quarta-feira, julho 01, 2015

Que não haja mais Bernardos Silvas!


Primeiro foram os Sub-20 a encantar na Nova Zelândia, caindo apenas na lotaria das grandes penalidades, nos quartos-de-final, frente ao Brasil, de forma super injusta. Agora os Sub-21, na final do Europeu, de novo na lotaria, de novo contra uma equipa vestida de amarelo...

Mas o denominador comum destas duas equipas não é apenas a fatalidade dos penalties. É, acima de tudo, a qualidade de ambas as equipas. A qualidade desta geração de futebolistas. Há muito talento. Para dar e vender. E há muito mérito das equipas técnicas, que colocam este excesso de talento e constroem coletivos muito fortes. Equipas que funcionam como um todo, que defendem de forma excelsa. Poucos ou nenhuns golos sofrem. Poucas oportunidades permitem sequer aos adversários.

Seria repetitivo elogiar Bernardo Silva, William Carvalho ou José Sá. Seria até injusto individualizar quando tantos são talentosos. Ficou uma enorme frustração. O título tão desejado não chegou mais uma vez. Mas isso, quanto a mim, está muito longe de ser o mais importante. Formar a ganhar é bom. Mas o que interessa é formar. Para ganhar quando é hora disso mesmo. Tivemos uma geração de ouro, talvez a melhor de sempre (seguramente a melhor dos meus 35 anos de vida, a anos luz de qualquer outra), mas que tirando vitórias na formação, nada ganhou. Esteve muito perto disso. Foi fantástica. Deu alegria e fundadas esperanças de conquistar a Europa e quiçá o Mundo. Mas só ficou lá perto...

Por isso, mais importante que ganhar nas camadas jovens, seria finalmente ganhar nos seniores. E esta geração (Sub-21 e Sub-20) e as que se seguem (Sub-19 e especialmente Sub-18) poderão finalmente consegui-lo. Poderão superar a dita geração de ouro. Porque estão repletas de talento. A rodos. Aos molhos. Mas o talento só será talento se começarem a jogar nos grandes portugueses. Se forem aposta. Ao invés de investimentos em jogadores estrangeiros. Se não se olhar duas vezes na hora de os mandar para dentro de campo, enquanto um qualquer brasileiro, argentino ou sérvio não merece qualquer desconfiança nesse momento.

Todos bateram palmas. Todos dizem que estão aqui estrelas. Mas na hora de voltarem a apoiar os seus clubes, ninguém se lembra disso, e se um qualquer Chiquinho chegar envolto num manto de promessas, o êxtase está instalado. Espero contudo que a realidade financeira do país e do futebol dite finalmente algum bom senso (com contratações de 25 milhões infelizmente isso não parece que vá acontecer) e aposta no que se forma.

É hora de José Sá não estar relegado numa equipa B do Marítimo. Será que é inferior ao Ederson que vai ser suplente na Luz? Tozé ou Sérgio Oliveira devem alguma coisa a Evandro, a Carlos Eduardo ou Quintero? Gonçalo Paciência não reúne todas as competências para poder ser um caso sério como ponta-de-lança? Ivan Cavaleiro é inferior a Ola John ou Suleijmani? Bernardo Silva perde para Talisca em quê para além da altura? (neste caso o Talisca é que terá que nascer 10 vezes para jogar um terço do que o pequeno talentoso médio português)

Os chamados grandes têm de perder a mania que é preciso ganhar a qualquer custo. Alguém tenha a coragem de dar palco a estes jovens. Se não o fizerem, há quem pelos vistos não tenha esse receio lá fora e permita que eles rebentem noutros locais. Perde o futebol português. Perdem os seus adeptos. Perdem os seus clubes. Que não haja mais Bernardos Silvas, que poderá ser um jogador de top mundial e poderá nunca jogar na Liga Portuguesa em toda a sua carreira!

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