sexta-feira, outubro 20, 2017

O leão que perdeu o apetite


Ao longo das últimas semanas, a crise, ou fase menos boa como lhe chama Rui Vitória, do Benfica tem enchido títulos e manchetes de jornais, ocupado horas nas TV's e rádios e tem sido um fantástico escape para a menor atenção que é dada ao rival da Segunda Circular.

Mas a verdade é que os leões parecem mergulhados numa crise de apetite de golos ao longo do último mês. Em cinco dos últimos cinco jogos, ficaram em branco em três (Marítimo para a Taça CTT, Barcelona na Champions e Porto na Liga NOS) e noutras duas ocasiões apenas chegaram ao golo graças a autogolos (Moreirense na Liga NOS e Juventus na Champions). O outro jogo foi com o Oleiros para a Taça de Portugal, que obviamente não deve ser levado em linha de conta dada a fragilidade competitiva do rival e pelo facto do Sporting nem ter apresentado o seu onze base.

O motivo mais claro para perceber esta falta de produção ofensiva dos de Alvalade prende-se com a pouca capacidade goleadora de Bas Dost face ao que apresentou na temporada anterior. O avançado holandês tem quatro golos na Liga NOS, mas dois são de penalty. Apenas em Guimarães bisou sem nenhum dos golos a surgir da transformação de uma grande penalidade. E a estes golos soma apenas mais um em Bucaresta no playoff da Champions. Muito pouco para quem lutou pela Bota de Ouro até ao último segundo com Messi em 2016/017.

A questão que fica é se se trata de um período de menor fulgor do avançado holandês ou se o jogador está a ser vítima do novo sistema. Aposta mais na segunda. Várias vezes aqui escrevi que a saída de João Mário desequilibrou a equipa gravemente no ano passado. Gelson Martins substituiu o médio do Inter dando outro rasgo ofensivo e capacidade de desequilibrar na frente, através da técnica e da velocidade, mas deixou os leões desequilibrados defensivamente, deixando de ter um terceiro médio a fazer movimento interiores, o que condenou Bryan Ruiz ao desterro a que se encontra envolvido atualmente.

Por isso, Jesus teve como principal preocupação este ano recuperar a eficácia defensiva que lhe custou a ambição de lutar por mais há um ano. Mas essa eficácia não só está consolidada, como se pode ver pelos golos que sofreu de rajada em alguns jogos, como em Santa Maria da Feira ou em Atenas, como surge não só à custa da introdução de novos elementos no quarteto defensivo, mas também à alteração do meio-campo.

Acuña veio fazer o que João Mário fazia em termos de equilíbrios, no flanco contrário, mas a saída de Adrien encurtou a equipa no corredor central. Mais ainda quando o treinador dos verde-brancos começou a apostar em William para 8 e Battaglia para 6. Ambos são muito curtos em termos de condução e transporte, assim como na capacidade de passe. A isto junta-se Bruno Fernandes, um jogador muito distinto de Teo Gutierrez, Bryan Ruiz ou Alan Ruiz. O médio português é mais um 10 que um 9,5 como Jesus gosta de chamar a quem joga junto do seu ponta-de-lança. Esse facto entrega também mais à marcação Bas Dost, com menos jogadores a surgirem na área para abrir espaços para o gigante do país das túlipas.

Ora a menor eficácia dos leões coincide também com o desaparecimento da lista de marcadores de Bruno Fernandes. O jogador que chegou de Itália foi um verdadeiro bombardeiro ao longo de várias jornadas, inscrevendo quase sempre o seu nome na lista de marcadores de cada partida. Algumas delas que até abriram com um golo seu para tornar jogos teoricamente difíceis em menos complicados, como a deslocação à Cidade-Berço.

O Sporting revela muitas dificuldades no jogo interior no último terço e obviamente que nem sempre iria surgir a bomba de Bruno Fernandes para resolver. Os jogos em casa dos leões para a Liga NOS e mesmo no Playoff da Champions são o melhor exemplo dessas dificuldades. Jogos com poucos golos, onde o Sporting foi incapaz até à data de marcar mais do que dois golos num jogo no Estádio José de Alvalade. Em sete partidas no covil do leão para as várias competições, o pecúlio é confrangedor. Apenas cinco golos marcados e esta soma refere-se apenas a três jogos (1 golo ao Setúbal, 2 ao Estoril e 2 ao Tondela) com quatro jogos em branco (Steaua, Marítimo, Barcelona e Porto)! É certo que os jogos com os catalães e os dragões são de elevadíssimo grau de dificuldade, mas são nulos ofensivos a mais para uma equipa com as ambições do Sporting.

Na minha opinião, para mudar esta fase menos concretizadora, a única hipótese será recuar Bruno Fernandes para 8, tirar Battaglia, e colocar alguém mais próxima de Bas Dost, seja Podence, Gelson Dala ou Iuri Medeiros. Curiosamente, a melhor opção até parece ser Bryan Ruiz, mas o costa-riquenho não parece ter hipótese de deixar o ostracismo a que foi vetado.

Os números não mentem, e não fossem dois penalties (bem assinalados diga-se) salvadores nos descontos com Setúbal e Feirense, e apesar da enorme crise exibicional que o tetracampeão tem vindo a apresentar, o rival da 2ª Circular poderia estar atrás dos encarnados, sem que se leia uma linha de qualquer especialista sobre esta outra crise de um grande de Lisboa... Seguem-se quatro jogos de enorme grau de exigência (Chaves, Juventus e Braga em Alvalade e Rio Ave fora, entre Chaves e Juventus), onde os leões terão de dar uma resposta cabal a este momento pouco convicente, sob pena de hipotecarem uma temporada onde, mais do que ninguém têm obrigação de ser campeões dado o elevadíssimo investimento em contratações e salarial, muito superior aos dos rivais que lutam pelo título.

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