segunda-feira, novembro 03, 2014

A Vitória de fazer Omoletes sem Ovos


Começam a faltar adjetivos para classificar este início de época do Vitória de Guimarães. Mas mais do que elogiar este arranque demolidor, que ainda este sábado atropelou sem apelo nem agravo o Sporting, é preciso destacar o trabalho de Rui Vitória. O técnico dos vimaranenses é um autêntico milagreiro. O prestigiado diário desportivo italiano, Gazzetta dello Sport, apelidava-o de mágico há umas semanas atrás, pelo trabalho que tem desenvolvido na cidade-berço.

Mágico ou milagreiro, certo é que há mais de dois anos que venho comentando com amigos que qualquer treinador dos mais prestigiados (um Mourinho, um Jesus ou qualquer outro) do mundo dificilmente conseguiria fazer melhor do que descer ou ficar próximo disso se estivessem à frente dos destinos da formação minhota. A passar uma grave crise financeira há alguns anos, o Vitória viu-se obrigado a apostar nas suas camadas jovens ou em jogadores provenientes de escalões inferiores, sem qualquer experiência de primeira divisão. Como acontece com outros primodivisionários, mas com a diferença que esses, regra geral, terminam nos lugares de despromoção.

Pelo contrário, Rui Vitória conseguiu conduzir este Vitória a épocas tranquilas e até de glória, como há dois anos, onde deu a estocada final num Benfica que viu o sonho tornar-se num dos maiores pesadelos da sua história, ao perder no Jamor a final da Taça de Portugal para os vitorianos, depois de já ter falhado o campeonato e a Liga Europa. Rui Vitória conquistava a primeira Taça de Portugal do clube com uma equipa de tostões.

Dois anos volvidos, está no terceiro lugar da Liga, decorrido o primeiro quarto da prova, a apenas dois pontos da liderança e a um do FC Porto. Olhando para o onze apresentado no último sábado, na quase goleada perante os leões, vemos sete jogadores portugueses, uma média de idades de 23 anos, mas uma identidade, um garra e uma qualidade únicos. Rui Vitória não olha a idades, nem a proveniências.

Está a tornar um jovem oriundo do Benfica de Castelo Branco, do Campeonato Nacional de Seniores, no novo Paulo Oliveira (João Afonso), fez de um quase desconhecido Bruno Gaspar o titular indiscutível no lado direito da defesa, depois de alguns anos perdido no Benfica B sem qualquer oportunidade na equipa principal, lançou um jovem de 19 anos, o ganês Bernard, formado no Vitória, que é hoje a segunda grande referência da equipa, atrás do capitão André André, e melhor marcador da equipa com quatro golos.

Quanto a André André, o médio formado no Varzim, filho da ex-glória do FC Porto com o mesmo nome, merece já uma chamada à seleção e a oportunidade num grande. É um trabalhador nato, mas que alia a sua capacidade guerreira a uma excelente capacidade técnica, visão de jogo e poder de fogo. E na frente, três jogadores provenientes da equipa B, com destaque para o ala direito Hernâni, um fantasista, com um pé esquerdo extraordinário e uma velocidade de ponta que deixa os adversários pregados ao relvado.

Do onze dos vitorianos, apenas João Afonso, Traoré e Bakari Sané não têm um único minuto na equipa B. Os restantes, sem exceção, passaram pela segunda equipa dos vimaranenses antes de se afirmarem na principal. Um exemplo para a maioria dos clubes portugueses que optam por mandar vir contentores de sul-americanos sem qualidade, ao invés de apostarem na excelente formação que existe no nosso país.

Na estreia em Guimarães, Rui Vitória foi 6º (pegou na equipa já com a Liga a decorrer deixando o Paços de Ferreira que treinava há duas épocas), na época seguinte venceu a Taça de Portugal e foi 9º, a poucos pontos do top-5, tendo o ano passado ficado num tranquilo 10º lugar. Está sem dúvida talhado para outros voos, resta saber quando chegará a oportunidade. Em teoria, e até pegando na realidade atual dos três grandes, o Benfica é destino mais provável. Primeiro pelas relações próximas com Luís Filipe Vieira, que nele apostou para os juniores do Benfica após uma primeira experiência no Vilafranquense, depois por ser um formador e um técnico que com poucos recursos consegue fazer muito, o ideal para uma nova fase que se prevê na Luz, onde Vieira quer apostar fortemente na prata da casa, fruto do excelente trabalho desenvolvido no Seixal que precisa de ver a luz do dia a nível sénior. E por fim, porque Jorge Jesus poderá estar a cumprir a última temporada de águia ao peito, deixando aberto o caminho para o homem que lhe adiou um dos maiores sonhos de JJ, a vitória no Jamor, que viria a conquistar um ano depois. Será esse o percurso que lhe está destinado? Nos próximos meses saberemos mas o sucesso que tem atingido faz prever uma nova aventura profissional na próxima temporada.

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