terça-feira, novembro 22, 2016

Dragão decide futuro no gelo nórdico


O FC Porto tem hoje um jogo que pode decidir o seu futuro não só nesta época como na seguinte. Exagerada esta afirmação? Talvez não. O início de época não tem sido brilhante e com o Benfica a cinco pontos na Liga, ainda que nem o primeiro terço esteja concluído, eliminados da Taça prematuramente, o desastre de não passar a Champions poderia ser uma hecatombe que matava a equipa animicamente ainda antes do final do ano civil.

Muito se falou do FC Porto nas últimas semanas. Ora pela falta de jeito para o desenho do treinador Nuno Espírito Santo, que decidiu ilustrar uma conferência de imprensa com desenhos pouco percetíveis, ora porque conseguiram impor-se em jogo jogado contra o tricampeão Benfica no Dragão, mas uma exibição bastante superior redundou num empate, muito pouco para quem procurava encurtar a distância para o líder num jogo onde a qualidade exibida não teve qualquer tradução no resultado final, ora ainda ao cair na Taça de Portugal, em Chaves, perante um adversário que apesar de voluntarioso, fica a anos-luz do orçamento e da qualidade dos dragões.

Se é cedo para deitar as mãos à cabeça e desesperar, pois apenas a prova rainha de Portugal está perdida, a verdade é que ter cinco pontos de atraso para o líder quando já o recebeu no seu estádio, e estar no fio da navalha na Champions não é motivo para sorrisos.

Por tudo isto, o jogo de hoje na Dinamarca é decisivo para as aspirações na temporada dos azuis e brancos. É certo que a vitória basta para assegurar o apuramento e assim tirar um grande peso de cima das costas. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, o jogo de fácil tem muito pouco. O Copenhaga é um adversário difícil no seu terreno. São poucos os que lá passaram em toda a história da Champions. Em quatro presenças na principal competição do Velho Continente, os dinamarqueses perderam duas vezes! Duas!! E por lá passaram muitos tubarões europeus! Este ano nem um golo sofreram ainda nos dois jogos que disputaram no Parken Stadium.

Em comum nas quatro participações dos dinamarqueses na Champions está o treinador Stale Solbakken. O norueguês de 48 anos que está no clube desde a época 2005/2006, com duas épocas de intervalo a meio, depois de se ter estreado como técnico no modesto HamKam da Noruega. O técnico nórdico acabou curiosamente a carreira de futebolista em 2000/2001 no Copenhaga. Esta é a décima temporada como treinador dos dinamarqueses. Entre 2011 e 2013 passou por Colónia, da Alemanha, e Wolverhampton, de Inglaterra. Mas rapidamente voltou aquela que é a sua verdadeira casa.

Olhando para o histórico do Copenhaga na Liga dos Campeões, o historial no Parken Stadium não pode ser animador para os dragões. Na estreia, em 2006/2007, no primeiro ano de Solbakken à frente dos comandos da equipa, os dinamarqueses ficaram em último no grupo, com sete pontos, empatados curiosamente com o Benfica, a apenas dois pontos do segundo lugar que foi do Celtic, com 9, num grupo ganho pelo Manchester United com 12 pontos. Mas nos três jogos em Copenhaga, apenas o Benfica não saiu de lá derrotado, ao conseguir um 0-0. United e Celtic saíram com zero pontos do Parken Stadium, graças a derrotas por 1-0 e 3-1 respetivamente.

Quatro anos volvidos, em 2010/2011, o Copenhaga voltava à Champions e desta vez para fazer história ao assegurar o apuramento para os oitavos, o único na sua história, onde cairia aos pés do poderoso Chelsea. Mas na fase de grupos, o Copenhaga voltou a ser imbatível no seu reduto. Duas vitórias (1-0 aos russos do Rubin Kazan e 3-1 aos gregos do Panathinaikos) e um empate perante o Barcelona, a uma bola, num ano onde os catalães se sagrariam campeões europeus, batendo por 3-1 na final o United. Apenas nos oitavos os dinamarqueses sofreriam a primeira derrota da sua história na Champions no Parken Stadium, ao perderem por 0-2 com o Chelsea. Na 2ª mão, o empate a zero em Stamford Bridge permitu à equipa sair de cabeça bem levantada da liga milionária.

Foi preciso esperar mais três anos para o regresso, em 2013/2014. Novo grupo complicado e a repetição do quarto lugar da estreia. Mas mais uma vez o Parken Stadium foi uma verdadeira muralha, que apenas o Real Madrid superou. Empate na estreia com a Juventus, um excelente resultado perante o colosso italiano, seguido de vitória frente ao Galatasaray por 1-0. Até que o Real Madrid visitou Copenhaga e pôs fim à invencibilidade dos dinamarqueses no seu estádio na fase de grupos da Champions, impondo-se por 0-2. Curiosamente, à imagem do Barcelona, também os merengues se sagrariam campeões europeus nesse ano. Talvez o Parken Stadium seja talismã para os espanhóis que ali se deslocam na fase de grupos. Os dois que o fizeram terminaram campeões europeus.

Em resumo, o Copenhaga perdeu um jogo em onze na fase de grupos da Champions na Parken Stadium! Conseguirá o Porto repetir a façanha do Real Madrid? Manchester United, Juventus, Barcelona e Benfica, para citar alguns exemplos, não o conseguiram no passado. Se o conseguir assegura o apuramento e, acima de tudo, os tão preciosos milhões. Este é o momento dos dragões se afirmaram na temporada em definitivo. E até o empate pode ser um bom resultado pois permite que nem fiquem obrigados a ganhar na última jornada no Dragão frente ao campeão inglês Leicester.

Mas a derrota poderá deixar os azuis e brancos à mercê do que fizerem os dinamarqueses na Bélgica frente ao Brugges na última jornada. E mesmo assim têm de vencer o até agora imbatível Leicester pois o empate ou derrota com os ingleses deixa os dragões de fora da Champions qualquer que seja o resultado do Copenhaga.

E se esquecermos a importante parte desportiva, o jogo de hoje tem um peso ainda maior pela questão financeira. Mais do que títulos, o Porto precisa de faturar e só a Liga dos Campeões permite fazer face aos 58 milhões de prejuízo que a SAD apresentou recentemente. A Direção da SAD já revelou as suas previsões de faturação de mais de 30 milhões com a Champions e 115 milhões em vendas de jogadores. Caso não passem a fase de grupos, naquele que é provavelmente um dos mais acessíveis grupos de sempre que os dragões enfrentaram na prova milionária, os azuis e brancos devem registar encaixe na Europa de menos de metade do valor acima referido e a valorização dos seus jogadores fica seriamente comprometida para almejar vendas de mais de 100 milhões como previsto.

Como tal, o que está em cima da mesa hoje na Dinamarca não é o sucesso desportivo dos Dragões. É acima de tudo o financeiro! Porque sem ele, certamente o sucesso desportivo será uma miragem. Só a vitória poderá permitir a Pinto da Costa, restante administração da SAD, Nuno Espírito Santo e equipa profissional respirar de alívio. E uma derrota pode fazer o céu desabafar em definitivo...

ESTE TEXTO FOI TAMBÉM PUBLICADO NO BLOGUE BOM FUTEBOL

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