terça-feira, junho 14, 2016

Engolidos pelo vulcão islandês


Nem Portugal me parece o candidato que muitos parecem querer fazer crer, mais por estratégia de marketing que por valor desportivo, e muito menos a Islândia é um conjunto de turistas que foi ao Euro 2016 por acaso do destino.

Feita a introdução, e apesar do empate na estreia, também não considero que o resultado seja motivo para o habitual fado português. A equipa não jogou tão mal como isso e agora é uma questão de querermos ver o copo meio cheio ou meio vazio. Acho que o devemos ver meio cheio porque a equipa pode conseguir uma boa prestação e a estreia, já se sabe, nem sempre consegue pôr de lado os nervos e tensões. Veja-se muitas das exibições de teóricos favoritos. É verdade que vários ganharam, apesar de jogos menos conseguidos, como foram os casos da Espanha ou da Alemanha. Mas outros houve que não tiveram a mesma sorte, à imagem de Portugal, como foram os casos da Bélgica ou da Inglaterra.

A seleção lusa não entrou bem nos primeiros minutos e até poderia estar a perder antes do minuto 5, mas a partir do primeiro terço da etapa inaugural, Portugal encontrou a fórmula para ser feliz. O tão falado 4-4-2, com Nani e CR7 por dentro e dois médios normalmente mais interiores a jogar por fora, João Mário e André Gomes, deu lugar a um sistema híbrido que por vezes era mais um 4-3-3, graças ao posicionamento como terceiro médio no centro de André Gomes, uma espécie de camaleão desta equipa que foi a chave para desequilibrar a partida.

Com esta alteração Portugal começou a criar grande caudal ofensivo, curiosamente através de lances de finalização aérea, quer por Nani quer por Ronaldo, algo que poderia parecer impensável dada a maior estatura dos islandeses. Mas se a bola acabou por não entrar pelo ar, seria mesmo pelo chão que o golo surgiria. E claro, graças a um movimento de desequilíbrio do melhor jogador em campo da formação das quinas, André Gomes, que com um cento rasteiro da direita permitiu que Nani só tivesse de encostar.

O mais difícil parecia feito, mas como quem não mata morre, acabou por ser o vulcão islandês quem entrou em erupção. Bjarnason foi o responsável ao assinar o tento do empate ainda no início do segundo tempo. Uma descoordenação entre Pepe e Vieirinha, que deixaram o médio islandês na cara de Rui Patrício, sem qualquer hipótese de evitar o golo contrário.

Verdade seja dita, os islandeses pouco caudal ofensivo tiveram, mas sempre que chegaram à área portuguesa, fizeram-no com qualidade e perigo, podendo até chegar à vitória perto do fim, mas Patrício acabou por conseguir evitar.

É certo que Portugal teve sempre maior posse e volume ofensivo, mas a segunda parte foi bem mais fraca que a primeira. A equipa lusa pareceu acusar o golo e nunca se voltou a reencontrar. Porém, é preciso dar mérito aos islandeses, que apesar de muitas limitações técnicas, demonstraram princípios de organização e voluntarismo que foram fundamentais. A equipa nórdica é muito física, por vezes dura, mas o seu coração bate muito forte. E só poderia pois o vulcão que foram os seus adeptos em Saint-Éttiene contrariou a maioria de portugueses nas bancadas. Quem assistiu ao jogo na TV, como eu, dificilmente acreditaria que Portugal estaria em vantagem no estádio. E isso talvez tenha sido fundamental para o resultado que surpreende muitos.

O resultado acaba por aceitar-se, mas a haver um vencedor seria naturalmente Portugal, e Ronaldo teve na cabeça essa possibilidade, bem perto do fim, tal como Nani já o tinha tido antes. Mas o guardião islandês e alguma infelicidade na finalização não o permitiram.

A nível individual, destaque claro para André Gomes, o melhor da equipa portuguesa, mas também para Ricardo Carvalho, irrepreensível a todos e níveis, e para Nani, que apesar de apagado em muitos momentos, conseguiu não só o golo como aparecer sempre oportuno em várias oportunidades no último terço. A desilusão foi claramente João Mário, o pior da equipa, somou passes falhados e foi uma sombra do jogador que deslumbrou ao longo da época na Liga Portuguesa. Também João Moutinho parece muitos furos abaixo do que lhe conhecemos, algo que não surpreende dada a época marcada por lesões do médio do Mónaco. Vieirinha não convenceu igualmente e Ronaldo, apesar de não ter estado mal, não foi o homem decisivo que Portugal precisa. E quando assim é o sucesso da equipa das Quinas ficam sempre mais longe. A dependência do melhor do mundo é evidente!

Adivinham-se mudanças para o próximo jogo, onde Quaresma poderá entrar na equipa uma vez recuperado, mas onde Renato Sanches parece também à beira da titularidade depois de ter sido a primeira opção esta noite, dando uma resposta bastante mais positiva que Moutinho com as suas acelerações nas transições, que poderão dar outra alma à equipa.

A procissão ainda vai no adro e sinceramente não me parece que esta empate seja motivo para alarmismos, mas obviamente a margem de erro diminuiu consideravelmente, mas acredito que a equipa vai estar à altura e assegurar a vitória no Grupo F. O pior é depois, onde poderá vir ao de cima as limitações da equipa lusa, que me fazem considerar exagerada toda a expectativa que foi criada à sua volta nas últimas semanas. Tudo é possível, mas uma final parece-me um cenário distante do real valor desta equipa. Importante é vencer o grupo e depois pensar jogo a jogo, uma meta tão ambiciosa como a final não deveria ter sido traçada antes da partida do Euro...

2 comentários:

Anônimo disse...

O João mário foi o único jogador até agora a acabar a primeira parte com 100% de passes acertados e dizem que falhou muitos passes? deixem-se de drogas...

Futebol à Lupa disse...

Teria todo o gosto em ver essa estatística, mesmo que seja do filme da Alice no País das Maravilhas... Como foi unanimemente considerado pelo crítica, foi uma sombra do jogador que é, ao ponto de ter saído da equipa no segundo jogo.