terça-feira, março 21, 2017

A falta de memória (e de gratidão) no futebol






Ponto prévio: Não considero Augusto Inácio o melhor treinador do mundo e nunca consegui perder cinco minutos a ver um jogo de uma equipa liderada por Claudio Ranieri.

Posto isto, pergunto: que mundo é este onde a ingratidão e a falta de memória grassam de uma forma desmedida?

Augusto Inácio deu ao Sporting um título que não conseguia há 18 anos tendo Jardel na equipa adversária e pegando num conjunto de jogadores que, tirando Schmeichel e André Cruz, disputavam, ano após ano, campeonatos para passar o tempo. Mas fê-los acreditar e obteve um título nacional em que poucos acreditavam quando rendeu um italiano que nunca fez nada de assinalável na carreira. O que lhe valeu? Pouco ou nada.

O mesmo Augusto Inácio, 17 anos depois, vence, ao serviço do Moreirense, FC Porto, Benfica e Sporting de Braga e ainda ergue uma Taça da Liga impensável para um clube de uma vila com 5 mil habitantes. E ainda perde os dois melhores jogadores. Mesmo assim, apesar de somar jogos atrás de jogos sem vencer enquanto tenta habituar a equipa à perda dos seus melhores elementos, mantém o Moreirense fora da zona de despromoção. Resultado: é despedido.

Claudio Ranieri foi campeão inglês no Leicester, que não é bem a mesma coisa que ser num Chelsea, United, City ou mesmo Tottenham. Falam do demérito dos outros, sim, é verdade, mas ele deve ter tido algum mérito. Não gostei do futebol do Leicester, eu que sou um apaixonado pela posse de bola na mesma medida em que sei apreciar uma equipa que saiba fazer boas transições como o Mónaco de Jardim. O Leicester de Ranieri não era nem uma coisa nem outra, mas ganhou. E está provado que os maus resultados desta temporada não são um exclusivo do trabalho do italiano. Ranieri assinou a rescisão e mal pousou a caneta o Leicester desatou a ganhar. Estamos a falar da mesma equipa, formada pelos mesmos jogadores, que continuam a treinar nos mesmos campos e a jogar no mesmo estádio.

Não, não são os melhores do mundo, Ranieri então não é mesmo, mas temos que ter memória. E, afinal, Inglaterra não fica assim tão longe de Portugal

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