo mas de treino pois está apto há mais tempo) e na minha opinião é o único com a dimensão física e tática que pode fazer lembrar Fejsa.

No preciso momento em que Rui Vitória vai ter os maiores desafios, com jogos com Porto e Sporting para a Liga e apuramento da Champions vê cair a peça que coloca a engrenagem encarnada a funcionar. Para já é certo que falha o clássico. Espera Vitória, certamente, que possa regressar o mais rapidamente possível, preferencialmente logo após a paragem das seleções.

Danilo ou Samaris? O brasileiro parece-me claramente melhor opção. Mas o grego está na poule, aparentemente. Irá Rui Vitória repetir o reforço do meio-campo como fez em Nápoles? Não correu bem mas o motivo do insucesso esteve longe de ser esse, mas sim a ineficácia ofensiva e a desastrada noite de Júlio César. Colocar um dos dois acima referidos ao lado de Pizzi e Horta. Ou Almeida e Pizzi poderá será opção, com Guedes a cair numa ala em detrimento de Cervi.

Uma coisa é certa. Se o Benfica de Vitória sobreviver à ausência de Fejsa, depois de todas as outras, então é certo que sobrevive a tudo e da próxima vez que mais algum jogador encarnado cair, os adeptos em vez de tremer começaram a ficar ansiosos por saber quem será o próximo jogador a rebentar na Luz.

ESTE TEXTO FOI TAMBÉM PUBLICADO NO BLOGUE BOM FUTEBOL

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