terça-feira, julho 10, 2018

MUNDIAL À LUPA: O galo voou no jardim de Eden


Qual ave de rapina, foi do alto dos céus que o galo carimbou o passaporte para a final do Mundial Rússia 2018. Num jogo atado pelas magníficas exibicões de Courtois e Lloris, foi num canto batido por Griezmann que Umtiti subiu mais alto que toda a gente e fez o único golo da partida.

O jogo foi pautado pelo equilíbrio, como seria de esperar, entre duas enormes equipas, com duas estruturas táticas distintas mas que se encaixaram na perfeição. A Bélgica na ausência de Meunier viu-se obrigada a uma mudança, com Roberto Martinez a apostar em Dembelé, optando por um sistema híbrido, que a atacar era um 3-4-3 mas a defender assumia o 4-4-2, onde Chadli era a chave a encostar como defesa direito no momento defensivo e a assumir o corredor sozinho, à imagem do lateral do PSG, quando atacava, com Vertoghen, no lado contrário da defesa a encostar aos centrais Kompany e Alderweireld.

Talvez com o efeito surpresa, como já havia acontecido frente ao Brasil, os belgas entraram mais fortes, muito por força de mais uma excelente exibição de Hazard, sempre deambulando com toque curto e velocidade o que provocou muitas dores de cabeça à defesa gaulesa, com Lloris a assumir-se como o garante do nulo, com algumas defesas de elevado grau de dificuldade, uma delas num remate à meia volta de Alderweireld na sequência de um canto.

A França tinha dificuldades para sair a jogar, apenas conseguindo em raras ocasiões através da velocidade de Mbappé. Porém, aos 40 minutos a França esteve à beira do primeiro mas desta feita seria Courtois a brilhar com uma tremenda defesa a remate de Pavard que surgiu sobre da direita da área sem qualquer oposição. Este lance foi o corolário de uma parte final do primeiro tempo de maior qualidade da França em resposta à boa entrada belga.

A segunda parte começou praticamente com o golo da França, aos 51' que naturalmente mudou a face da partida. Os gauleses baixaram as linhas e a Bélgica passou a assumir claramente o controlo do jogo, procurando chegar ao empate.

Foram muitas as dificuldades que a Bélgica apresentou dado o bloco muito forte que é esta equipa francesa. Coesão defensiva muito graças a um trio do meio-campo que protege na perfeição a área, tornando-se muito difícil lá entrar. Os diabos vermelhos abusaram do jogo lateral e dos cruzamentos, tentando aproveitar o jogo aéreo de Fellaini que passou a se aproximar muito mais da área.

A primeira aposta de Martinez foi Dries Mertens por Dembele, com o avançado do Nápoles a jogar na direita do ataque passando o 3-4-3 a ser sistema em todas as fases do jogo, mas Mertens nunca se mostrou muito feliz, longe da forma que apresentou em Itália em boa parte da temporada, como já se tinha percebido desde o início do Mundial, motivo pelo qual perdeu a titularidade após a fase de grupos.

A França apostava em definitivo na velocidade supersónica de Mbappé e na capacidade de condução e congelação da bola de Griezmann. Se conseguir criar grande perigo apesar do muito caudal ofensivo, Martinez voltou a mexer colocando Carrasco por Fellaini, a dez minutos do fim, algo difícil de perceber da a importância que o médio do United poderia ter no jogo aéreo no chuveirinho final.

Também Carrasco nada acrescentou (tal como Mertens pouco deu à equipa neste Mundial e também perdeu a titularidade após a fase de grupos) e muito menos Batshuayi que entrou já depois dos 90'.

A melhor oportunidade foi mesmo um remate fortíssimo de Witsel de fora da área que obrigou Lloris a mais uma excelente intervenção. Apesar do enorme jogo de Hazard, o avançado do Chelsea não teve companhia a altura hoje, com Lukaku engolido por Varane e Umtiti, e De Bruyne menos feliz que nos jogos anteriores, muito também devido à ação de Kanté, o homem invisível que domina os relvados que pisa.



A França acabaria por dispor das melhores oportunidades em contra-ataque, primeiro por Griezmann e depois, já no final dos descontos, por Tolisso, que havia substituído Matuidi que saiu combalido após forte choque com Hazard. O médio do Bayern permitiu a Courtois voltar a brilhar impedindo o 2-0 com uma grande defesa.

Apesar do equilíbrio, a França acabou por ser um justo vencedor, especialmente pela capacidade de proteger a vantagem sem ter sofrido muitos calafrios perante tão talentosa equipa. Para a Bélgica, é o fim do sonho mas esta geração ainda tem muito para dar ao futebol mundial, sendo certamente um dos favoritos a suceder a Portugal como campeão da Europa em 2020.

Man of the Match: Samuel Umtiti

sábado, julho 07, 2018

MUNDIAL À LUPA: O Pic(k)ador de gelo


Sem adornos, sem lances de génio, mas com uma eficácia tremenda, a Inglaterra está de regresso ao top-4 do Mundial, 28 anos depois do Itália-90. E bem pode agradecer a Jordan Pickford que fechou a sete chaves a sua baliza.

Toda a primeira parte foi pautada pelo equilíbrio. Nenhuma das equipas parecia com vontade de assumir muitos riscos e ambas encaixavam na perfeição. A Suécia apostava na profundidade, mas ao contrário dos jogos anteriores, tinha mais dificuldade perante o trio de defesas ingleses, poderosos fisicamente e com excelente controlo do espaço nas suas costas. Já a Inglaterra apostava no trio dinâmico nas costas de Kane, composto por Sterling, Dele Ali e Lingard, que com o seu jogo de toque curto, velocidade e capacidade técnica, iam causando algum incómodo à defesa sueca, sem que contudo tivessem alcançado mais do que um lance de perigo que terminou com um remate frontal de Kane ao lado e outro onde Sterling se isolou após passe fantástico de Kane mas na cara de Olsen acabou por não conseguir ultrapassar o guardião sueco, terminando a jogada com um pontapé do avançado do City ao lado.

E quando tudo parecia que o nulo seria o resultado ao intervalo, surgiu Maguire, não o Jerry, do filme de Hollywood que celebrizou a frase "Show me the money", mas o Harry, que mostrou o caminho do golo aos britânicos num cabeceamento perfeito após canto de Young.

Obrigados a assumir o jogo para alcançar o empate, a Suécia entrou a todo o gás no segundo tempo e logo ao segundo minuto Marcus Berg com um cabeceamento perfeito obrigou Jordan Pickford a uma das melhores defesas deste Mundial, numa espécie de reencarnação da mítica defesa de Gordon Banks em 66.

A Inglaterra continuava na sua toada morna e de controlo da partida, sempre jogando pela certa, com Trippier em excelente plano do lado direito. E seria por esse lado que nasceria o segundo dos ingleses, com o lateral direito a servir Lingard que fez um centro perfeito ao poste mais distante onde Ali surgiu sozinho a cabecear para o segundo.

Com meia hora para jogar, Andersson mexeu na equipa, mudando Toivonen por Guidetti e Forsberg por Olsson, esta última alteração difícil de perceber dado que faz pouco sentido tirar o melhor jogador da equipa quando se está a perder por dois golos e à beira da eliminação.



Os suecos ainda assim foram conseguindo no seu futebol habitual, com passes nas costas da defesa contrária ou através de cruzamentos. Mas Pickford mostrou-se intransponível. Por duas vezes voltou a brilhar a um nível altíssimo, mostrando que não iria ceder ao gelo nórdico.

E assim, 28 anos depois, a Inglaterra voltou às meias-finais de um Mundial. Conseguirá repetir a final de 1966? Têm boas razões para sonhar. Mais não seja, porque Pep Guardiola treina em Inglaterra. E sabemos quem terminou campeão nos últimos dois mundiais certo? Os países onde o técnico do City treinava. Depois dos títulos mundiais de sub-19 e sub-20, falta a cereja no topo do bolo... talvez seja mais o bolo que falta porque comparativamente os dois títulos conquistados parecem duas pequenas cerejas.

Man of the Match: Jordan Pickford

sexta-feira, julho 06, 2018

MUNDIAL À LUPA: No sambódromo do desperdício foi um gigante o rei do baile


Por vezes basta falta um tijolo para um palácio ruir. A ausência de Casemiro foi fatal para as aspirações da canarinha que ao longo do Mundial Rússia 2018 pareceu sempre ser a mais forte candidata ao título. Ausente por castigo, a equipa de Tite ficou orfã do tampão defensivo e isso notou-se sobremaneira. Mas foram muitos mais os motivos que levaram a Bélgica a eliminar os cinco vezes campeões do mundo. A começar a exibição monumental de Courtois. Depois a tremenda eficácia belga aliada a quase total ineficácia brasileira. E a fechar, um dos lances mais absurdos de que me lembro um VAR não sancionar.

Sem Casemiro, Tite optou por Fernandinho e fez regressar Marcelo, mexendo peças sem alterar o esquema tático. Roberto Martinez não pensou duas vezes e mudou completamente a forma de jogar. Deixou cair os três centrais, depois das avenidas que as suas laterais tinham revelado em jogos anteriores, entrou Fellaini para dar mais força no centro e subiu De Bruyne num esquema onde o médio do City surgia como falso 9 com Hazard e Lukaku a abrir nas alas aproveitando a subida dos laterais do escrete, em especial Marcelo.

Em dez minutos por duas vezes em cantos o Brasil esteve à beira do golo. Thiago Silva falhou uma emenda na boca da baliza desviando apenas a bola que subiu e bateu no poste e pouco depois novo canto com Miranda a falhar o cabeamento em cima da baliza. Como quem não marca sofre, como diz o ditado, no primeiro canto dos belgas aos 13' Fernandinho infeliz viu a bola bater-lhe no braço e desviar para a baliza.

Contra a corrente do jogo a Bélgica marcava e a partir daí a opção tática de Martinez assentou na perfeição ao jogo. O Brasil não conseguiu nunca acelerar o jogo, com William a voltar a patamares muito abaixo do que é normal, ao contrário do que mostrou com o México, ficando a equipa sempre depedente da asa esquerda com Marcelo e Neymar que voltou a abusar do individualismo.

Mais exposta, a equipa do Brasil teve enorme dificuldade para parar a saída de bola dos europeus. Sempre assentes na condução do trio da frente, ora através da enorme qualidade técnica de Hazard e De Bruyne ora na força e velocidade de Lukaku que proporcionou uma noite horrível a Miranda. E foi assim que surgiu o golo, num canto a favor do Brasil (como outros que redundou em saídas perigosas da Bélgica no contra-golpe), com Lukaku a levar a bola desde meio do meio-campo defensivo até à mesma zona do meio-campo da canarinha e a libertar em De Bruyne na direita que avançou até à área rematando cruzado sem hipótese para Alisson. 

Este foi o lance que pôs a nú a fragilidade do Brasil sem Casemiro. Fernandinho foi incapaz de travar Lukaku recorrendo à falta, passando pelo médio do City com tremenda facilidade. Se Casemiro ali estivesse, é difícil acreditar que não teria imediatamente travado o pujante avançado.

Com 0-2, o Brasil via-se numa situação que certamente não imaginaria possível depois dos primeiros dez minutos da partida. Apesar de atordoados e com um ritmo muito baixo, também pela dificuldade de circular a bola perante uma equipa com forte presença defensiva e sem grande espaço entre linhas, o Brasil voltou a dispor de ocasiões, uma delas por Gabriel Jesus (um Mundial para esquecer) de cabeça ao lado e duas onde o gigante Courtois deu início a uma exibição que fez dele o rei do festa, ora a evitar autogolo de Witsel ora a parar um remate típico de Coutinho que seria um golo de bandeira.

O regresso das cabines trouxe um jogo diferente, com Firmino finalmente a ter tempo de jogo, substituindo William, abrindo Gabriel Jesus mais sobre o flanco. Pouco mais de dez minutos depois do recomeço Jesus dava lugar a Douglas Costa e em definitivo o jogo mudava de cara.

Mas antes aconteceu o lance mais polémico da partida. Pouco antes da substuituição, Jesus teve uma pormenor delicioso sobre Vertonghen com um túnel na área, e depois desviou a bola da Kompany sofrendo um claro derrube do veterano central que acertou em cheio com os pítons na canela do brasileiro. O árbitro mandou jogar e após alguns segundos, o VAR deu indêntica indicação ao juíz da partida. A decisão mais polémica do Mundial, sem qualquer sombra de dúvida.

Se ainda antes da entrada do extremo da Juve o Brasil já havia tido uma clara ocasião com a bola a passar em frente à baliza contrária sem que ninguém encostasse, com o esquerdino tornou-se avassalador o caudal ofensivo do escrete. É difícil enumerar todas as ocasiões desperdiçadas, mas foram muitas, demais para um ataque da qualidade da canarinha.

A Bélgica sentiu enormes dificuldades para travar Douglas Costa e Martinez levou muito tempo a reagir. Até a saída de bola dos europeus passou a ser muito menos frequente e quando acontecia, especialmente Hazard e De Bruyne já não tinham a mesma verticalidade privilegiando congelar o jogo.

Após tantas e tantas oportunidades, aos 76' o Brasil finalmente chegava ao golo numa assistência deliciosa de Coutinho para o recém entrado Renato Augusto a cabecear para a baliza de Courtois.

O Brasil voltava à vida e um minuto depois quase empatava numa combinação de Neymar com Firmino onde o avançado do Liverpool teve um trabalho individual de grande qualidade e a rodopiar rematando pouco por cima. De seguida foi Renato Augusto a ficar na cara de Courtois a atirar ao lado, para além de muitos outros lances de constante perigo.

A velocidade de Douglas Costa abriu um buraco tão grande no lado esquerdo da defesa belga que Martinez acabou por retirar Chadli e colocar Vermaelen para tentar estancar a sangria. Mas nem assim foi bem sucedido.

E acabaria por ser aos 93 que viria o momento do jogo, nova arrancada de Douglas Costa, serviço para a entrada na área onde Neymar com um remate em arco perfeito colocou a bola no ângulo superior esquerdo da baliza de Courtois mas o gigante guardião do Chelsea abriu asas e simplesmente voou e fez a defesa do Mundial.


Goravam-se os intentos da canarinha que acabou por cair de pé, apesar de se poder queixar da falta de sorte e da exibição de Courtois para não seguir em frente. Com Casemiro a realidade seria outra? Talvez.

A geração de ouro belga terá finalmente a oportunidade que tanto merecia podendo lutar pelo título mundial com o melhor naipe de jogadores da sua história. Esteve à beira de sair do Mundial frente ao Japão mas agora está a um pequeno passo da primeira final da sua história. Mas para lá chegar terá o último grande obstáculo, a seleção francesa que certamente irá proporcionar mais um desafio de enorme grau de dificuldade para os diabos vermelhos.

Man of the Match: Thibault Courtois (De Bruyne para a FIFA)



segunda-feira, julho 02, 2018

MUNDIAL À LUPA: O canto do cisne da ing(Inui)dade nipónica


Respirem. Novamente. Fundo. Terminou o jogo mais eletrizante deste Mundial 2018! Especialmente os segundos quarenta cinco minutos, com cinco golos, uma reviravolta de 0-2 para 3-2, com o golo da vitória de Bélgica no último minuto dos descontos. E tudo devido a uma tremenda inocência da seleção nipónica que permitiu que no últimos segundos do jogo os belgas tivessem a oportunidade de lançar um contra-ataque após um canto e carimbar o passaporte para os quartos do Rússia 2018.

E o início até foi bastante calmo, com duas equipas expectantes, sem arriscarem muito, com um ritmo baixo. À medida que a primeira parte foi avançando foi-se acentuando a superioridade dos belgas, com Meunier e Carrasco muito ativos nas faixas, com Hazard a ser o dínamo no último terço do terreno. Foram algumas as oportunidades da equipa europeia mas sem dúvida que seria no segundo tempo que a avalanche dos diabos vermelhores chegaria.

Do lado do Japão, rigor defensivo e muito critério, como sempre, na construção, com a saída de bola a explorar as laterais belgas que foram muito fortes no ataque mas muito permissivas atrás. A preferência foi sempre o lado esquerdo nipónico, com Nagatomo e o inevitável Inui (que Mundial fez!!) a aproveitarem o muito espaço. E foi dali que por três vezes o Japão criou muito perigo e por pouco não abriu o marcador.

Mas se o golo não chegou para nenhuma das equipas no primeiro tempo, a chuva de golos desabou sobre Rostov na segunda parte. E não foi preciso esperar muito. Três minutos e Shibazaki fez um passe a rasgar as costas da defesa belga, num contra-ataque que teve origem numa recuperação de Inui junto à sua área. Haragushi isolou-se nas costas de Vertoghen e num remate cruzado bateu inapelavelmente Courtois.

Estava aberto o champanhe e daí até final foi um verdadeiro banho. Hazard respondeu apenas um minuto depois com um remate fantástico na entrada da área que só o poste esquerdo de Kawashima parou. A Bélgica parecia enraivecida em busca da resposta imediata mas apenas quatro minutos depois do primeiro, o Japão aumentava a vantagem num remate de antologia de Inui que não deu a mínima hipótese ao guardião do Chelsea. De fora da área, ao poste mais distante sem que Courtois pudesse lá chegar apesar da sua espectacular estirada.

De repente o mundo desabou para os belgas. O Japão foi mortífero em duas jogadas e o sonho da geração de ouro da Bélgica parecia prestes a ser mais uma vez uma miragem. Durante alguns minutos os europeus pareceram até anestesiados com o balde de água fria. Até o seu treinador Roberto Martinez levou imenso tempo a reagir, só indo ao banco quase quinze minutos após o tento de Inui. Isto depois de Lukaku ter desperdiçado um golo quase feito ao desviar ao lado de cabeça um grande centro da direita.

A tardia reação de Martinez não teve, contudo, efeitos tardios. Foram mesmo imediatos. Quatro minutos após Fellaini e Chadli entrarem para os lugares de Mertens e Carrasco, a Bélgica reduzia após um canto onde um balão de Inui acabou na cabeça de Vertoghen. O defesa do Tottenham recuperou de cabeça a bola na esquerda, quase sem ângulo, e tentou endossá-la para junto da baliza, só que o seu balão também saiu mal... salvo seja, pois entrou direitinho no poste mais distante da baliza nipónica. A questão é que claramente não era essa a intenção do defesa belga.

Depois de tanto tentarem, o golo surgia sem querer, mas foi o tónico necessário para o assalto final à baliza de Kawashima. Apenas quatro minutos depois, um grande trabalho de Hazard na esquerda, a sentar Ozako e a centrar para o coração da área onde o inevitável Fellaini (quiçá o melhor jogador do mundo no jogo aéreo) subiu mais alto e fez o empate.

Restabelecido o empate o jogo voltou a acalmar... mas não muito. A Bélgica voltou a jogar de forma mais equilibrada e o Japão conseguiu novamente aparecer junto à área do adversário. E por várias vezes o placard podia ter aumentado. Honda, acabado de entrar, quase marcou, e logo depois foram os diabos vermelhos, a três minutos do fim, com Kawashima a fazer duas defesas fantásticas a cabeçadas de Chadli e Lukaku.

Já no período de descontos, Honda voltou a brilhar mas Courtouis voou mais alto. Um livre a 35 metros da baliza belga em zona frontal deu origem a uma bomba do médio que brilhou na Europa. A bola cheia de efeito e a fugir ao guardião podia ter resultado num dos golos do Mundial, mas Courtouis esteve à altura da sua fisionomia e foi gigante.

O canto que resultou da defesa ao livre de Honda seria o canto do cisne dos homens do país do Sol Nascente. Os asiáticos arriscaram ao subir a equipa no último minuto de descontos e o canto de Honda foi direto para as mãos de Courtois que imediatamente lançou o contra-ataque.

De Bruyne correu meio-campo sem oposição e já a meio do meio-campo contrário deu em Meunier na direita que endossou já na área para a marca de penalty onde Lukaku abriu as pernas num túnel de superior inteligência para que Chadli nas suas costas e sem qualquer oposição rematasse para o fundo das redes do Japão e terminasse este jogo que provocou muitas arritmias por esse mundo fora.



Só a inocência do Japão permitiu este desfechou. Depois de frente à Polónia terem sido os reis do calculismo ao trocarem a bola atrás sem oposição para manter a derrota pela margem mínima que lhes deu o apuramento, deste feita mostraram uma ingenuidade que se paga caro a este nível. Um castigo que o Japão não merecia, especialmente Inui, que foi a grande revelação deste Mundial, aos 30 anos, somando golos, assistências e exibições de luxo. Não tivesse já assinado pelo Bétis, proveniente do Getafe, e talvez pudesse ser uma das transferências do Verão.

A Bélgica mostrou porque é um dos favoritos e porque tem a melhor geração de futebolistas da sua história. Porém, a debilidade defensiva que apresenta exige cuidados redobrados frente ao Brasil onde William e Neymar obrigam a uma grande consistência defensiva para serem travados. Certo é que será, teoricamente, um dos melhores jogos deste Mundial. Quiçá a sua primeira final antecipada.


Man of the Match: Eden Hazard


MUNDIAL À LUPA: Os artistas do Teatro de Neymar tiraram o fôlego aos mexicanos


Com uma entrada a todo o gás, o México repetiu a estratégia que surpreendeu a campeã do mundo Alemanha na jornada inaugural deste Mundial Rússia 2018. Carlos Vela e Irving Lozano eram as setas do tribo azeteca que criaram muitas dificuldades ao Brasil que durante os primeiros vinte minutos teve pouca bola e pouco acerto na forma de parar a tática dos Speedy Gonzalez que Osório apostou.

Apesar de toda a dinâmica ofensiva dos mexicanos, Alisson não foi chamado a qualquer intervenção nos primeiros 45 minutos (na realidade na segunda metade também só por uma vez teve de defender pois todos os remates do adversário ou foram bloqueados ou foram para fora), pelo que apesar de muitos calafrios para o último reduto do escrete, nunca se esteve perto de gritar golo do México.

O problema da estratégia mexicana, com uma pressão alta sobre a defesa brasileira, foi que, como se previa, não poderia durar o tempo todo. À meia hora o gás acabou e o Brasil pegou no jogo para não mais largar.

Neymar começou a abrir o livro, com algumas jogadas de muito perigo dando-se início ao festival de Guilhermo Ochoa entre os postes. Primeiro numa mancha fantástica aos pés do 10 da canarinha, depois de Neymar ter trocado por completo os rins a Alvarez, mas outras ocasiões houve até ao final da primeira parte.

Se começava a cheirar a golo antes do intervalo, logo depois do reatamento a toada acentuou-se. Um Brasil ao seu melhor nível, com Neymar a começar a surgir próximo do seu registo habitual, William finalmente a dar cartas neste Mundial, menos preso à linha e mais rápido na condução e até Gabriel Jesus foi importante em várias movimentações apesar de continuar furos abaixo do que lhe é exigido.

Coutinho ia abrindo o marcador em mais um lance onde Ochoa brilhou, antes de, sem surpresa, aos 51' Neymar abrir o marcador. Grande jogada de William pela esquerda, a ultrapassar Alvarez em velocidade e a centrar para a boca da baliza onde Neymar encostou depois de Jesus não ter chegado à bola por uma unha negra. Era o corolário lógico de uma enorme superioridade da canarinha desde meio do primeiro tempo.

A equipa de Juan Carlos Osório reagiu, com o técnico a mexer nalgumas peças, com a entrada de Raul Jimenez e Jonathan dos Santos. E apesar de ter mais bola e ter conseguido encostar o Brasil mais atrás, a verdade é que continuaram a somar-se lances com a bola a rondar a baliza de Alisson mas sem nunca os azetecas conseguirem causar desequilíbrios que pudessem garantir chances de golo.

Ao invés, o Brasil respondia sempre com muito perigo e o festival de Ochoa prolongou-se quase até final, impedindo que o escrete respirasse finalmente de alívio. Isso só viria a acontecer em cima do apito final, com Neymar novamente a brilhar, isolando-se pela esquerda e a rematar de bico à Romário, para nova defesa de Ochoa, com a bola a sobrar para a boca da baliza onde Roberto Firmino, que havia entrado há poucos minutos, a dar o toque para as redes mexicanas sentenciando a partida.




O Brasil teve hoje o seu teste mais difícil até ao momento e passou com distinção, ainda para mais com Neymar a começar a atingir a sua melhor forma. Pena apenas a contínua peça de teatro que teima em protagonizar cada vez que é derrubado ou sofre uma falta mais contundente, algo completamente desnecessário e que só cria anti-corpos nos fãs de alguém que pelo seu futebol de rua devia ser idolatrado por todos.

Apesar de toda a qualidade do ataque da formação de Tite, merece mesmo destaque é a consistência defensiva da canarinha, que até ao momento só sofreu um golo na Rússia e praticamente não concede oportunidades aos adversários. Palavra final para o México que mantém o estigma de nunca ter passado dos oitavos da prova mas que deixou uma imagem muito positiva nesta Mundial, com um futebol quase sempre de qualidade e que fez da velocidade a sua maior arma, com Lozano a mostrar-se ao mundo do futebol pelo que se adivinha possível tranferência milionária do Chucky que encherá os cofres ao PSV Eindhoven.

Man of the Match: Neymar



domingo, julho 01, 2018

MUNDIAL À LUPA: O Lagom nórdico foi traído pela lotaria dos penalties


Lagom é uma filosofia de vida nórdica. Apesar de ter origem na Suécia, é aplicada em vários países nórdicos como a Dinamarca. Lagom significa viver de forma equilibrada, mais devagar e sem grandes dramas ou complicações. Foi precisamente esse equilíbrio que a formação dinamarquesa colocou em prática no relvado de Nizhny Novgorod e conseguiu neutralizar uma das melhores seleções deste mundial em qualidade de jogo.

Na realidade foi um jogo de extremos, com um início e final alucinantes, e uma longa narrativa pelo meio, com vários momentos interessantes mas sem a mesma vibração. Ainda não estavam decorridos 60 segundos e já a Dinamarca estava na frente do marcador na sequência de um canto onde "Zanka" Jorgensen desviou para a baliza entre muitas pernas pela frente.

Dois minutos depois, Mandzukic repunha o empate, num lance caricato, onde um alívio da defesa nórdica embateu na cabeça de Delaney, deixando o avançado croata com a bola à mercê para faturar.

Só que, como seria de esperar, a chuva de golos não poderia continuar ao mesmo ritmo durante 90 minutos pois senão estaríamos a ver um jogo de hóquei em patins. O ritmo acalmou, muito graças ao equilíbrio que os dinamarqueses sempre tiveram. Neutralizaram o coração croata, com Modric muito recuado, a mostrar o respeito que os de leste tinham também por Eriksen, e Rakitic também sem conseguir pegar no jogo.

Valia essencialmente Rebic, sempre muito irrequieto, veloz e criativo, e Perisic nalguns momentos. Já a Dinamarca procurava com Poulsen e Braitwhite nas costas de Cornelius, sempre rápidos, a conseguirem aparecer entre linhas e com movimentos rápidos causaram alguns sobressaltos à defesa croata.

Foi sempre esta a realidade do jogo ao longo de todos os 90 minutos e prolongamento, com algumas chances para ambos os lados, onde o equilíbrio foi a nota dominante, especialmente a partir do segundo tempo com Schone a substituir Christensen, o que deu ainda maior qualidade à Dinamarca na tarefa de neutralizar os cérebros do jogo croata. Do lado contrário, apenas Kovacic trouxe alguma intensidade à equipa.

Contudo, seria já nos cinco minutos finais do prolongamento que a emoção voltaria a subir para os patamares do alucínio inicial. Com Modric finalmente mais liberto depois da entrada de Badelj, o génio do Real Madrid fez o melhor passe da noite, rasgando Rebic pelas costas da defesa nórdica. O avançado croata fintou Kasper Schmeichel e quando ia atirar para a baliza deserta sofreu um toque de "Zanka" Jorgensen que o impediu de matar o encontro.

Só que quando se pensou que Modric iria pôr fim à resistência dinamarquesa, o filho do lendário Peter mostrou que pode alcançar o mesmo pedestal da história do futebol que o seu pai, com Kasper a parar o penalty (muito mal marcado diga-se) do capitão croata.




Foi preciso assim recorrer ao desempate através de pontapés de penalties, onde os dois guarda-redes foram as figuras, ambos a pararam metade dos penalties marcados, Subasic parou três e Schmeichel outros dois, acabando os croatas a sorrir, para alívio de Modric (que bateu um destes penalties, sem qualquer confiança atirando de forma pouco convincente para o meio mas ainda assim a conseguir redimir-se do falhanço anterior) e para castigo de Kasper Schmeichel que foi um verdadeiro gigante esta noite.

Segue em frente a melhor equipa num jogo que apesar de nem sempre espetacular, teve excelentes momentos de futebol, onde a Dinamarca mostrou toda a sua qualidade tática e onde os 120 minutos valeram a pena assistir, ao contrário do jogo desta tarde (do qual não escrevi qualquer crónica) que foi uma martírio de seguir, em que a Espanha viu a sua obsessão pela posse de bola sem objetivo ser castigada aos pés de uma selação russa que se limitou a tentar não perder e cuja estratégia acabou por resultar. Há mais casos semelhantes que nos são bem próximos onde o jogar para não perder se revelou uma estratégia de sucesso, certo?

Man of the Match: Kasper Schmeichel

sábado, junho 30, 2018

MUNDIAL À LUPA: Cavani levou Portugal a dar voltas no carrossel


Acabou o sonho luso! Fernando Santos montou uma equipa para jogar em transições rápidas, com Guedes de novo a titular e a novidade Ricardo no lado direito, que poderia dar outra velocidade nesse processo. O problema é que a igualdade no marcador durou apenas, por duas vezes, sete minutos. Tanto no 1-0 como no 2-1. Ou seja, a estratégia montada praticamente não teve hipótese de ser aplicada.

Curiosamente, os dois golos de Cavani surgiram no espaço do lateral direito que trocou há dias o Porto pelo Leicester. No primeiro deu espaço a Suarez para receber e a colocar na área, no segundo voltou a marcar à distância, neste caso Cavani, que rematou de primeira para um golo de bandeira, mas neste caso com a atenuante da perda de bola de Pepe em zona proibida.

Praticamente sempre em desvantagem, Portugal teve enorme dificuldade em saber o que fazer à bola. Ao longo de todos os jogos da fase de grupos, muito se questionou a falta de posse de bola da equipa portuguesa. Quando finalmente a teve, parecia já desabituada do processo de construção.

Constantes lateralizações, um futebol com um ritmo muito lento, sem soluções para fazer face ao fortíssimo bloco baixo dos sul-americanos cuja defesa é sem dúvida o seu ponto forte.

A única boa notícia foi mesmo o aparecimento de Bernardo Silva, até aqui sem conseguir somar a sua qualidade ao jogo português, o canhoto do City fez um jogo fantástico, apenas superado por Cavani entre todos os que pisaram o estádio em Sochi. Se já tinha estado bem na direita, foi no centro que o seu melhor futebol apareceu. Sempre com uma condução vertical, a procurar dar soluções de frente para o jogo, rejeitando as lateralizações habituais de William e João Mário, que com Bernardo passaram a formar o triângulo da zona nevrálgica do terreno, com Guedes a cair mais na ala e Quaresma já no lugar de Adrien.

Este sistema foi aposta já depois do 2-1, onde Cavani aproveitou um erro de Pepe, que em sete minutos passou de salvador da pátria, com um golo de cabeça no coração da área uruguaia que finalmente pôs fim à inviolabilidade das redes de Muslera, a vilão, ao perder de forma infantil uma bola na defesa que originou o melhor golo da noite.

Tudo voltava à realidade anterior, onde o Uruguai se sente em casa e Portugal completamente fora do seu habitat. Mais largura, contínua falta de presença na área, que Fernando Santos tentou compensar com André Silva por Guedes, mas que não gerou resultados. Ora porque o futebol da turma das quinas foi lento e previsível, com até os centros a demorarem muitas vezes tempo a mais para serem tirados, ora porque a dupla Godin-Gimenez é das melhores deste Mundial.

Tardiamente Manuel Fernandes chegou ao jogo, com apenas cinco minutos de tempo útil no relógio. O médio do Lokomotiv mostrou em cinco minutos que poderia ter dado muito mais a esta partida que o que William e João Mário ofereceram. Procurou construir, sem se esconder e, acima de tudo, visar a baliza de Muslera sempre que possível. Já não teve muito tempo mas ainda teve na mira o golo por duas vezes com a sua meia distância.



Já nada mais havia a fazer. Houve coração mas não a clarividência necessária. Nem dentro do campo e muito menos fora dele. Não se pode dizer que a queda de Portugal surpreenda. O percurso até aos oitavos foi muito sinuoso e pouco convicente. Como o havio sido em França. Mas passados dois anos os astros mudaram de posição.

Seguiu em frente a equipa que, fiel às suas ideias, mostrou o talento e consistência que um candidato ao título tem de ter. E não caiam na ilusão que Portugal dominou de fio a pavio. Simplesmente a vantagem no marcador em quase todo o jogo permitiu a Tabarez colocar a sua equipa no seu habital natural e quando um jogo é levado para lá pelo Uruguai, dificilmente não são eles a levar a melhor.

Portugal nao pode continuar a montar a sua equipa nos ombros de Ronaldo. Um futebol sem objetividade, sem rapidez, e sempre a contar que o melhor do mundo resolva com os seus golos. O centro da defesa será o grande desafio da renovação que terá de vir, onde também o génio de Quaresma deve ter conhecido a última trivela frente ao Irão.

Man of the Match: Edison Cavani

MUNDIAL À LUPA: E a tartaruga virou um fenómeno


Não podiam ter começado de melhor maneira os oitavos-de-final do Mundial, com um jogo electrizante, com duas cambalhotas no marcador, no dia em que uma tartaruga se tornou o animal mais veloz da selva. Conhecido como a tartaruga ninja, Kylian Mbappé, dizimou por completo a seleção argentina numa exibição que ficará certamente marcada nas memórias de todos durante várias edições do Mundial.

Com uma França fiel aos seus princípios e sistema tático, não surpreendeu que rapidamente se visse total superioridade dos gauleses. Até porque Sampaoli decidiu inventar um modelo de jogo que não contemplava ponta-de-lança. com Enzo Perez a surgir como falso 9, numa opção que se revelou um total fiasco. Di Maria e Pavon jogavam nas alas mas não havia ninguém no centro, com Messi a baixar muito para pegar no jogo sendo então Enzo a subir para terrenos que não são os seus.

Com uma bola na barra num livre direto logo a abrir a partida batido por Griezmann, o golo da França não tardou. Surgiria aos 13', apontado pelo avançado do Atlético Madrid, mas onde todo o mérito foi de Mbappé. O jovem de 19 anos arrancou no meio-campo e acelerou deixando toda a equipa argentina para trás, com Rojo apenas a separá-lo de Armani, desviou a bola do central do United e meteu a sexta, com o herói do apuramento para os oitavos a vestir o papel de vilão. Um empurrão já na área deitou abaixo Mbappé e estava aberto o caminho para o primeiro.

Sempre muito perigosa no contra-ataque, especialmente devido à velocidade supersónica de Mbappé que a cada arrancada faz lembrar Ronaldo Fenómeno, a França entregou o domínio aos argentinos, baixando as suas linhas. Messi voltou a eclipsar-se dada a dependência que a equipa tem do astro. Poucas eram as situações que punham em sobressalto a defesa gaulesa, especialmente porque muito do jogo vinha das alas, com Pavon várias vezes a tentar centrar para ninguém.

Foi com surpresa que o empate chegou a poucos minutos do intervalo, um golo de levantar o estádio de Di Maria, uma bomba de fora da área, sem defesa para Lloris, mas onde o centro do meio-campo francês ficou muito mal na fotografia pois o extremo do PSG teve todo o tempo do mundo para receber, preparar e rematar sem que nenhum dos três médios gauleses aparecesse para impedir ou dificultar o remate.

Se o empate surpreendia, o que dizer do golo da vantagem logo aos 47' do segundo tempo, num remate de Messi que Mercado desviou traindo Lloris que já não conseguiu reagir. Do nada a seleção das Pampas via-se em vantagem com apenas dois remates no alvo.

A França reagiu de imediato e nem foi preciso esperar dez minutos para o empate chegar naquele que foi o melhor golo da tarde, um remate do mais improvável dos marcadores, Pavard, o lateral direito do Estugarda, com a bola toda enrolada e cheia de efeito a entrar no ângulo da baliza de Armani.

Sete minutos depois, nova cambalhota no marcador, desta feita com Mbappé a voltar a assumir o protagonismo ao recolher a bola de um ressalto na área e com uma finta curta a deixar Enzo Perez pregado ao relvado e a atirar de pé esquerdo por baixo de Armani.

Voltava a fazer-se justiça no marcador e mais uma vez Mbappé a ser a estrela maior da França e da partida. E nem quatro minutos depois a Tartaruga Mbappé voltou a parecer o Fenómeno. Se bem que o mais fenomenal foi mesmo o ataque rápido francês que pôs a nú todas as debilidades da defesa alviceleste.

Umtiti meteu a bola no meio-campo, Griezmann tocou de primeira em Matuidi que lançou Giroud. O avançado conduziu e deixou para Mbappé que isolado não perdoou perante Armani. Tudo quase ao primeiro toque num lance que vem nos livros de como atacar.



Foi quase a estocada final para Messi e companhia, que apesar de ver finalmente Sampaoli colocar um avançado, Kun Aguero, não conseguiu criar muitos problemas à defesa francesa. A questão que fica é como foi possível Dybala não ter jogado mais do que meia dúzia de minutos neste Mundial, até porque para o sistema do falso 9 o craque da Juventus teria feito bem melhor o papel que Enzo Perez, mas obviamente nunca daria solução na fase defensiva como o ex-jogador do Benfica.

Aos 93' Aguero ainda conseguiu reduzir de cabeça, à ponta de lança (de facto faz grande diferença colocar os jogadores nas suas posições reais), num centro de excelência de Messi, mas já não havia tempo para mais.

O jogo foi épico, com golos, alternância no marcador, momentos de enorme espectáculo e onde Mbappé deu um passo definitivo para se tornar em mais uma lenda do futebol mundial.

Man of the Match: Kylian Mbappé

quarta-feira, junho 27, 2018

MUNDIAL À LUPA: O Brasil europeu não consegue tirar o Samba do sangue


O Brasil parece ter encontrada a fórmula ideal para o sucesso depois da tragédia do último mundial que organizou. Meia equipa parece proveniente do Velho Continente, do meio-campo para trás. E a outra metade, o meio-campo ofensivo e ataque, parece saída de uma equipa de futebol de rua, com samba, forró e tudo aquilo que faz qualquer pedaço do Brasil vibrar de forma ritmada.

Sem surpresa o escrete confirmou a vitória no grupo ao bater a Sérvia sem grande dificuldade por 2-0. Desde cedo a canarinha mostrou ao que vinha, procurando o golo desde o primeiro minuto, mesmo apesar do duro golpe que sofreu com a lesão de Marcelo logo aos cinco minutos, que pelo que aparentou poderá afastar o melhor lateral-esquerdo do mundo do Rússia 2018.

Apesar de nunca ter tido um ritmo muito elevado e não ter tido uma mão cheia de oportunidades no primeiro tempo, o golo surgiu mesmo aos 36' num passe de génio de Philippe Coutinho que isolou Paulinho, numa combinação dos dois brasileiros do Barcelona, com o médio a dar um toque por cima do guardião sérvio e a abrir o marcador.

A Sérvia apenas incomodou mais à séria a canarinha num espaço de cinco minutos, por altura dos 60', primeiro num disparte de Allison que Thiago Silva salvou quase em cima de linha evitando o golo de Mitrovic, e depois numa jogada de perigo pela esquerda que acabou por não ser aproveitada pelos europeus. 

Isto foi já depois de Stoijkovic ter evitado o segundo de Neymar que se isolou após mais um passe de génio de Coutinho. Esta foi uma luta particular onde o guardião que já jogou no Sporting venceu em toda a linha o astro do PSG, num confronto direto em pelo menos três situações claras de golo para o Brasil.

Aos 68', Thiago Silva na sequência de canto de Neymar fazia o segundo e matava de vez o jogo e as aspirações dos sérvios. Daí até final o Brasil fez um jogo de muitos pormenores técnicos, futebol jogado de pé para pé e aposta em passes nas costas da defesa sérvia. Foram várias as ocasiões para aumentar o score mas já não haveria mais golos.

Com a queda da Alemanha, já não se assistirá ao, tão falado nos últimos dias, confronto com o Brasil que seria a oportunidade de vingança da canarinha aos 7-1 de 2014. Pela frente terá o México mas o estatuto do Brasil sai sem dúvida reforçado, tendo mostrado ser provavelmente o mais consistente de todos os candidatos ao título mundial.

Melhor em campo: Phillipe Coutinho (Paulinho para a FIFA)

MUNDIAL À LUPA: A tradição já não é o que era... já a maldição do campeão do mundo...


E mais uma vez o campeão do mundo ficou pela fase de grupos. A maldição que ataca todos os detentores do título neste século (que encontra no Brasil a única exceção que confirma a regra) voltou a fazer das suas e acabou com a tradição alemã que, jamais na sua história, em 16 presenças, tinha sido eliminada na fase de grupos do Mundial.

Verdade seja dita, o desfecho é mais do que justo. A Alemanha teve uma participação muito má. Depois de ter caído perante o México na estreia, onde os mexicanos fizeram um grande jogo mas que não explica tudo, surgiu uma vitória no último segundo dos descontos contra a Suécia. Ao terceiro jogo, Low claramente não aprendeu com os jogos anteriores e manteve o esquema.

Mudam algumas peças, hoje com o regresso de Ozil e Khedira, por exemplo, mas sempre com Werner sozinho na frente, o que foi gritante nos jogos anteriores que não funcionava e nunca a Mannschaft conseguiu marcar um golo com esta fórmula.

A Coreia do Sul teve sempre uma postura muito defensiva, procurando num erro sair no contra-ataque, apostados na velocidade de ponta dos seus jogadores. Os asiáticos não deram muitos espaços lá atrás e durante quase toda a partida conseguiram evitar sobressaltos de maior ao seu guardião. Apenas numa ou noutra ocasião, saídas de bola a jogar na defesa resultaram em perdas para os alemães que, ainda assim, não conseguiram traduzir em claras oportunidades algum desses lances. E até tiveram a melhor ocasião da primeira parte num livre que Neuer defendeu mal para a frente e por pouco Min Son não conseguiu converter no primeiro.

Sem presença na área, fruto de grande mobilidade de Reus e Werner que constantemente saíam da zona de finalização, Low viu-se obrigado ao óbvio com poucos minutos do segundo tempo, colocar Gomez em campo tirando Khedira. O resultado foi um maior desequilíbrio da equipa, sem grandes resultados em termos ofensivos, e vários calafrios na sua defesa. Min Son e companhia passaram a desfrutar de muitos espaços e puseram a nu em vários lances a falta de velocidade dos alemães, que já tinha sido notória frente ao México.

As substituições de Low foram iguais às das duas partidas anteriores, colocou depois Muller por Goretzka e à entrada dos últimos 10 minutos Brandt por Hector. Só que desta vez o total desequilíbrio tático não resultou (e desta feita com 11 uma vez que com a Suécia os alemães estavam reduzidos a 10). Inversamente, abriu espaço ao descalabro.

É certo que nesta fase de total desespero já tinham surgido algumas chances, finalmente, para os alemães, mas aí surgiu Jo, o guardião coreano que havia brilhado nas anteriores partidas. Também a pontaria alemã voltou a ser pouca, em particular de Hummels que falhou pelo menos três golos de cabeça, um deles completamente sozinho no coração da pequena área, atirando para fora.

Já nos descontos, num canto em que os coreanos poucos homens tinham na área alemã, um erro de Kroos a tentar tirar a bola do alcance de um asiático, endossou-a para Young-Gwon que agradeceu e a um metro da baliza atirou sem hipótese para Neuer.



Sobravam seis minutos de desconto para aquela que seria a remontada mais épica da história do futebol alemão... se se concretizasse. Neuer esqueceu-se que era guarda-redes e foi jogar também na frente de ataque, tipo guarda-redes atacante no futsal. Obviamente o resultado foi uma bola despejada para a frente pela defesa da Coreia do Sul e o supersónico Min Son a correr sozinho em direção à baliza para encostar para o segundo e terminar com as já de si utópicas chances da Mannschaft.

Um desfecho que só surpreende quem não viu a Alemanha jogar no Rússia 2018. Uma equipa sempre muito lenta, pouco objetiva e sem presença na área. A antítese do habitual típico futebol alemão. E não foi por falta de valores nos 23 ao ponto de Leroy Sané, que era quem mais velocidade podia dar ao jogo, ter ficado de fora. O responsável pelo insucesso tem um rosto, o de Joachim Low.

E tivesse o México batido a Suécia e os coreanos até poderiam ter seguido em frente com este resultado. Terminar em último este grupo é algo que jamais um só alemão sonhou.

A maldição mantém-se e quem agora festejar a conquista do troféu Jules Rimet que festeje muito e se prepare, pois as probabilidades de ficar na fase de grupos no Catar 2022 parecem muito altas.

Man of the Match: Hyeon-woo Jo