terça-feira, outubro 04, 2016

Uma questão de formação



Falar de formação tornou-se uma moda. Ou assim parece. Até ao início do milénio, apenas o Sporting apresentava resultados neste campo. Por isso, basta olhar para a seleção nacional e ver que a maioria dos jogadores mais experientes são provenientes de Alvalade. Até fizeram uma foto todos juntos durante o Europeu de França que culminou no inédito título europeu para a seleção das Quinas. Eram quase metade dos convocados.

Entretanto, já no século XXI, tanto o Benfica como o Porto construíram as suas próprias academias, no Seixal e VN Gaia, respectivamente, mostrando que não podiam continuar a não seguir o exemplo de Alcochete. Fizeram-no e talvez o tenham feito melhor. Especialmente no caso do clube da Luz.

Na última semana, aquando da convocatória de Fernando Santos para a jornada dupla de apuramento para o Mundial 2018, muitos jornais destacaram a ausência de jogadores do Benfica na escolha do engenheiro. Algo que acabou por ser alterado face à lesão de Cedric e consequente substituição por Nélson Semedo. Contudo, há algo que merece atenção e que mostra a mudança de paradigma do futebol de formação em Portugal.

Se olharmos para os jogadores na convocatória com menos de 23 anos (esta idade é escolhida por ser o último limite de idade que existe no futebol de competição, pois é nos Jogos Olímpicos a idade limite. Apesar de serem já seniores há vários anos, a passagem dos 23 anos acaba por marcar o transpor o último escalão que existe), há uma clara predominância de jogadores formados no Caixa Futebol Campus.

Depois de anos e anos com Alcochete como referência, de onde saíram, entre outros, Ronaldo, Nani, Quaresma, Moutinho, Adrien, William, etc., o maior viveiro do futebol português parece agora continuar na margem sul do Tejo, mas mais próximo da ponte 25 de Abril que da ponte Vasco da Gama.

Para os jogos com Andorra e Ilhas Feroé constam 10 jogadores com menos de 23 anos. Metade dos quais formados no Seixal: João Cancelo, Nelson Semedo, Bernardo Silva, Renato Sanches e André Gomes. Contra apenas João Mário e Gelson Martins do Sporting e André Silva do FC Porto. Há ainda Raphael Guerreiro e Rafa que não foram formados em nenhum dos três grandes.

Se esta convocatória parece indicar a mudança de paradigma que ainda há um ano foi confirmada pelo prémio de melhor academia de formação do mundo ao SL Benfica, se olharmos para os escalões mais jovens das seleções nacionais, esta realidade é ainda mais clara:

- Sub-21 (apuramento para o Europeu): SLB (8 jogadores formados na Luz habitualmente utilizados), SCP (4), FCP (7)
- Sub-20 (última convocatória): SLB (8), FCP (3) e SCP (5)
- Sub 19 (última convocatória): SLB (5), FCP (8) e SCP (4)
- Sub 17 (última convocatória): SLB (6), FCP (4) e SCP (6)

Há poucas semanas Luís Filipe Vieira afirmava que daqui para a frente as idas ao mercado seriam pontuais pois o Seixal seria a fonte preferencial de talentos para a equipa principal. Ainda que tal afirmação pareça algo utópica, pois ao talento jovem é fundamental juntar experiência para uma receita de sucesso, é certo que há muitos jogadores com qualidade acima da média no Caixa Futebol Campus e no espaço de 2 ou 3 anos é de crer que os atuais seis jogadores do plantel principal que passaram pela academia dos encarnados possam ser o dobro ou mais. Muita atenção a Pedro Rodrigues, João Carvalho, Diogo Gonçalves, Yuri Ribeiro, Ruben Dias, Gonçalo Rodrigues, Aurelio Buta, José Gomes, Gedson Fernandes, Florentino Luís, João Filipe, João Felix e Umaro Embalo. Dificilmente 90% deles não serão as estrelas do futebol português na próxima década.

E a Seleção Nacional poderá também ser o espelho dessa realidade com uma maioria de jogadores provenientes do Seixal depois de décadas de predominância do rival de Alvalade, que atualmente parece estar na cauda do pelotão entre os três grandes do futebol português, com o Porto também a ultrapassar os leões em jogadores cedidos às seleções jovens, como se pode ver, por exemplo, pela seleção campeã da europa sub-17, que tinha seis jogadores formados no Seixal no onze titular, quatro no FC Porto e apenas um em Alvalade, que já nem sequer pertencia aos quadros dos leões aquando do título europeu.

Num período cada vez mais difícil em termos financeiros para os clubes nacionais, esta poderá ser, sem dúvida, a chave para o sucesso no futebol português.

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