sábado, junho 25, 2016

O elixir da juventude


Foi o jogo da paciência. E também o jogo do tédio. A emoção de quem sofre num jogo destes até pode nem sentir o aborrecimento, mas na verdade, a tática levou a melhor sobre o espetáculo nesta partida. Muito medo de perder, levou o jogo a arrastar-se até quase aos penalties. Mas antes o jogo já tinha mudado, graças ao elixir da juventude de Renato Sanches, que trouxe a sua alegria e dinâmica à partida, e mudou a face do jogo, e especialmente o seu ritmo. Man of the match para a UEFA, com apenas 18 anos.

Fernando Santos optou por um novo meio-campo, com o trio do Sporting, tantas vezes exigido nas redes sociais nos últimos dias por ser o meio-campo que teria mais automatismos e que poderia permitir um jogo mais desenvolto à equipa. Serviu isso sim para um tampão ao meio-campo croata, onde estavam os dois melhores da equipa contrária, Modric e Rakitic.

Verdade seja dita, a tática resultou em termos defensivos. Portugal conseguiu travar a equipa croata, que apesar do domínio em termos de posse, foi totalmente inofensiva em termos ofensivos. O problema é que a equipa das quinas também não existia em termos ofensivos. Cristiano Ronaldo foi uma espécie de ilha no meio de um oceano. Não viu a bola em quase todo o jogo, nem sequer conseguiu fazer um remate, senão mesmo o que resultou na vitória de Portugal, cuja defesa de Subasic deixou Quaresma a menos de um metro do golo da vitória.

Com a partida complemente equilibrada, sem qualquer motivo de interesse, Fernando Santos foi o único que procurou desbloquear a partida. Se há dias o critiquei, pela falta de ambição final com os húngaros, agora é preciso ressalvar que apesar do excesso de respeito na construção da equipa, recíproca do lado dos croatas, soube mexer e ao contrário do técnico rival, fê-lo bem cedo na segunda metade e sempre tentando esticar mais a equipa no terreno para ficar mais próxima da baliza contrária.

E foi a primeira substituição que mexeu mesmo com a partida. Renato Sanches entrou aos 49' (não se percebeu muito bem porque não entrou logo ao intervalo pois nada de relevante aconteceu nos 4' minutos iniciais do segundo tempo) e Portugal transfigurou-se para melhor. A intensidade subiu, assim como a ousadia, o jovem médio que vai vestir a camisola do Bayern de Munique, não tem medo de errar, de arriscar, mesmo que falhe mais do que outros, precisamente por arriscar mais que os seus colegas.

Adicionalmente, foi um poço de força, deixando muitas vezes os croatas no relvado em duelos divididos. Tal como contra a Hungria, a entrada de Renato soltou João Mário que, apesar de não ter atingido o brilhantismo da partida anterior, conseguiu alguns dos seus melhores momentos nesta etapa complementar, uma delas na melhor jogada de Portugal até ao golo, numa combinação de Renato e João Mário, com o jovem formado na Luz a falhar a finalização.

O jogo foi naturalmente a prolongamento, depois da quase ausência de oportunidades em toda a partida. No prolongamento, especialmente na segunda parte, o jogo teve o seu melhor período, especialmente porque a Croácia e o seu treinador decidiram finalmente arriscar. A entrada da Marko Pjaca deu outros argumentos no último terço dos terrenos aos homens dos balcãs e os calafrios surgiram em alguns momentos na área de Portugal, onde emergiu Pepe como o último bastião da equipa, com cortes fantásticos que salvaram Portugal de ficar em desvantagem.

E quando tudo parecia que ia terminar nos penalties, a Croácia tem o seu maior momento de perigo no jogo, com um remate ao poste, lance cuja sequência deu origem ao golo de Portugal. Quaresma fez um corte na direita da defesa lusa, Ronaldo libertou de imediato em Renato Sanches e aí foi o Puto. Galgou mais de 60 metros com a bola nos pés, sem grandes linhas de passe, esperou até ao último momento para soltar em Nani já dentro da área, que colocou a bola no poste contrário (passe intencional ou remato falhado?), onde Cristiano Ronaldo, na cara de Subasic, atirou para grande defesa do guardião do Mónaco, sobrando a bola para Ricardo Quaresma, que de cabeça a um metro da baliza deserta, só teve de encostar para a glória lusitana.

Os croatas ainda tentaram nos 2 minutos que restavam, mais os dois de compensação, empatar por todos os meios, com o central Vida a quase conseguí-lo num remate que passou a milímetros do poste esquerdo de Rui Patrício já batido.

Aquando do jogo da Áustria, falei de uma tremenda injustiça, mas ressalvei que a justiça não existe no futebol. Existem sim golos e vitórias. Hoje podemos usar esse argumento na perfeição. Os croatas fizeram um pouco mais que Portugal para vencer, ainda que muito pouco, mas quando finalmente deram tudo para ganhar perto do fim, acabaram por perder, ironicamente depois do remate ao poste.

Foi o jogo do excesso de respeito, que apenas a juventude de um jogador selvagem de 18 anos pôs fim. Portugal voltou a não brilhar, nem a entusiasmar, somou o quarto empate em 90 minutos em outros tantos jogos, mas mal ou bem está já nos quartos. A equipa parece não ter identidade e é construída, jogo a jogo em função do adversário que está pela frente. É questionável a opção? É! Mas o que importa no final é vencer, nem que seja empatando todos os jogos como disse Fernando Santos, e neste momento Portugal já está entre os 8 melhores da Europa.

Agora vem a Polónia, que parece claramente ao alcance de Portugal, mas todos os adversários do grupo F onde Portugal jogou na fase inicial do Euro 2016 e a equipa das quinas não venceu um só jogo...

A fechar, em termos individuais, tirando Pepe e Renato, é difícil destacar individualmente muitos mais. José Fonte e Cedric foram competentes em termos defensivos, mas no caso do lateral, não existiu em termos ofensivos, o que explica a opção por Vieirinha de F.Santos, dado que é bem menos acutilante a este nível que o lateral do Wolfsburg. No meio-campo William voltou a não comprometer, mas também não entusiasmou particularmente e Adrien cumpriu na perfeição como tampão a Modric, mas foi inexistente em termos de construção. João Mário voltou a baixar o nível exibicional e André Gomes parece claramente limitado em termos físicos, pelo que não se entende a insistência na titularidade. Foi o melhor na estreia, dos melhores no segundo jogo mas estes dois últimos, depois de problemas físicos, parecem mostrar que não podem continuar se está com claras limitações. O ataque não existiu, mas aí Nani e especialmente o capitão Cristiano Ronaldo são mais vítimas que culpados pois praticamente não tiveram jogo.

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