Começa a ser difícil, mesmo a quem reconhece
qualidade ímpar a Jorge Jesus, defender muitos dos seus atos quando estes se
tornam erros repetidos, ano após ano, clube após clube.
Vou ser claro; Jorge Jesus é, na minha
opinião, um treinador de excelência, principalmente no trabalho semanal, que se
preocupou pouco com tudo o que está à volta do futebol. Essa negligência,
própria de quem pensa que a sabedoria bastará sempre, custou-lhe uma carreira
internacional ao mais alto nível. E com isso perdeu mundo, outras formas de
encarar as coisas. Ficou em Portugal, para gáudio do Benfica e dos seus
adeptos... porque se tivermos um pouco de memória todos se lembrarão do que era
o Benfica antes de Jesus e o que foi depois.
No Sporting, descontando o título não
conseguido até agora, quase a mesma coisa. Elevou o nível, fez os adeptos
leoninos acreditarem. Basta lembra que foi em Alvalade que Jesus obteve a
melhor pontuação da carreira, 86 pontos. Em nenhum dos três anos em que foi
campeão pelo Benfica obteve tantos pontos.
O problema é que as pessoas tendem a aprender
com os erros. Há exceções e, pelo que me parece, Jesus é uma das tais que
confirma a regra.
Este mês de janeiro é um manual de tudo o que
não se pode nem deve fazer a um plantel.
O Sporting gasta 10 milhões de euros em dois
jogadores (Misic e Wendel) que, segundo o treinador, são apenas para a próxima
época.
Deixa sair Iuri Medeiros, o único extremo
capaz de desequilibrar individualmente para além de Gelson Martins. Sempre se
percebeu a antipatia pelo açoriano mas... há limites. E Iuri não teve metade
das oportunidades de que dispôs o desleixado Alan Ruiz em ano e meio ou o
misterioso Markovic na passada temporada. Veremos se Iuri não será o Bernardo
Silva do Sporting para Jesus.
Começou Janeiro com quatro centrais, termina o
mês com três. Tobias é melhor que zero? Não me parece.
Contratou cinco jogadores, dois deles para a
próxima, outro (Lumor) porque era o que se podia arranjar e ainda avalizou
Montero, que está sem ritmo e parece, para já, um corpo estranho nesta equipa.
Resta Rúben Ribeiro que não teve de passar pelas etapas de Misic e Wendel. O
antigo médio do Rio Ave é conhecido de Jesus há, pelo menos, dez anos. Nesta
década já foi dispensado de alguns clubes, esteve desempregado mas agora, no
encanto dos 30, arrebatou o coração do treinador do Sporting.
Confesso que vendo o jogo realizado por Rafael
Leão diante do Salzburgo é difícil perceber o que tem, neste momento, a menos
que Montero. É veloz, tem técnica, codícia pelo golo e um potencial imenso. Não
será este o melhor jogador para acasalar com Bas Dost ou, no presente, com
Doumbia?
Jesus sempre teve dificuldades em apostar na
prata da casa. Viu-se isso na Luz e agora também se estava a ver em Alvalade,
com a exceção Gelson Martins, porque é mesmo uma exceção. Não falemos de
William, Adrien, Patrício e João Mário. São jogadores feitos e nada a ver com
os escalões de formação quando Jesus chegou a Alvalade.
Nestes nove anos de treinador de grande, as
suas equipas chegam sempre a esta altura da época cansadas, fatigadas, sem
força – física e mental. E os lamentos são os de sempre, que está em muitas competições
e que alguma terá de cair. É sistemático.
Bruno de Carvalho tem muitos defeitos,
principalmente na forma como intervém na esfera pública, mas se há uma
qualidade que lhe tem de ser assacada é o rasgo que tem para contratar
treinadores. Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus eram, na altura em que
assinou com eles, as melhores opções no mercado.
Isto para dizer o quê? Que não acredito que
Bruno de Carvalho não consiga ver coisas que saltam à vista. Ele próprio saberá
que o Sporting, independentemente do resto, tem obrigação de fazer mais e
melhor com este treinador, por isso é que lhe paga 7,8 milhões de euros
brutos/ano. Por isso auguro que Jesus deixe Alvalade no final da época se não
conseguir o campeonato que os adeptos leoninos ambicionam.
Ultrapassada esta questão, Bruno de Carvalho
terá que elencar os melhores nomes para substituir Jorge Jesus. Mas antes disso
terá que se capacitar que quem substituir Jesus merece pelo menos as mesmas
condições no que diz respeito à matéria-prima. A poupança será no vencimento
mensal da equipa técnica. E que poupança...
PS – A vida não se esgota nos grandes nem nos
resultados. Gosto dos sinais dados por Ivo Vieira, João Henriques e Silas. São
treinadores corajosos, que gostam de ter bola. A seguir com atenção
Nenhum comentário:
Postar um comentário