sábado, junho 18, 2016

O Fado Lusitano ou o Dilema chamado CR7


Definitivamente somos o país do fado. É a bola que vai ao lado. O remate que bate no adversário e não entra. O pontapé que termina nas mãos do guarda-redes contrário. Os postes que desviam as bolas para fora. Tudo acontece. A culpa é sempre do Fado. Do destino. Do azar.

Dois jogos, dois empates, contra duas equipas que são muito inferiores a Portugal. E se no primeiro a exibição, apesar de ser suficiente para uma vitória, deixou algum amargo de boca a 11 milhões de portugueses, no jogo desta noite com a Áustria, a seleção das Quinas fez mais do que suficiente para vencer e de forma confortável.

Não há muito a apontar à equipa de Fernando Santos, nem às opções do Engenheiro. Mudou um pouco o sistema, que como aqui escrevi no jogo inaugural já tinha sido muitas vezes um 4-3-3 devido ao posicionamento interior de André Gomes em vários momentos da partida. Desta vez foi assumidamente um 4-3-3, com Quaresma e Nani mais abertos e Ronaldo no meio, apesar de muitas vezes o extremo do Fenerbahce aparecer como segundo avançado na área.

E Portugal conseguiu sempre dominar o jogo, ter mais posse, mais remates, mais ocasiões de golo... foi mais equipa em tudo. Notou-se alguma ansiedade em determinados momentos, mas não foi esse o motivo do insucesso. Pessoalmente, não considero que haja outro motivo que não a da ineficácia.

Que outras opções poderia ter tomado Fernando Santos? Sinceramente, não vejo que nenhum jogador ou opção tática fosse favorecer a vitória lusa. Faltou que a bola entrasse. Quando se criam tantas ocasiões de golo, a questão é exclusivamente a capacidade de a colocar dentro das redes contrárias. Nem de penalti!

Aí entra a eterna questão desta seleção desde 2010, com o fim da geração de ouro e de Luís Figo. A partir daí, esta passou a ser a equipa de Cristiano Ronaldo e isso serve para o bom e para o mau... Quando o astro madeirense está no seu melhor, tudo parece um conto de fadas. Assim foi no último europeu, onde tudo dependia dele. Ele marcava os golos todos e a falta de qualidade do resto da equipa nem era motivo de discussão, porque o melhor do mundo resolvia.

Porém, quando chega às fases finais longe do seu melhor, como parece ser agora o caso, tudo se complica. Porque só ele parece capaz de colocar a bola na baliza. Hoje não foi diferente, a grande maioria das ocasiões vieram dos seus pés ou cabeça. Nani também atirou ao poste e falhou um golo isolado, mas tudo o resto foi Ronaldo.

Os colegas olham para ele na esperança que saque um coelho da cartola. Ora a finalizar no coração da área, ora num remate poderoso de fora da área. Tudo está dependente dele e isso limita as ambições de qualquer equipa. Dificilmente um campeão da europa o é só porque tem um jogador do outro mundo.

Mas a dependência é tal que chegamos ao ridículo de ver Ronaldo marcar os livres todos (às vezes acerta e faz golos do outro mundo, mas qual a sua taxa de eficácia no total de livres batidos?), os penaltis (que ainda esta época falhou vários em Madrid)... Só não marca os pontapés de baliza porque não são ocasiões de golo, senão também seria ele. Cabe, na minha opinião, ao seleccionador tentar minimizar essa dependência, dando espaço a outros, como Raphael Guerreiro, que é superior nas bolas paradas, tanto nos livres diretos como nos penaltis ao madeirense.

Isso ajudaria não só ao sucesso da equipa, como a tirar esta aura de que estamos perante a seleção de Cristiano Ronaldo. Não podem ser 10 e CR7, mas sim 11, onde Ronaldo é mais um. É o melhor, o mais importante da equipa, o seu capitão. mas não o dono da bola.

Acredito que Portugal vai passar, vai até ganhar o grupo pois depende de si para o conseguir, e apesar do propalado grupo fácil (que na realidade a equipa lusa tem demonstrado ser de longe a melhor equipa mas ineficaz), talvez os jogos da fase a eliminar, com equipas mais fortes e com outras formas de encarar o jogo, menos fechadas, possam ser benéficas para a turma das quinas, porque na realidade Portugal é uma equipa que gosta do ataque rápido, das transições e calhar num grupo tão acessível, obriga a equipa a assumir um papel de que não gosta, que é jogar em ataque continuado contra equipas ultradefensivas... Falta "só" é lá chegar...

Palavra final para os destaques individuais, Ronaldo e Nani estiveram em todos os momentos-chave, mas a sua ineficácia foi decisiva e mancha exibições que poderiam ser de glória. Raphael Guerreiro foi um autêntico vaivém, capaz de dar profundidade e causar desequilíbrios. Quaresma esteve longe do nível apresentado nos particulares antes do Euro, mas teve algum protagonismo no último terço do terreno. E o meio-campo foi muito melhor que no primeiro jogo: André Gomes voltou a exibir-se em grande nível (é até ao momento o jogador luso que esteve melhor no somatório dos dois jogos), William foi muito superior a Danilo e Moutinho subiu vários furos face à estreia na competição.

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