quinta-feira, junho 14, 2018

MUNDIAL À LUPA: As obras primas de Cheryshev no recital de Golovin em exibição no Bolshoi de Moscovo


Quem diria que o jogo entre as duas piores equipas no Ranking da FIFA de entre as presentes neste Mundial proporcionaria um arranque com cinco golos? É certo que foram todos para o mesmo lado, mas nem isso deve minimizar o mérito dos russos que foram de enorme eficácia e com elevada nota artística na finalização.

Não se enganem contudo aqueles que só viram o resultado final. Esta seleção da casa não é nenhum bicho papão e o seu apuramento no Grupo A continua a ser uma incógnita pois claramente os sauditas são uma equipa que não pertence a este filme.

O jogo não foi brilhante, como o ranking FIFA o fazia prever, mas ao menos teve momentos de arte genuína. Cheguei a pensar que estava no Bolshoi a ver o melhor ballet do mundo, com Golovin em pontas a projetar no ar para várias piruetas o seu colega Cheryshev.

O médio do CSKA mostrou porque meia Europa o deseja e certamente que depois de hoje mais tubarões se juntarão ao leque de interessados por Golovin. Cada vez que toca na bola o jogo transfigura-se para melhor, dando sempre a quem vê a expectativa de que algo de bom está para acontecer. Já Cheryshev, que passou sem relevo no Real Madrid, foi o homem dos grandes golos, assinou dois, qual deles o melhor.

O Filme do Jogo
A surpresa começou com a alteração tática do seleccionador russo, Stanislav Cherchesov, que abdicou do habitual esquema de três centrais que a equipa da casa costuma usar, assim como as principais equipas da Liga russa, optando por um 4-2-3-1 em que Aleksandr Golovin foi, como se previa, o grande dinamizador ofensivo.

O jogo até começou com superioridade dos sauditas em termos de posse de bola (que se manteve até final), mas rapidamente se percebeu que a sua ingenuidade e falta de combatividade dificilmente resultaria em sucesso. Com as linhas muito afastadas e com a equipa subida, criaram-se verdadeiras avenidas para Golovin, Samedov e Dzagoev partirem em venenosos contra-ataques, o estilo preferido dos russos. Até ao 1-0, os laterais apareceram sempre muito subidos, com Mário Fernandes na direita e Zhirkov na esquerda, a provocarem constantes desequilíbrios. Os próprios setores dos sauditas estavam sempre muito afastados, com os laterais, por exemplo, a defenderem muito por fora e a darem muito espaço na zona central da defesa.

Seria na sequência de uma jogada pelo flanco esquerdo que o primeiro golo surgiria, aos 12', com a bola a chegar a Golovin que fez um cruzamento perfeito para a finalização do médio do Krasnodar, Yuri Gazinskiy, que de cabeça abriu a contagem deste Mundial.

Dez minutos depois o médio criativo do CSKA, Alan Dzagoev saiu devido a lesão muscular, dando lugar à entrada do extremo esquerdo do Villareal Denis Cheryshev. Golovin passou para o meio, assumindo em definitivo a batuta dos homens do leste da Europa.

A toada manteve-se, com a Arábia Saudita a ter mais posse de bola, mas a Rússia, com o bloco a baixar todo para os últimos 30 metros, conseguia controlar perfeitamente as tentativas contrárias e continuava a beneficiar de muitos passes errados dos sauditas que o seu meio-campo maximizava em rápidos lançamentos ofensivos.

Sem surpresa, o segundo golo à beira do intervalo, em mais uma jogada iniciada por Golovin e que terminou com um pormenor técnico absolutamente delicioso de Cheryshev dentro da área, picando a bola sobre um saudita que de carrinha o tentou desarmar, fuzilando depois de forma inapelável o guardião saudita Almuaiouf.



Apesar de no início da segunda metade os sauditas terem estado por uma vez perto do golo, o jogo pouco se alterou. A Rússia continuou a dar a iniciativa ao adversário e a procurar surpreender no contra-ataque. Nos primeiros 20 minutos as oportunidades foram poucas, mas o bocejo terminou aos 71', com o longilíneo avançado do Zenit (este ano emprestado ao Arsenal Tula), do alto do seu 1,94m, a concluir de cabeça mais um cruzamento perfeito de Golovin, um minuto após ter entrado.



Pizzi, o técnico dos sauditas, já havia mexido na sua equipa e tentado de tudo para reentrar no jogo, mas o resultado foi que desequilibrou ainda mais a sua débil formação, dando assim oportunidade a que os russos tivessem uma estreia de sonho pois chegariam ainda ao golo por mais duas vezes nos descontos. Aos 91' de novo por Cheryshev, com mais uma verdadeira obra de arte num remate fantástico e indefensável, de pé esquerdo ao ângulo da baliza saudita, e depois num livre direto de Golovin, o homem do jogo na minha opinião, na marcação perfeita de um livre direto à entrada da área saudita.

Man of the Match: Aleksandr Golovin (para a FIFA foi Cheryshev)

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