sexta-feira, julho 01, 2016

A culpa é das estrelas


Só pode estar escrito nas estrelas que Portugal vai chegar à final deste Europeu. Só falta ser contra a Islândia para que o título deste texto faça perfeito sentido. Pergunta o leitor, mas o que tem isto a ver com a crónica da vitória do País de Gales sobre a Bélgica? Tem muito! Porque daqui saiu o adversário de Portugal nas meias-finais do Euro, E ao sexto jogo em França, Portugal volta a não ter um único adversário de top mundial! Se isto não é um desejo dos deuses, é uma coincidência de que não há memória.

Ontem escrevi depois do jogo que tinham acabado as facilidades para Portugal e que nas meias e, eventualmente, na final, já não haveria passadeiras vermelhas pela frente. Isto apesar de com equipas de nível médio-baixo, com exceção da Croácia, não vencemos um único jogo. Honestamente, nunca me passou pela cabeça que a Bélgica não estivesse nas meias-finais.

E agora sim chegamos ao jogo e talvez ao encontro que foi a maior surpresa do Euro até ao momento, mais ainda, na minha opinião, do que a vitória da Islândia sobre a Inglaterra, pois os britânicos não impressionam ninguém. E o mérito deste resultado deve ser tripartido. Primeiro, pelo País de Gales, e ao seu técnico Chris Coleman. Os galeses têm uma alma tremenda. Não desistem e não se abatem pelas contrariedades. E Coleman é um excelente técnico, com bastante experiência da Premier League e que soube contrariar a Bélgica, uma das melhores seleções do mundo da atualidade, pela terceira vez em dois anos! Em segundo lugar, o mérito é também do árbitro da partida, o eslovénio Damir Skomina, que conseguiu nos últimos 10 minutos fazer vista grossa a uma falta claríssima à entrada da área galesa, que daria expulsão a Ben Davies por segundo amarelo. Na jogada seguinte, penalty sobre Nainggolan que Skomina mandou seguir novamente...

Por fim, o maior mérito, ou neste caso demérito, para o resultado final é de Marc Wilmots. Não percebo como é possível que os responsáveis federativos dos belgas mantenham Wilmots como técnico, já depois da campanha miserável no Brasil 2014. Não sei quem foi o visionário que achou que um técnico que tem no currículo uma passagem de oito jogos no Schalke 04 com uma vitória e depois no colosso St.Truiden, com 22 jogos e 2 vitórias, era o homem ideal para conduzir a melhor geração da história do futebol belga.

O técnico dos Diabos Vermelhos fez três substituições que aniquilaram a equipa que até tinha entrado fortíssima na partida, marcando num grande golo de Naingollan de fora da área, depois de outras oportunidades desperdiçadas. O golo foi o pior que podia acontecer, pois a equipa recuou (não sei se por indicações do seu técnico) e ficou a ver a raça galesa tomar conta do encontro até ao golo do capitão Ashley Williams, na sequência de canto.

Não satisfeito, Wilmots faz a substituição que decide o jogo ao intervalo. Tira Ferreira Carrasco para colocar Fellaini, a tentativa de contrariar o domínio central de Gales na zona nevrálgica do terreno, que resultou, isso sim, na perda de velocidade e profundidade dos belgas. E depois, já a perder depois do excelente golo de Robson-Kanu, num lance que deixou os adeptos da Bélgica a chorar por Vermaelen (castigo) e Vertonghen (lesionado), colocou Mertens e tirou Jordan Lukaku.

Até poderia resultar, mas colocou Mertens a jogar à esquerda com Hazard e na direita estava... o relvado! Porque De Bruyne andou sempre mais no meio, e ninguém abria na ala direita a dar apoio a Meunier, o lateral que ainda tentava sozinho desequilibrar nesse flanco. Um tremendo equívoca tático que matou em definitivo os diabos vermelhos, para além dos erros já mencionados de Skomina.

E no momento do assalto final, troca de pontas-de-lança, colocando Batshuayi, um homem mais móvel, para o lugar de Lukaku, o carro de assalto que poderia com Fellaini, ganhar bolas na área.

São tantos erros num só jogo de um treinador que é impossível justificar tanta incompetência junta. Mas disso não teve culpa a seleção Galesa, e em cima dos 90, Vokes, num cabeceamento digna dos melhores goleadores, acabou com o jogo, em mais um lance onde a defesa belga, claramente o setor menos talentoso de uma equipa recheada de estrelas voltou a claudicar, mas agora de forma mais compreensível dado todo o desequilíbrio causado pelas substituições e pela postura desesperada de quem procura evitar a eliminação.

Com isto, está garantida a primeira grande seleção surpresa entre os quatro finalistas. Agora só falta a Islândia eliminar a França e o choque ser ainda maior. E de repente Portugal passa a ser o favorito a estar na final do Euro-2016. O que para uma equipa que não venceu um jogo ainda em todo o Europeu e tem um estilo de jogo absolutamente entediante é uma surpresa. Com a benesse de ver o segundo melhor jogador de Gales, Aaron Ramsey, falhar a partida decisiva por ter levado amarelo. Só falta mesmo Bale lesionar-se para a Culpa ser em definitivo das Estrelas.

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