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quinta-feira, julho 07, 2016
O fim da era Pep Guardiola
O caro leitor deve estar a pensar o que é que terei bebido ao jantar. Guardiola? Mas o treinador espanhol nunca foi seleccionador! O que tem ele a ver para esta história. Garanto que o jantar foi regado com água. E que não é um erro chamar o técnico espanhol para esta crónica ao jogo que colocou a França na final do Euro 2016.
Certamente não serei o único que fez a ligação que vou explicar a seguir, mas sinceramente nunca li nenhum texto ou ouvi nenhum comentador na rádio ou TV a constatar o que me parece quase óbvio. Desde que Pep Guardiola surgiu como técnico principal do Barcelona, que os países onde treina são campeões da Europa ou do Mundo. Em 2008 tomou conta do clube da Cidade Condal, ano em que a Espanha conquistou o Europeu de futebol. Aí não lhe pode ser atribuído mérito, mas daí para a frente...
Fez do Barça a melhor equipa do mundo e foram os culés a base de sucesso da Espanha que conquistou o Mundial 2010, pela primeira vez na sua história, e fez o bis no Europeu em 2012. Guardiola viajou então para a Alemanha, onde assumiu o Bayern de Munique. E com o seu estilo peculiar de montar equipas, recriou os bávaros, já numa senda imparável de vitórias. O tiki-taka fez escola na Alemanha, ainda que de forma adaptada face ao modelo original, e passou a ser a base da seleção alemã. E com ele veio o título mundial em 2014.
Agora sim chegou ao fim essa ligação íntima entre os campeões do mundo e europa e os países onde Guardiola está. E parece-me que dificilmente isso voltará a acontecer no futuro próximo, porque nem a Inglaterra parece ter qualidade para esses voos, nem o City será a base da seleção inglesa pois tem praticamente só estrangeiros no onze titular.
Depois desta longa introdução, o jogo que apurou o país organizador para a final. A França voltará a cruzar-se com Portugal, aquela que é a besta negra da nossa história. E no jogo jogado, o desfecho nem é especialmente justo. A Alemanha dominou o jogo de início ao fim, teve as melhores oportunidades, e foram uma mão cheia delas. Mas tenho a ideia que podiam ainda estar lá a esta hora que a bola não entrava.
Ora Lloris, com magníficas intervenções, ora o poste, ora a falta de pontaria germânica, é certo é que a bola nunca entrou. Deschamps montou uma equipa com um sistema mais atrevido do que seria suposto, abdicando do trinco Kanté, mas a opção revelou-se um erro. Porque a França jogou com as linhas super baixas, a defender nos últimos trinta metros e sem capacidade de pressionar a construção. Com Kanté, Pogba e/ou Matuidi estariam mais livres para sair ao portador da bola. Isso não aconteceu e foram várias as falhas defensivas gaulesas.
Com um futebol apoiado, de grande qualidade na construção, os campões do mundo conseguiam encontrar espaços entre linhas e iam desconstruindo a defesa contrária mas não conseguiam refletir no marcador essa supremacia.
E quando tudo parecia ir empatado para o intervalo, um erro de Schweinsteiger, ao atacar uma bola num canto de braço levantado, fez penalty que Antoine Griezmann não perdoou. Estava desfeito o nulo e logo pela equipa que menos tinha feito por isso. Porém é preciso ressalvar que apesar de ter feito muito menos para isso, a França não deixou de dispor de duas ou três oportunidades para marcar antes do penalty.
Na segunda parte o jogo mudou um pouco a sua cara. A Alemanha passou a ter ainda mais dificuldades para criar jogo ofensivo, porque as linhas francesas baixaram ainda mais. O espaço no último reduto alemão aumentou e a França passou a ser bem mais perigosa no contra-golpe. E quando a Alemanha tudo fazia para tentar a igualdade, a equipa da casa fez o segundo. Um erro duplo de Kimmich, o jovem jogador polivalente do Bayern, perdeu uma bola infantil na área ao querer sair a jogar e depois foi literalmente comido por Pogba por ter ido à queima à finta do médio francês. Pogba centrou depois para a área e Neuer juntou-se ao momento de asneira e não sacodiu a bola e deixou-a à mercê de Griezmann que não desperdiçou com um toque por baixo do gigante germânico.
Aquele que muito provavelmente será eleito o melhor jogador e marcador do Euro-2016, o irrequieto avançado do Atlético de Madrid, foi mais uma vez decisivo. O segundo golo matou praticamente as aspirações dos campeões do mundo, que tiveram ainda 20 minutos de grande pressão e onde conseguiram criar mais um grande número de ocasiões que nunca entraram nas redes do capitão francês.
A França é o segundo finalista do Euro 2016, mesmo tendo adulterado hoje a sua estratégia habitual. Uma abordagem inteligente? Penso que sim, não é erro nenhum reconhecer a superioridade adversária. A Alemanha é sem dúvida (ou era) a melhor equipa deste torneio e demonstrou-o em praticamente todos os jogos. A França tem estado praticamente irrepreensível, apesar de algum sofrimento nalgumas partidas. É das equipas com um futebol mais entusiasmante, tanto a nível coletivo como individual, mas hoje vestiu a pele de cordeiro, um pouco à imagem do que Portugal fez em todo o Euro 2016.
Adivinhar o que se vai passar no próximo Domingo é uma tarefa para o Bruxo de Fafe ou um qualquer Zandinga. Uma coisa é certa, Portugal não irá mudar o seu sistema pois foi completamente congruente em todos os jogos. Não será na final que isso será alterado. Já a França, irá voltar ao estilo mais dominador e ofensivo, ou numa final adotará o estilo desta noite, mais calculista e expectante? Para Portugal, apesar do histórico assustador contra os gauleses, a França parece mais acessível. A sua defesa não é um bloco de grande qualidade, em especial no centro, onde existe sempre alguma vulnerabilidade. Esperemos que Kanté volte a ficar no banco, porque aí Portugal poderá ter a mesma supremacia que teve hoje a Alemanha. Mas em termos físicos, aí sim aquele meio-campo de enorme dimensão dificilmente será parado. A supremacia numérica deverá ser o antídoto a Pogba, Sisshoko e Matuidi.
Ronaldo Vs Griezmann será o duelo da noite. Tal como o foi na última final da Liga dos Campeões há pouco mais de um mês. Ronaldo entra em campo a ganhar 1-0. Esperemos que aumente a vantagem no domingo, rumo a mais uma Bola de Ouro.
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