segunda-feira, julho 11, 2016

O Herói Inesperado


Se alguém dissesse há um mês atrás que Portugal ia ser campeão europeu com um golo de Éder, 99% iria achar que era uma piada. Eu incluído. Mas o patinho feio da seleção nacional virou o herói de milhões de portugueses espalhados pelo mundo, no dia mais glorioso da história do futebol português.

Agora vale zero comentar se somos justos campeões. Dizer que empatamos 6 dos 7 jogos do Euro 2016. Que o futebol apresentado foi pobre a nível exibicional. O que conta são os títulos e este é de PORTUGAL!!!!

O jogo não foi diferente de todos os outros que Portugal disputou após a fase de grupos. O onze foi o mesmo, o sistema tático idem, a estratégia de jogo também. Mas um revés inesperado pôs um país em sobressalto. Cristiano Ronaldo, capitão da seleção e o seu grande ícone caiu no relvado do Stade de France pouco passava dos 10 minutos. Tentou continuar em campo de todas as maneiras. Saiu em lágrimas e voltou com o joelho ligado, mas pouco depois sairia mesmo. Novamente em lágrimas. Chorava o melhor do mundo e choravam milhões por esse mundo fora emocionados com momento tão amargo de CR7 que parecia colocar ainda mais em causa as aspirações lusas, que entrou no jogo com menor favoritismo.

Talvez este tenha sido o toca a reunir da equipa. Fernando Santos optou por fazer entrar Quaresma e mudou o sistema de jogo. Renato Sanches juntou-se a Adrien à frente de William Carvalho e Quaresma e João Mário ficaram nas alas com Nani na frente.

A verdade é que a França dominou boa parte da partida, dispôs de várias ocasiões para marcar, mas Rui Patrício foi simplesmente um gigante. Uma verdadeira parede. O guardião das chaves do templo, naquela que foi, sem dúvida, a mais fantástica exibição da sua carreira.

Portugal não teve muitas ocasiões na primeira metade, mas no segundo tempo conseguiu dividir bem melhor a partida. Foi também perigoso nalgumas ocasiões e cresceu muito com a entrada de Éder. O patinho feio da equipa foi fundamental para a mudança do estilo de jogo, funcionando na perfeição como target player, recebendo as bolas longas, prendendo os centrais e obrigando-os a recorrer a faltas para o parar.

João Mário foi muito importante também nesta segunda metade, com um jogo em crescendo, bem mais próximo do seu real valor que teimou em não demonstrar ao longo do torneio.

Do lado francês, com a mudança tática após a lesão de Ronaldo, perdeu-se a sensação de domínio físico da partida. Naqueles primeiros minutos, o meio-campo luso parecia dominado e sem força para travar Matuidi, Pogba e em especial Sissoko, o médio do Newcastle, que encheu o campo. Correu de forma imparável até bem dentro do prolongamento. Força, capacidade técnica e velocidade. Um trio de qualidades que foram o principal quebra-cabeças da bem organizada equipa portuguesa.

Griezmann esteve em bom plano também, sempre oportuno e a obrigar Patrício a um punhado de grandes intervenções.

E quando o prolongamento parecia certo, veio a grande oportunidade do jogo, Gignac, o avançado francês que optou há pouco mais de um ano pelo exótico campeonato mexicano, que havia substituído Giroud, conseguiu trabalhar muito bem na área, deixar Pepe (hoje homem do jogo, quando não o foi, mas sim Patrício, mas que já merecia essa distinção em duas partidas) no relvado e atirar de pé direito, enrolado, um remate que terminou no poste da baliza lusa.

Os deuses estavam do lado luso, claramente, para nossa alegria. Aquele lance teria morto a partida pois não havia tempo de reação. Felizmente o poste não o permitiu e milhões de portugueses respiraram fundo de alívio.

Empate, mais um para Portugal no final dos 90 minutos, um resultado que se aceitava, apesar de a França ter feito mais até ali para merecer o título.

Porém, isso mudou no prolongamento. Aí sim Portugal foi melhor, a entrada de Éder que tinha dado uma boa ponta final a Portugal no tempo regulamentar, manteve-se como o factor de mudança do rumo do jogo. E seria já no segundo tempo do prolongamento que Portugal teria a sua grande oportunidade, num livre de Raphael Guerreiro (porquê um Euro inteiro a ver Ronaldo marcar todos os livres sem qualquer eficácia quando temos exímio marcador no lateral esquerdo) que beijou a barra de Lloris que bem se esticou para evitar o golo luso. É certo que o lance é originário numa mão de Éder que o árbitro inglês Clatenburg (fantástica arbitragem à exceção deste lance) achou ser de um defesa gaulês.

Não entrou ali, entrou pouco depois, num remate forte e rasteiro do meio da rua de Éder, depois de deixar Koscielny no relvado graças ao seu maior poderia físico. O conto de fadas tornava-se realidade. Num ano onde o Leicester foi o maior conto de fadas das últimas décadas do futebol moderno, Éder juntou-se a esse mesmo conto. Criticado pela maioria (eu incluo-me no lote), o avançado que joga precisamente em França, no Lille, foi o verdadeiro herói desta história.

Não só mudou o jogo e foi decisivo para que Portugal conseguisse finalmente jogar mais próximo da baliza de Lloris, como marcou ainda o golo que deu o primeiro título da história ao futebol português numa grande competição de seniores.

A França já não conseguiu reagir senão com o coração e a entrada de Martial nada alterou num jogo onde Portugal já dominava e era mais perigoso.

12 anos depois Portugal põe fim a uma amargura que perdurou desde o Euro-2004. Não ganhamos a jogar igual à Grécia, mas também não ficamos longe disso. O mérito deve ser todo de uma só pessoa: FERNANDO SANTOS.

O técnico português é o grande obreiro desta vitória histórica. Não concordo com a maioria das suas opções, nem com o estilo monótono de jogo, mas montou uma equipa com uma alma e coesão fantásticas. E assim se ganham grandes competições. Não foi possível fazê-lo a jogar bonito, mas isso pouco importa. Soube criar uma equipa que não perde (assim é desde que está à frente dos destinos da Seleção em jogos oficiais há já dois anos) e isso é meio caminho andado para se ganhar.

Ganhamos um jogo no tempo regulamentar em todo o Euro 2016. Mas em compensação não perdemos nenhum. Agora é valorizar o que se quer. Para a história fica a Taça e o título de Campeões da Europa. Daqui a 10, 20 ou 30 anos ninguém se vai lembrar se a equipa apresentava um futebol chato e monocórdico, vamos é lembrar que Portugal foi campeão europeu no dia 10 de julho de 2016 pela primeira vez na sua história.

Com as gerações que estão na calha, acho que Portugal pode voltar a sonhar com momentos como este. Pessoalmente, espero que se repitam várias vezes, mas se possível não só ganhando como maravilhando o mundo. Terá ainda mais sabor!

Nenhum comentário: