quinta-feira, novembro 17, 2016

Red Bull dá-lhes asas


São a equipa sensação da Europa do futebol. Pela primeira vez na Bundesliga, o RB Leipzig lidera a liga alemã a par do Bayern de Munique, e tem o melhor arranque de um estreante na Bundesliga, desde 1965/66. Adicionalmente, pode este fim-de-semana tornar-se líder isolado dado que os bávaros têm uma partida muito difícil frente ao Dortmund e uma escorregadela pode isolar o inesperado outsider, que também não terá tarefa fácil na visita ao Leverkusen já esta sexta-feira. Caso não perca supera o recorde do Duisburgo que em 1993/1994 esteve invencível dez jornadas após a promoção ao escalão maior do futebol germânico, tal como o RB em 2016/2017.

Mas quem é o RB Leipzig e como foi parar ao topo do futebol alemão? A resposta é: Tomou Red Bull. A bebida energética cujo slogan é: Dá-te Asas. A esta equipa que andava pelos distritais do futebol alemão, sem dúvida que lhes deu asas e até um potente motor para esta subida meteórica! Mas vamos conhecer um pouco melhor a história e o percurso da formação alemã.

A origem deste sucesso é o momento da compra do cofundador da Red Bull, o austríaco Dietrich Mateschitz, que tem 49% das ações do clube. Depois da marca já possuir vários clubes noutros países, como nos EUA, na Áustria, no Brasil e no Gana, era sua intenção fazê-lo também na Alemanha. Contudo, a legislação alemã não o permitia, pois impossibilita que um clube seja detido por uma empresa ou tenha o seu nome. O Bayer Leverkusen vai contra a legislação mas apenas porque é anterior à mesma.

Para contornar o problema, o clube outrora chamado SSV Markranstädt assumiu a denominação de RasenBallsport, o que significa "Desporto de Relva". Nunca ninguém chamou isso ao clube, mas sim o seu diminutivo RB, que serve os interesses da marca Red Bull. Assim nascia o RB Leipzig!

O outro problema, também solucionado, era a impossibilidade de aquisição de mais de 50% das ações do clube. A legislação alemã também não o permite a menos que a empresa ou empresário em causa já esteja ligado ao desporto há mais de 20 anos, o que viabiliza as ligações da Bayer ao Leverkusen e da Volkswagen ao Wolfsburgo. Daí Mateschitz apenas ter 49% das ações. Porém, como 51% das ações têm de ser detidos por sócios, a Red Bull dividiu as mesmas por nove sócios, que na realidade são investidores com ligações à empresa. No total, o clube tem apenas 300 sócios que nem sequer têm direito de voto e pagam 1000 euros de quotas!!

Explicada a origem e criação do clube, vamos ao sucesso desportivo. Fundado o clube, foi encontrada a casa do RB Leipzig, o estádio que não estava a ser utilizado desde o Mundial 2006, em Leipzig, com capacidade para 44 mil pessoas. O mesmo foi batizado de Red Bull Arena, que surpresa!, e estavam garantidos os alicerces para o sucesso do projeto, a que se juntaria uma Academia de treinos.

O investimento na equipa de futebol foi o passo seguinte. Ano após ano esse investimento cresceu e a equipa foi subindo paulatinamente de escalão. A aventura começou em 2009 nos regionais e passados quatro anos estava a festejar a subida à segunda liga. No último escalão antes de chegar à Bundesliga esteve duas épocas, conseguindo a tão desejada subida na segunda tentativa.

Ao longo dos últimos três anos o investimento em contratações já superou os 100 milhões de euros e na temporada passada tinha um orçamento que era quase igual à soma dos orçamentos dos restantes 17 clubes.

O sonho do dono do clube é levá-lo à Liga dos Campeões e a meta parece estar bem encaminhada, já no ano de estreia, apesar de ainda faltar muito campeonato. O que é certo é que este sucesso tem valido uma onda de ódio à equipa. Desde boicotes aos jogos, como aconteceu com os adeptos do Dortmund, a arremesso de objetos tão absurdos como uma cabeça de boi num embate para a Taça com o Dresden. É o preço a pagar pelo sucesso meteórico que não é visto com bons olhos num país como a Alemanha onde, ao contrário do que aconteceu em Inglaterra com a entrada de multimilionários no Chelsea ou City, por exemplo, a "compra" do sucesso não é motivo de orgulho. Quem não se queixa são os mais de 44 mil adeptos que a cada jogo do RB Leipzig na Red Bull Arena a enchem por completo.

Uma palavra final para o obreiro técnico do sucesso do RB na Bundesliga. Ralph Hasenhüttl chegou este ano à equipa após ter também tido excelentes resultados no Ingolstad na temporada passada. Também estreante no escalão maior alemão, terminou no 11º lugar mas esteve boa parte da temporada nos lugares próximos do acesso à Liga Europa. Este ano, com mais armas, está a levar o RB a voos nunca pensados, numa equipa que se destaca pelo valor coletivo, mais do que por alguma figura individual. A dupla ofensiva, composta pelo sueco Emil Forsberg, com 4 golos e outras tantas assistências, e pelo jovem alemão Timo Werner, estrela das seleções jovens germânicas, que leva cinco golos e duas assistências, acaba por ser a maior referência de uma equipa que se destaca pela consistência defensiva, com apenas mais um golo sofrido que os campeões Bayern, a melhor defesa da Bundesliga.


ESTE TEXTO FOI TAMBÉM PUBLICADO NO BLOGUE BOM FUTEBOL

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